“Depois do que vimos nos documentos divulgados por Elon Musk, só há uma saída para o ministro Alexandre de Moraes”, disse o senador Rodrigo Pacheco, com um leve tremor na voz. Ele se referia a uma série de e-mails e mensagens informais do ministro para a equipe do Twitter no período pré-Musk, e que deixam clara a intenção do STF de interferir na eleição presidencial e de eliminar qualquer oposição aos desmandos do tribunal.
Foi, de fato, um dia histórico, aquele. Um dia que muitos acharam que jamais chegaria. “Tudo não passa de um blefe”, disse o ministro Luís Roberto Barroso na ocasião. Se bem que, naquela época, o então presidente do STF tinha todos os motivos do mundo para transpirar essa arrogância toda. Afinal, ele tinha a imprensa inteira ao seu lado. Uma imprensa disposta a impor a narrativa falaciosa da “soberania nacional ameaçada” a fim de proteger os ministros do STF e sua versão canastrona de democracia.
Esse, aliás, é o grande problema dos poderosos que se aliam à imprensa - e vice-versa. Até certo ponto, a imprensa os protege, é verdade. Mas esse cordão de isolamento simbólico também os impede de ver o horizonte da realidade. Foi o que aconteceu com Barroso e os agora ex-ministros Cristiano Zanin, Flávio Dino e Dias Toffoli. Eles foram incapazes de se preparar para uma tempestade que simplesmente não viram, tantos eram os bajuladores em seu entorno. E choveu, hein?! Como choveu!
Não foi por falta de aviso. Aqui neste espaço mesmo, perdi a conta dos textos que de alguma forma exortavam os ministros do STF a reconhecerem a fragilidade de seu poder. O próprio Alexandre de Moraes, que agora articula uma saída honrosa (ou menos humilhante) do STF e da vida pública, ilustrou várias colunas que falavam da importância da humildade. Simplesmente porque a gente é humano e erra mesmo, pô. E por isso tem que se colocar sempre numa posição em que o perdão venha fácil. Porque, mais uma vez, a gente é humano e erra mesmo. E, mais cedo ou mais tarde, chega a hora em que só uma coisa nos salva: o perdão.
A melhor das hipóteses
De modo que não me surpreendi quando, ontem, Alexandre de Moraes foi ao Jornal Nacional para ser entrevistado, chorou e pediu perdão a todos os brasileiros. “Eu só queria dar mais democracia ao povo brasileiro”, disse ele. Frase que gerou milhares de memes e a associação óbvia com as palavras ditas por David Luiz depois do famigerado 7 a 1. Mas o perdão não veio. Nem mesmo com a soltura dos presos políticos. Nem mesmo com o reconhecimento do erro. Nem mesmo com as lágrimas.
Hoje mais cedo, Pacheco ignorou o melodrama do ex-todo-poderoso Xandão e anunciou que vai dar prosseguimento ao rito de impeachment do ministro Alexandre de Moraes. Que na última semana foi visto nos corredores do Senado pedindo por favor só mais uma chancezinha, vai? Em vão. Até mesmo ex-aliados como o senador Randolfe Rodrigues bateram com a porta na cara do ministro. Somente o senador Sergio Moro deu a entender que vai votar contra o impeachment de Moraes.
Apesar desse apoio solitário do senador paranaense, tudo indica que o destino de Alexandre de Moraes é, na melhor das hipóteses, o ostracismo. Se a tendência se confirmar, ele será expulso do STF e aposentado compulsoriamente. Mas essa, repito, é a melhor das hipóteses. Porque há quem diga que, uma vez destituído daquela que já foi a toga mais poderosa do país, do mundo, do Universo!, o ministro poderá responder a dezenas ou centenas ou milhares de processos por abuso de autoridade e, no caso dos presos pelo 8/1, até tortura. Uia!
Realmente não é fácil a situação de Alexandre de Moraes que, opa!, péra só um pouquinho!, o que é que tá acontecendo? Ouço fogos de artifício e gritos de felicidade. As pessoas aqui à minha volta se abraçam. Muita correria por aqui também. (...) E atenção! Me chega a informação agora, neste exato instante, de que Alexandre de Moraes renunciou. Isso mesmo. Alexandre de Moraes renunciou ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal. Repetindo: Alexandre de Moraes renunciou. Mais uma vez: Alexandre de Moraes renunciou.
* Este é um texto de ficção e que se passa num futuro próximo. Espero.
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