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BOMBA STF
Segura que lá vem bomba: ato tresloucado em frente ao STF servirá de pretexto para que o regime aumente a repressão.| Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Levei até um susto ao ver que meu texto de segunda (11), intitulado “Ecos da vitória de Trump: sobre o amor desmedido e pervertido pela política”, foi um retumbante fracasso de audiência e repercussão. Mas tudo bem. Bola pra frente até ela sair pela linha de fundo, pensei. Os dias se sucederam. Até que na noite de quarta (13), um homem jogou uma bomba (ou duas bombas, ou fogos de artifício, sei lá) em frente ao STF. Viu? Não disse?, pensei alto e só a Catota, que deve ter poderes telepáticos, ouviu

Isso & aquilo

Não que eu estivesse feliz com o ato tresloucado de Francisco Wanderley Luiz. Muito menos com a minha suposta razão ao dizer que tem muita gente usando a política para preencher um vácuo em sua vida. Pelo contrário! Tanto isso quanto aquilo são lamentáveis. Primeiro porque o STF vai usar o gesto alucinado de um infeliz para aumentar a repressão. Afinal, os ministros consideram todo mundo de direita (o que quer que signifique isso), inclusive você, uma ameaça em potencial.

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Desconsolo

E depois porque estar com a razão pode até me envaidecer por uns cinco minutos. Mas logo dá lugar ao que, na falta de palavra melhor, vou chamar aqui de desconsolo. Afinal, basta sugerir ao leitor que ele cultive uma vida interior rica em caridade ou que ele ignore a política por uns instantes, e simplesmente agradeça pelo ar que enche seus pulmões, para ser xingado. Ou pior: ignorado.

Dúvida sem resposta

Insisto, porém, no erro. E por isso nesta carta reforço o conselho. Não, não é um conselho. Quem sou eu para dar conselhos? Está mais para uma proposta de reflexão. Uma dúvida sem resposta: no seu coração, a política está ocupando o lugar do quê? E aqui eu bem poderia expandir essa reflexão e propor um sonoro porquê. Mas vou deixar quieto. Não sei nem se eu estou preparado para essa conversa.

Ignore

De qualquer modo, vou encerrar esta carta mais curta do que o normal (sempre digo isso e nunca é) para pedir que você ignore por um instante as possíveis consequências políticas do que já está sendo chamado de “atentado terrorista motivado por discurso de ódio”. Por favor, ignore. E, já que está ignorando isso, ignore também os oportunistas e até mesmo os analistas sérios e bem-intencionados.

Um Chico

E pense no drama que Francisco, um Chico como tantos outros, vivia. No que ele sofreu por deixar a política tomar conta de sua vida. Por se ver como mártir e por acreditar numa versão diabolicamente mundana da Salvação. Pense no orgulho que leva uma pessoa a achar que sua morte fará com que os ventos ideológicos soprem na direção “certa”. Um orgulho que, não por acaso, muito se assemelha ao daqueles que acham que suas canetadas “recivilizarão” o Brasil.

Coringa

Pense mais, pense fundo, pense na pessoa. No indivíduo. Imagine a dor que ele sentia ao abrir as redes sociais e, cego para as coisas boas da vida, se ver impotente diante de tanta maldade. Use todas as suas referências, inclusive a do Coringa do filme, para se pôr no lugar desse  outro e tentar, só tentar, compreender o que leva alguém a abdicar da vida para entrar para a história. Ou melhor, para um rodapezinho da história.

Constante

E, se possível, note a constante invisível nesse e em todos os outros casos de violência política, como o do homem que sequestrou um avião para jogá-lo sobre Sarney; ou do sujeito que se imolou na mesma Praça dos Três Poderes em protesto contra Dilma; ou ainda do petecídio em Foz do Iguaçu; ou da facada em Bolsonaro; ou do caso recente de um homem que matou a família e se matou, supostamente por causa da vitória de Trump. Estou falando dele: o medo.

Não tenha medo!

Não por acaso, a exortação “não tenha medo, pô” aparece centenas de vezes na Bíblia (sem o “pô”, claro) tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Mas a gente insiste em não ouvir. Em não confiar. E se desespera e, quando vê, está jogando a vida fora. E por causo di quê? Por medo de umas figuras patéticas e transitórias, cujo poder mastodôntico e insaciável se alimenta justamente do nosso... medo. Veja só.

Aquele abraço do
Paulo

[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].

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