O técnico Dorival Jr sai de campo ao lado de um jogador brasileiro qualquer depois da eliminação da seleção na Copa América.| Foto: EFE/EPA/Allison Dinner
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Duas coisas: crise de autoridade e falência das instituições. Pronto. Para você que anda reclamando do tamanho dos meus textos, aí estão as duas coisas que o caso das joias sauditas e eliminação da seleção brasileira na Copa América têm em comum. Obrigado pela leitura.

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Tô brincando. Jamais faria uma coisa dessas e, no mais, confesso que também sinto falta de alguma limitação aos meus textos. Algo que me obrigue a ser mais criativo e sucinto. Pensarei em alguma coisa nesse sentido para depois das férias. Enquanto isso, por favor, deixe-me explicar esses dois sintomas da crise profunda pela qual passam o país e sua antes querida seleção de futebol.

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Primeiro, a falência das instituições. No caso das joias sauditas que podem servir de pretexto para prender Bolsonaro, a primeira instituição a falhar fomos nós, da imprensa. Nós que, viciados num denuncismo pouco virtuoso, abdicamos da busca pela verdade e a trocamos pelo prazer de ver o inimigo ideológico destruído. Porque, se você for parar para pensar, nem que seja por um mísero segundinho, nessa história toda não há uma única vítima para justificar a “gravíssima” denúncia.

Denúncia que agora descambou para um indiciamento formal do ex-presidente e de várias pessoas próximas. Parte da imprensa se regozija. Fala-se em pena de 10 a 32 anos de prisão para Bolsonaro. Como se ele tivesse esquartejado uma pessoa. Como se as joias fossem assim um Mensalão ou Petrolão. Mas o texto já está ficando longo e ainda falta falar das outras instituições falidas, entre elas a Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal.

Se bem que não é novidade para ninguém. Até porque... o que esperar de uma Policia Federal comandada por ninguém menos do que o ex-chefe de segurança da campanha de Lula? E o que esperar de um STF obcecado em defender não a Democracia, e sim uma democracia que lhe é conveniente?

Tem ainda outras instituições, como a PGR e a própria Presidência da República, mas o texto já está grande demais e eu ainda nem falei da falência da seleção brasileira de futebol. Que faliu enquanto instituição esportiva e cultural, capaz de unir o país em torno de qualquer coisa remotamente parecida com um objetivo comum – como o de comemorar uma vitória ou então se divertir assistindo a um jogo de futebol.

Nem para o tradicional circo a nos distrair das mazelas cotidianas a seleção presta.

Crise de autoridade

Antes da cobrança de pênaltis contra o Uruguai, os jogadores da seleção fizeram uma roda que excluiu o técnico do time, Dorival Jr. Como se eles, meninos mimados e inexperientes, não tivessem nada a ganhar com as palavras e instruções daquele que, na teoria, seria o comandante do time: o treinador.

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A imagem foi deprimente, mas também foi útil porque agora posso falar desse fenômeno que observo em todas as esferas da vida privada e pública. No STF e na Presidência, claro, mas também nas empresas privadas, nas escolas e nas associações de classe. Até na Igreja! Estou falando da crise de autoridade, que tem a ver com a crise de homens santos de que falava S. Josemaría Escrivá.

Da mesma forma que os jogadores da seleção não respeitam o treinador, a gente não respeita os ministros do STF. Muito menos o Presidente da República. Lideranças empresariais? Até parece. Nem chefes, nem professores. Sabe aquele cara que antes era referência na medicina, na economia, no direito, na engenharia? Ele desapareceu, afogado num lodaçal de desconfiança.

O assunto é fascinante, mas complexo demais para ser devidamente explorado nesses poucos parágrafos. Por isso fico por aqui, não sem antes de dizer que, se os homens santos e de autoridade estão em falta é também porque poucos estamos dispostos a ouvir e a respeitar as autoridades, sejam elas políticas, empresariais, intelectuais, artísticas ou religiosas. Este é um dos lados da moeda: a epidemia de soberba e de rebeldia.

E como isso se relaciona ao caso das joias? Elementar, meu caro leitor: é que nenhuma das instituições já mencionadas neste texto longo demais é chefiada ou presidida por pessoas de autoridade moral inquestionável. É por isso que o indiciamento de Bolsonaro gera mais indignação do que aquela sensação boa de que há alguma Justiça está sendo feita. Não há. Eu sei, você sabe e até o petista que está lendo este texto por sobre seu ombro sabe.