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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Violência

Chamar bandidos de animais é tirar deles a responsabilidade por suas vidas – e mortes

Armas e drogas apreendidas por operação policial: bandidos optam por uma vida intensa, mas curta. (Foto: Reprodução/ Twitter)

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Sempre que operações policiais resultam na morte de bandidos, acompanho com apreensão as reações dos que veem os mortos como vítimas da sociedade, do genocídio negro e da opressão policial, e os que celebram o cancelamento de CPFs e exaltam o poder “purificador” da violência capaz de nos livrar desses animais.

A desonestidade intelectual da esquerda é, de fato, revoltante. Ela usa estatísticas questionáveis e pressupostos mais questionáveis ainda para criar um mundo maniqueísta onde os bandidos de repente são vistos como mocinhos e os mocinhos são vistos como bandidos. É uma inversão de valores na qual o bandido é inerentemente bom, mas de alguma forma acaba corrompido pela vítima. Realmente não dá para aceitar um raciocínio desses.

É essa inversão de valores que, desconsiderando o caráter naturalmente perverso do nosso tempo, explica a celebração das mortes e o veredito fatídico que sempre é evocado nessas ocasiões: os bandidos não eram seres humanos, e sim animais. Na condição de animais, portanto, a eles não se aplicariam valores (como o da dignidade humana) muito importantes para a nossa velha e boa civilização judaico-cristã. Essa que, tenho certeza, você não quer ver destruída.

Serão de fato estes 25 CPFs recém-cancelados e tantos outros bandidos, muitos dos quais vivos e soltos, animais - ou, pior, meros CPFs?! Do Bandido da Luz Vermelha a Champinha, passando por Suzane von Richthofen e o estelionatário que outro dia deu um golpe num parente, não se pode negar o caráter primitivo, animalesco mesmo, que leva essas pessoas, esses seres humanos (!), a optarem pela bandidagem. Por algum motivo, parece que algumas pessoas têm mais dificuldade do que as outras para conter seus instintos animais.

Por que não somos assim?

E, já que você chegou até aqui, talvez seja uma boa hora para evocar a pergunta que sempre passa em nossa cabeça quando nos deparamos com a bandidagem, seja por meio do pivete que nos aponta uma arma na praça ou por meio do noticiário que chafurda no mundo-cão: por que não somos assim?

Por que nós, independentemente da classe social, nível de escolaridade, religião, orientação sexual, raça e preferência política, optamos por uma vida honesta, de trabalho duro, sofrimento e postergação dos prazeres, enquanto tantos outros optam pela ilegalidade, vadiagem e hedonismo? E agora a pergunta mais incômoda, para a qual não tenho resposta:  será que não há uma contradição no fato de nós, pessoas honestas e “de bem”, considerarmos os bandidos animais?

Afinal, é disso que se trata a discussão recente sobre a morte dessas 25 pessoas ligadas a facções criminosas, isto é, bandidos: escolhas. Escolhas mais do que menos racionais. Escolhas humanas – até porque animais são movidos pelo instinto e, portanto, não são livres para, diante da presa, optar por não matá-la ou, diante da fêmea, optar por não possuí-la. Não, os bandidos não são vítimas da sociedade capitalista ou coisa que o valha; eles são produto (e não vítimas!) de um livre-arbítrio exercido sem qualquer aspiração maior.

Um menino que opta por empunhar uma arma a fim de proteger a organização criminosa de uma investida policial está fazendo uma escolha. Ele sabe que, na condição de bandido (condição fruto de uma escolha anterior), é muito provável que acabe morrendo. Se não em confronto com a polícia, na própria luta interna do tráfico ou na selvageria que impera numa cadeia. O que o leva, então, a ainda assim ver na bandidagem uma saída melhor do que a vida honesta e dura de um trabalhador assalariado? O que almeja essa pessoa?

Exame de consciência

Não tenho condições de responder por você (ou você ou você). Só posso falar por mim. E, se faço um exame de consciência rapidinho, percebo que tive a sorte de ser criado sob um guarda-chuva de bons valores morais. Alguns deles (mais do que gostaria) eu traí ao longo da vida. Pois é. Também eu já exerci mal meu livre-arbítrio. Também eu já fiz escolhas erradas. Erradíssimas! Mas nem por isso perdi minha condição intrinsecamente humana, vocacionada não para a miséria em todas as suas manifestações, e sim para a excelência.

E, como hoje estou mais cheio de perguntas do que o normal, aqui vai mais uma: por que e quando a sociedade abandonou a busca pela notoriedade que se alcança por meio do mérito e a santidade que se alcança por meio da virtude, substituindo-as pela fama que se alcança por meio do erro, da ixperteza, mermão e da ostentação de bens de consumo que vão desde um tênis até um falso humanismo nas redes sociais?

Não, os bandidos não são vítimas de nada. Nem animais. São, isto sim, almas perdidas para uma noção torta, muito torta, tortíssima de felicidade. São seres humanos que, voluntariamente, abdicaram de sua dignidade, trocando-a por trinta dinheiros ou por uma tchuchuca ou pelo prazer anestesiado das drogas. São o que eram e o que foram, por toda uma Eternidade na qual, suponho, não acreditavam.

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