Hoje foi difícil escolher o assunto da coluna. Será que eu falo sobre a confissão do sem-vergonha Lula, que sem vergonha nenhuma se assumiu comunista? (Finalmente, né?!). Ou será que falo sobre a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro – sinal de que o Judiciário já perdeu o bom senso e agora milita desavergonhadamente? Como meus amigos da nobilíssima editoria Ideias já trataram de expor o lado patético e assustador da fala de Lula, optei por tratar de Bolsonaro.
Se fiz uma boa escolha? Ainda não sei dizer. Primeiro porque o texto está só no comecinho. Depois porque discutir as consequências da inelegibilidade de Bolsonaro é arriscado. Algo me diz que alienarei parte da plateia ao assumir um lado e a fazer certos pressupostos. Mas paciência! Mesmo sabendo que o diálogo está em baixa e que todas as palavras são lidas com uma ênfase violenta nunca intencional por parte do autor, decidi contar com a generosidade dos que discordarem de mim. Veremos.
Pois a esta altura você já sabe que o TSE tornou Bolsonaro inelegível até o distante ano de 2030. Se bem que meu leitor e espectador assíduo já sabe disso desde o dia 7 de junho. Mas isso não vem ao caso. Bolsonaro já avisou que vai recorrer ao STF. Faz-me rir, né? Uma vez estabelecido o fato, aqui é que começam as querelas. Porque tem muita gente de direita e até bolsonarista que está celebrando a decisão do TSE. Para eles, Bolsonaro só tem a ganhar com a inelegibilidade.
Politicamente, discordo. Porque essas pessoas partem de um pressuposto até admirável, mas ingênuo: o de que a injustiça nesse caso é tão evidente que Jair Bolsonaro será capaz de eleger qualquer um que se associar a ele. Outra vertente dessa mesma ideia sorri de orelha e orelha, depositando todas as suas esperanças em Michelle Bolsonaro. Mas esses dois castelinhos de cartas eu desmonto com uma brisa: quem garante que haverá eleições em 2026? Por sinal, acabei de perceber aqui outra contradição da turma do “fica frio que em 2026 a gente volta”: quem não acredita na lisura das eleições de ontem e hoje, por que acreditaria nas eleições de amanhã?
Aula de botânica
Sempre posso estar enganado, claro, mas me parece que a única direita que poderá concorrer nas próximas eleições presidenciais, nem que seja como um desses figurantes deslumbrados que se consideram protagonista, será a “direita permitida”. Talvez um enfraquecido PSDB ou um minúsculo NOVO. E essa direita permitida, sabemos, não faz nem cosquinhas no monstro que controla o Sistema. Será interessante, mas também triste, ver essas esperanças novamente canalizadas para o nada.
Pareço pessimista? Bati a cabeça? Usei drogas? Nada disso. É que acredito que o trabalho dessa tal direita é um esforço de longo prazo. Talvez longuíssimo para muita gente que quer a imposição de sua vontade para ontem. Isso não vai acontecer. Antes, é preciso ocupar espaços - sobretudo na cultura. Resgatar, de alguma forma, o Judiciário. Impor-se nas universidades. Fomentar a ideia da virtude como missão. Meu lado otimista, portanto, está em tentar subir num mirante para avistar a paisagem daqui a vinte ou trinta anos. A mentalidade de toda uma geração não muda assim, num vapt-vupt.
E neste momento você talvez esteja indignado aí. Espero que não, mas, se estiver, me desculpe. Porque o que escrevi no parágrafo anterior pressupõe muito sofrimento. Eu sei. Pressupõe também – e isso é bem difícil de engolir – um trabalho cujos frutos serão colhidos apenas por nossos filhos e netos. Até lá, alguns de nós aqui já teremos voltado ao pó [BATE NA MADEIRA]. Mas é a tal coisa. A gente planta a árvore hoje para ter sombra daqui a décadas. Enquanto isso, é regar, esperar que a semente germine - e admirar o brotinho.
Agora, se for para analisar assim rápida e superficialmente o ser humano Jair Bolsonaro, aquele que respira sob algumas camadas de personagem, diria que a inelegibilidade é uma ótima notícia para ele. Porque tenho a impressão de que Bolsonaro não é frouxo, como alguns insistem em dizer; ele apenas não estava à vontade como presidente. Ele encarava o cargo como um sacrifício – que, aliás, é como deve ser encarado. Daí é que vem boa parte da popularidade de Bolsonaro. Só espero que agora, atuando nos bastidores, sem o peso de uma corrida eleitoral sobre os ombros e com a sensação de ter pelo menos tentado, ele encontre algo parecido com a paz.
STF e governistas intensificam ataques para desgastar Tarcísio como rival de Lula em 2026
Governo e estatais patrocinam evento que ataca agronegócio como “modelo da morte”
Pacote fiscal pífio leva Copom a adotar o torniquete monetário
Por que o grupo de advogados de esquerda Prerrogativas fez festa para adular Janja
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS