Alexandre de Moraes me venceu pelo cansaço.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Cansei. Simplesmente cansei. Nos últimos anos, desde que o sujeito se atreveu a bancar o tirano, escrevi mais de cem textos sobre ele. Uns sérios, outros nem tanto e alguns muito menos. Uns indignados e outros esperançosos de que ele se converta ou peça perdão ou simplesmente perceba que dessa árvore envenenada só cairão frutos igualmente envenenados – para usar a ótima imagem do Roberto Motta.

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E para quê? Para registrar – tá certo. Ou melhor, para transformar em crônica heroica o noticiário de cada dia. Oquei e me orgulho dessa paráfrase de S. Josemaría. Mas nos últimos dias tem me incomodado profundamente a onipresença do sujeito. Nas manchetes do jornais, nas revoltantes imagens da TV, na boca dos puxa-sacos e nos memes. E principalmente na minha imaginação.

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Cansei e, no mais, é dessa atenção que o adversário se alimenta. Além disso, você há de concordar: não é justo. Nem comigo nem com você, leitor. Não é justo que um ser tão mequetrefe polua nossos pensamentos e desperte nossos instintos mais deploráveis, nos desviando, assim, do caminho da bondade. Cansei de desejar o mal e de cultivar sonhos de vingança.

Vilão

E tem mais! A ubiquidade do vilão absoluto nos impede de prestarmos atenção aos demais personagens dessa farsa. É como se todos fossem iguais àquele que não adianta, não vou citar o nome dele na crônica de hoje e se meu editor mencionar no título vai se ver comigo! Não são iguais, evidentemente. Há vilões menos caricatos, com os quais dá até para aprender alguma coisa. Nem que seja aprender a não ser vilão.

Desejo mimético

Porque me ocorre agora também isto: o sujeito desperta nos outros o tal do desejo mimético. E, de vilania em vilania, vai criando para si uma imagem a ser reproduzida pelos vilões em potencial. Aqueles que a gente ignora, mas que lotam as instituições e os bancos das faculdades de direito, e que infelizmente são a promessa de continuidade do autoritarismo pseudoesclarecido que nos oprime hoje.

Se? Quando!

Agora, pedindo desde já desculpas tanto pelo desabafo quanto pela incoerência, é claro que não vou poder ignorar o dito-cujo se amanhã ou depois... Se. Hahaha. A quem estou querendo enganar? Até parece que é uma questão de “se”. É uma questão de quando ele cometer outro desatino digno de nota. O que mudou, pois, foi justamente esse “digno de nota”. Se for para o bem da Nação e a felicidade, digo a todos que não vai ser mais qualquer soberbazinha ou impetozinho autoritário a me fazer desperdiçar as belas letras com o elemento.

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É isso aí, pessoal!

Dito isso, convém admirar a persistência de alguns colegas, como Rodrigo Constantino, J. R. Guzzo e Deltan Dallagnol, aqui na Gazeta do Povo, e André Marsiglia, alhures. É isso aí, pessoal! Continuem assim! Queria, como eles, acreditar que água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Mas hoje aquela toga parece impermeável e à prova de qualquer bom senso. O que me obriga a conceder: trata-se mesmo de um psicopata, como vocês não se cansam de dizer e eu cansei de refutar.

Showzinho macabro

Por isso só me resta hoje dizer que cansei como nunca tinha cansado antes e por isso vou dar um tempo. Preciso procurar novos ângulos, novos cenários e novos personagens – ou recuperar personagens que andam esquecidos e que, por isso mesmo, na surdina, perpetram horrores enquanto o fulano lá insiste em seu showzinho macabro. Não vou desistir. Mas, por ora, cansei.

Mas não me canso de te mandar um abraço. Isso, nunca.

Paulo.

[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].

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