Imagine chegar para um daqueles marionetes da extrema-esquerda liderados por Guilherme Boulos e sussurrar em seu ouvidinho: se você não passa fome (como comprovado pelo volume do seu tecido adiposo), se você está usando roupas cafonas, mas inteiras e baratas, se você frequentou a escola o suficiente para escrever esse seu cartazinho aí sem nenhum erro muito “craço”, agradeça ao capitalismo.
Fico imaginando isso e me perguntando qual seria a reação real dessas pessoas. Será que elas citariam um slogan vazio criado por um publicitário numa agência bacanona ali na Faria Lima? Será que riria sarcasticamente, abrindo uma boca de dentes branquíssimos, resultado da mais recente visita do militante ao dentista? Será que revidaria com uma citação de um livro de Gramsci, cuja produção envolveu dezenas de profissionais em várias empresas, da editora à gráfica?
Não adianta. Até para reagir a um argumento em defesa das muitas facilidades e comodidades que o capitalismo nos proporcionou, um boulosete desses que não acredita que o capitalismo tenha nos proporcionado muitas facilidades e comodidades precisa – veja só! – recorrer às facilidades e comodidades que o capitalismo lhe proporcionou. A não ser, talvez, que o militante apelasse para a violência física – não por acaso o único argumento ao qual os irracionais são capazes de recorrer nessas horas.
Mas eu fico aqui pensando também no que aconteceria se uma dessas ONGs ou sindicatos de professores ou mesmo pedagogos influenciados pelo pensamento-oh-crítico de Paulo Freire conseguisse fazer com que um militante de extrema-esquerda boulosete lesse “Os Demônios”, de Dostoiévski”. E se esse militante chegasse lá no acampamento do MTST com o livro debaixo do braço, as folhas todas rabiscadas?
Mais: e se o militante chamasse a cumpanherada toda e anunciasse que precisava ler em voz alta o trecho em que Dostoiévski analisa as bases imorais do comunismo, antevendo ainda os efeitos nocivos desse modo de pensar? Ele pegaria o livro amarfanhado da infatigável bolsa indígena a tiracolo e leria:
"Chigalióv é um homem genial! Sabe, é um gênio como Fourier; porém mais ousado que Fourier, mais forte que Fourier; vou cuidar dele. Ele inventou a "igualdade"! No esquema dele cada membro da sociedade vigia o outro e é obrigado a delatar. Cada um pertence a todos, e todos a cada um. Todos são escravos e iguais na escravidão. Nos casos extremos recorre-se a calúnia e ao assassinato, mas o principal é a igualdade. A primeira coisa que fazem é rebaixar o nível da educação, das ciências e dos talentos. O nível elevado das ciências e aptidões só é acessível aos talentos superiores, e os talentos superiores são dispensáveis! Os talentos superiores sempre tomaram o poder e foram déspotas, sempre trouxeram mais depravação do que utilidade; eles serão expulsos ou executados. A um Cícero corta-se a língua, a um Copérnico furam-se os olhos, um Shakespeare mata-se a pedradas — eis o chagaliovismo. Ah, ah, ah, está achando estranho? Sou a favor do chigaliovismo!".
Talvez ao chegar ao fim do trecho o militante já tenha deixado de ser, plantando a dúvida em ao menos um amiguinho da Grande Irmandade da Foice e Martelo. Apesar das muitas e cotidianas evidências em contrário, gosto de pensar que as pessoas, diante da sabedoria, são capazes de olhar para o próprio umbigo e para o entorno e reconhecer que, neste caso, o “pacto de mediocridade” descrito por Dostoiévski é uma realidade inegável. Basta olhar para os lados. Basta olhar, inclusive, para muitos dos funcionários das grandes empresas listadas na Bolsa de Valores, e que não veem nada de mais em cortar a língua de um Cícero, furar os olhos de um Copérnico ou matar a pedradas um Shakespeare.
Nos meus momentos de maior esperança, quando saboreio os frutos de uma ingenuidade que, já disse e repito, é intencional, gosto de pensar que não há estupidez que resista a uma verdade bem plantada. Talvez isso explique até por que os professores de hoje tenham ojeriza à ideia de plantar verdades profundas como as contidas na Bíblia e nas grandes obras do cânone. Afinal, é somente em meio à estupidez que a mediocridade dos militantes de esquerda, com seus slogans vazios, ressentimento e inveja, adquire tons de excelência.
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