O comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, bate continência para Lula.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Só observo. No dia 2 de maio, o perfil do Ministério da Defesa no Twitter estufou o peito cheio de medalhas para dizer que as Forças Armadas estavam atuando, e atuando bem, no resgate aos afetados pela enchente no Rio Grande do Sul. “Efetivo ampliado de 335 para 626 militares, 45 viaturas, 12 embarcações, 5 aeronaves”. E se você acha esses números ridículos é porque eles são mesmo. Mas, como disse no comecinho do texto: só observo. E continuo observando.

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Quatro dias mais tarde, o mesmo perfil publicou números atualizados. Agora vai, dois pontos: “3.406 militares, 243 embarcações, 16 aeronaves e 2.500 viaturas e equipamentos de engenharia (civis e militares)”. Tudo isso teria resultado no resgate de 46 mil pessoas. Mas antes que você se empolgue e bata continência para as Forças Armadas, deixe-me falar rapidamente da reação a essas publicações.

As reações ficaram entre a incredulidade e a acusação franca de que as Forças Armadas mentem. “Deixa a água baixar que aí vocês poderão fazer o que fazem de melhor: pintar meios-fios”, escreveu alguém e eu ri. “Mostre os vídeos”, pediram muitos, desconfiando dos números inflados. “Se fosse verdade eu daria os parabéns ao general Xandão”, disse outro e eu ri de novo. Mas sou um bobo-alegre e rio de qualquer coisa mesmo. Desculpe, ministro Múcio.

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De volta ao doce ofício de observar, noto que os poucos comentários elogiosos à atuação das Forças Armadas vêm da esquerda estatólatra, para a qual os números oficiais valem mais do que a realidade – em qualquer situação. “Mas quando foi que a esquerda, eterna viúva dos porões da ditadura militar, começou a defender, apoiar e idolatrar as Forças Armadas?”, pergunto um tanto quanto debilmente ao observar esse até então improvável caso de amor. A pergunta é retórica, claro.

Vida mansa a soldo gordo

E pensar que durante muito tempo as Forças Armadas foram a instituição mais amada, idolatrada, salve!, salve! desta República fundada por marechais. Uma República cuja história foi marcada pelo tenentismo, lá nas décadas de 1920 e 1930, e pela ditadura/regime militar de 1964 a 1985 – período que a esquerda considera sua versão particular de nazismo, como já escreveu muito bem alguém.

Apesar da intensa campanha de difamação dos militares nas últimas décadas, as Forças Armadas sempre contaram com a admiração, ora discreta, ora exacerbada, daqueles que viam na instituição uma garantia natural da lei e da ordem. E não estou falando de golpe de Estado nem nada. Estou falando de uma confiança que fazia parte do imaginário. Aliás, outro dia revi “Os Trapalhões em Serra Pelada” e adivinha quem salva nossos heróis e a riqueza nacional? Sim, o outrora glorioso Exército de Caxias.

Mas aí veio aquele episódio que no livro de história que jamais escreverei será chamado de A Grande Perfídia – quando militares prenderam até crianças e idosos que se manifestavam pacificamente diante de um quartel. Aí vieram a submissão ao ex-presidiário-em-chefe, a continência para Maduro, o “não existe comunismo no Brasil” do presidente do STM e, mais recentemente, a rendição aos instintos autoritários de Alexandre de Moraes.

Deu no que deu: a despeito daqueles que ainda honram a farda (sim, eles existem!), as Forças Armadas são hoje sinônimo de vida mansa a soldo gordo, de saudosismo, de alguma-coisa-a-ver-com-positivismo, de incompetência e derrota certa numa eventual guerra. Em suma, de desonra – que é o que de pior poderia acontecer às Forças Armadas de um país. Aí você arregala os olhos e eu pergunto: por que esse seu espanto agora? Não é assim com tudo o que a esquerda toca? Veja o que aconteceu com a autoridade moral do cargo de Presidente. Veja o que aconteceu com o Supremo Tribunal Federal.

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