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Reza a lenda que, em 1976, quando a Ditadura Militar já dava sinais de enfraquecimento, esquerdistas sofriam no exílio europeu. Entre eles, o dramaturgo Augusto Boal, que aproveitava a brisa atlântica na Lisboa pós-Salazar. Sem muito o que fazer a não ser fomentar a utopia socialista em sua imaginação, Boal teria reclamado do silêncio dos amigos. Entre eles, Chico Buarque – que, acredito, dispensa maiores apresentações biográficas e ideológicas.
“Pode deixar comigo!”, teria dito Chico Buarque, que na época usava aquele bigodinho fino de personagem nelsonrodrigueano. Ele chamou o parceiro Francis Hime e, juntos, compuseram “Meu Caro Amigo”. O chorinho é uma carta musicada que usa a expressão politicamente incorreta “a coisa aqui tá preta” para falar da situação do país.
A lenda, sempre a lenda, diz ainda que a música-carta foi recebida durante um almoço em que estavam presentes Darcy Ribeiro e Paulo Freire – aquele. Boal teria sentido suas esperanças renovadas. De Darcy Ribeiro se desconhece a opinião. E Paulo Freire... Bom, duvido que Paulo Freire tenha entendido patavinas da música. Que, de acordo com Wagner Homem em “Histórias de Canções: Chico Buarque”, é “uma das mais importantes obras criticando a ditadura de todos os tempos (sic) no Brasil”.
Pensando nisso, e tendo diante de mim a ditadura velada de um STF ideologicamente comprometido, escrevi uma paródia de “Meu Caro Amigo” (clique no link para conhecer a música). Pegue seu cavaquinho, sua flauta transversal, seu bandolim e seu pandeiro e me acompanhe ao longo dos versos abaixo.
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Pelo estilo desta escrita
É que agora também temos ditador
Se eu contar tu não acredita
Tem um juiz que tá agindo feito um troll
Pra aguentar só tomando omeprazol
Parece até filiado ao PSOL
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Se der na venta ele te manda pra prisão
Até o Sérgio Reis já foi alvo da desgraça
Cuidado com o careca, ainda mais se for reaça
Ele pede tua extradição
Meu caro amigo aqui pretendo exagerar
Pra defender a liberdade
Mas se o Xande decidir me censurar
Será uma baita crueldade
Tem um juiz que tá agindo feito um troll
Pra aguentar só tomando omeprazol
Parece até filiado ao PSOL
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Tá na cara que virou perseguição
E a gente vai aceitando mais esse ato bizarro
Jogar nas quatro linhas só repete o Bolsonaro
Quero só ver a eleição
Meu caro amigo eu quis um áudio lhe mandar
Pra lhe contar desta bagaça
Mas Chico Buarque preferi parodiar
Pra me livrar dessa mordaça
Tem um juiz que tá agindo feito um troll
Pra aguentar só tomando omeprazol
Parece até filiado ao PSOL
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Suprema Corte que age como oposição
O Xande é quem manda, o Senado tá quietinho
A esquerda quer calar, não aguenta um memezinho
O pleito quer levar na mão
Meu caro amigo não vá me repreender
Se nestas rimas me arrisco
Já decidi, não vou me submeter
Aos desmandos do trubisco
Tem um juiz que tá agindo feito um troll
Pra aguentar só tomando omeprazol
Parece até filiado ao PSOL
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Daniele manda um beijo para os seus
E vê se não desiste, não perde essa esperança
O Jones aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus