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E lá vou eu defender o ex-presidente Jair Bolsonaro. Fazer o que, se a esquerda autoritária me obriga? Acabei de ver, por exemplo, Ricardo Noblat dizendo que a Folha de S. Paulo, jornal que no domingo (10) abrigou um artigo “escrito” pelo ex-presidente, deve explicações ao seu leitor por “normalizar um líder autoritário”. Ricardo Kotscho foi outro esquerdista superdemocrático que subiu nas tamancas para reclamar do texto, intitulado “Aceitem a democracia”. Pois é. Também acho que ficou faltando um “talquei” aí.
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Ataque de pelanca
Aliás, o ataque de pelanca do militante veterano é tão histérico que chega a ser engraçado. Kotscho, incapaz de atender ao apelo do ex-presidente e, ora bolas!, aceitar a democracia, diz que o simples fato de Bolsonaro ser publicado pela progressista Folha é “um golpe no estômago”. Note que eterno assessor de imprensa de Lula achou por bem substituir “soco” por “golpe”. Inteligente, né?
Rivotril
“É”, você diz. Mas você só diz isso porque não leu o primeiro parágrafo da réplica esquentadinha de Kotscho. Acompanhe comigo: “Ao longo de minha carreira como jornalista [carteirada], um ensinamento simples [falsa humildade], mas profundo [tapa na testa] (...) sempre me guiou: “tem coisa que pode e tem coisa que não pode” [oh, God!]. Na mesma linha, Gleisi Hoffman disse que ler o artigo de Bolsonaro sobre democracia é “parecido com ler artigo de um assassino defendendo o direito à vida”. Alguém dê um Rivotril para essa senhora, por favor!
Mais um milagre de Bolsonaro
Ao ler isso, pensei: taí mais um milagre de Bolsonaro. Porque só mesmo o ex-presidente para fazer uma petista defender o direito à vida (desde a concepção, espero) e tratar assassino como criminoso, e não vítima da sociedade, na mesma frase. Aliás, aí está um primeiro efeito positivo do artigo que a gente sabe que foi escrito por um ghost writer, mas vamos fingir que foi pelo Bolsonaro, talquei? Não foi o único. Outro efeito positivo que me ocorre está no escancaramento (mais uma vez) do caráter autoritário da esquerda. Se bem que desse já estou careca de saber. E tem um que merece um parágrafo só para si.
Convite
Me refiro à tentativa, evidentemente calculada, de estabelecer um diálogo com o leitor da Folha de S. Paulo. E justamente no momento em que parte da direita, empolgada com a vitória de Donald Trump, já começa a ter delírios de vingança. Eis aqui o que há de mais admirável (sim, admirável) no artigo de Bolsonaro: ele é um convite para que a esquerda perceba sua mais profunda incoerência. Se alguém aceitará o convite e se, em aceitando e percebendo a incoerência, mudará de lado ou pelo menos reconhecerá o pendor totalitário do progressismo, isso já é querer saber demais.
Provocação
E é aqui que entra a provocação do título: como vocês, leitores deste conceituado jornal, agiriam se Lula publicasse um artigo na Gazeta do Povo? O tema? Sei lá. Pode ser desde “Minhas férias ao lado de Janja” até uma defesa das punições do STF aos coitados do 8/1 . Não precisa nem ser um artigo; pode ser uma crônica na qual o ghost writer derrame todo o seu talento literário. Só não pode ser poema porque para tudo existe um limite nesta vida.
Ideias opostas
De volta à questão, porém, e pressupondo que o texto assinado por Lula e generosamente publicado pela editoria de Opinião tivesse algum valor: será que os leitores se revoltariam? Haveria um cancelamento em massa de assinaturas? Será que os leitores leriam o texto antes de comentar? E as refutações seriam educadas ou furiosíssimas? Por fim, será que nós, da direita, estamos mesmo dispostos a aceitar a mera possibilidade de que nossos adversários, por mais repugnantes que sejam eles, expressem ideias opostas às nossas?
Ideias ou personagens
Respondendo à minha própria pergunta: não sei se o problema tem mais a ver com o choque de ideias antagônicas ou com os personagens envolvidos. Tendo a imaginar, portanto, uma reação muito mais intolerante a um ponto de vista de esquerda defendido por Lula do que ao mesmo ponto de vista defendido por uma personalidade menos caricata. De qualquer modo, nem sei se posso convidar, mas se puder fica registrado o convite ao presidente Lula.