Simplesmente um luxo o desfile de carros em frente ao Espaço Bisutti, local escolhido para o casamento de Lula e Janja, codinome Rosângela. A fina flor da sociedade esquerdista abandonou os carros de luxo e chegou equilibrando seus ternos Armani e vestidos Chanel em bicicletas, em carros populares e até num simpático pau-de-arara que um dos noivos colocou à disposição daqueles que queriam sentir “o verdadeiro gostinho da miséria”.
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Registrando o taPT vermelho deste dia especial havia uma equipe da sempre elegante cineasta Petra Costa.
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No portão, os convidados (entre eles euzinho) éramos recebidos pelo simpático e prestativo Zicão. Que, em troca de um cafezinho, se apiedou do fato de meu cachorro (um Lulu da Pomerânia chamado Fidel) ter comido o convite e me deixou entrar. “E o senhor ainda por cima é colunista social! Se é social é dos nossos!”, disse ele.
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A elegância de Zicão ao embolsar meu lobo-guará deu o tom da festa que durou nove horas e nas quais foram consumidas toneladas de alimentos produzidos nos assentamentos do MST, bem como hectolitros do mais fino néctar das Highlands escocesas.
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Janja, a noiva e futura primeira-dama do Brasil (de acordo com pesquisas encomendadas por um dos convivas), adentrou o recinto como se debutasse na sociedade esquerdista. Ao som do jingle “Lulalá”, magistralmente interpretado por Pabblo Vittar, ela desfilou por entre as mesas, despertando a inveja branca das distintas senhoras presentes às núpcias.
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O deputado Marcelo Freixo me cutucou aqui para avisar que "inveja branca" é um termo racista.
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Janja optou pelo tradicional vestido branco, sugerindo aquela pureza que habita o coração de todo revolucionário. Ele foi confeccionado pelo coletivo feminista Trabalhadoras Proletárias Maoístas (TPM).
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A noiva estava linda – tanto quanto possível. Mas o centro das atenções era realmente Lula. Incrível o magnetismo desse homem!
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O noivo, nervoso como se esse não fosse seu terceiro casamento, reluzia sob os incessantes flashes do menestrel Ricardo Stuckert. Desta vez, porém, nada de relógio caro no pulso esquerdo. Por conselho de seus marqueteiros, Lula optou por concentrar os itens de valor na mão direita.
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Como já estou meio altinho depois de algumas taças de Cave Geisse Brut, esqueci de mencionar que Lula chegou no Fusca 66 que ele mesmo montou sozinho e no qual perdeu o dedo durante uma troca de pneus enquanto fugia da Ditadura Militar. Pelo menos foi o que entendi de uma conversa entre dois ex-guerrilheiros do Araguaia que não paravam de cantar “Valeu a pena, ê, ê/ Valeu a pena, ê, ê”.
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Êta espumante bom!
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Na mesa dos economistas da Unicamp, testemunhei um debate acalorado sobre congelamento de preços. De boca cheia, um dos convidados, cotado para ser ministro da Fazenda num futuro 3º mandato de Lula, sugeriu confiscar a poupança. “Mas dessa vez vai dar certo!”, disse ele, para a diversão de todos.
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Ora, ora, mas quem é que vejo lá? Ah, não, esquece. Achei ter visto dois ministros do STF, mas deve ter sido um engano. Jantar com o presidente do Senado é uma coisa; estar presente ao casamento do ex-chefe é outra completamente diferente. Aliás, melhor apagar isso.
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Na hora de assinar os papéis, Janja usou uma Montblanc Meisterstück Firenze, enquanto Lula optou pelo bom, velho, infalível, barato e eficiente polegar. Todes aplaudiram.
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Lula e Janja trocaram alianças, mas não vi porque estava no banheiro.
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Novato na alta sociedade esquerdista, Geraldo Alckmin, novo parça de Lula, parecia um tanto deslocado, sem saber se protegia a carteira ou se se deixava expropriar alegremente pela nata do proletariado que o cercava.
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O bolo, em forma de estrela, ocupava o centro do salão. Quando Janja foi cortá-lo, os convidados ficaram tensos diante da possibilidade de Rosemary Noronha surgir de dentro do confeito. O primeiro pedaço do bolo foi dado a José Dirceu, que usava uma máscara de Chico Buarque para não ser reconhecido, mas nossa equipe de jornalismo investigativo foi mais esperta.
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Na hora de cortar a gravata do noivo, um problema: a rede do Espaço Bisutti (que em italiano significa “Abaixo o Capitalismo!”) não suportou o tráfego de dados e os convidados não puderam acessar suas contas na Suíça. Uma pena.
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Já no fim da festa, Guilherme Boulos se recusava a ir para casa. “Ocupar, resistir, subverter!”, gritava ele embaixo da mesa reservada à oposição consciente do PSOL.
* Athayde Petreyze é colunista social, historiador, físico nuclear e coach comunista. Seu livro “Como Beber Vinho Sem Erguer o Mindinho – Um Guia de Etiqueta para a Esquerda Bem-Sucedida”, com prefácio de Dilma Rousseff, lhe rendeu dois kikitos, cinco jabutis e quase o Nobel.
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