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Naquele inesquecível dia 5 de janeiro de 2023, uma quinta-feira, o Brasil acordou mais apalermado que o de costume com a notícia de que o sempre implacável ministro Alexandre de Moraes mandou prender Alexandre de Moraes. “Diante de todo o exposto, expeça-se o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faça-se o L”, diz o documento histórico publicado no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e imediatamente levado a cabo pela prestativa Polícia Federal.
Os policiais federais se dirigiram à casa onde vive o ministro e, às 6h em ponto, como determina a legislação, apertaram a campainha. Para a surpresa dos agentes, que não esperavam nada menos do que uma reencenação do bangue-bangue protagonizado por Roberto Jefferson em outubro de 2022, o próprio Alexandre de Moraes atendeu a porta. De roupão e pantufas.
“O que está acontecendo?”, perguntou ele, todo descabelado, a um dos policiais. Que lhe estendeu o mandado de prisão, declamando uma versão tupiniquim dos miranda rights que a gente ouve os tiras recitando nos filmes: “Teje preso, excelência!”. Alexandre de Moraes não ofereceu resistência.
Mas, ao estender os braços para receber o metal frio das algemas democráticas, se sentiu como que possuído pelo espírito do Estado Democrático de Direito. “Do que estou sendo acusado?!”, perguntou ele. Com toda a calma do mundo, os policiais explicaram que o inquérito corria em sigilo. “Aqui só diz que a gente tem que levar o senhor pra bater um papo com o Cacique Sererê, chefia”, informou um dos agentes, contendo o riso.
A notícia chegou rapidamente às redes sociais, graças a umas tias do zap que estavam acampadas no QG do Exército de Brasília, mas se perderam em meio à arquitetura brutalista de Niemeyer e acabaram em frente à casa do ministro. Quando perceberam o que estava acontecendo, elas não hesitaram em usar os polegares para espalhar a boa nova. Menos uma, que por algum motivo só conseguia escrever com o indicador.
Perdeu, mané
Alexandre de Moraes, preso por ordem de Alexandre de Moraes, nem tinha chegado ao camburão e os sites noticiosos todos já estampavam em Arial Black 112 a situação kafkiana. Indignados, editorialistas ultrademocráticos deixaram o café-com-leite de lado e correram para suas máquinas de escrever, marretando apaixonadamente palavras como “Absurdo!” e argumentos como “Isso é coisa de ditadura!”.
Mesmo não sendo Alexandre de Moraes jornalista, a FENAJ se manifestou por nota, na qual se lia que a instituição, fiel a seu compromisso histórico, repudiava veementemente qualquer censura prévia. Ainda que o sol mal tivesse despontado no horizonte do cerrado, a OAB também já estava com a nota prontinha para ser divulgada. Nela, a nobre entidade (bu!) reclamava do ministro que mandou se autoprender sem qualquer previsão legal para isso. E ainda por cima dificultando o acesso do paciente aos autos do processo.
Mas sabiam eles que era justamente essa a discussão que se desenrolada no banco de trás da icônica viatura preta na qual já desfilaram personalidades distintas como Lula e Marcelo Odebrecht. “O senhor não pode ter acesso aos autos, dotô Alexandre. Aqui diz que só em papel, no seu gabinete no STF. E na sua presença!”, explicou um agente. “Mas eu não tenho como estar lá. Eu estou preso!”, retrucou Alexandre de Moraes, pela primeira vez percebendo que havia algo de muito errado com aquela situação.
“Tragam-me um espelho. Quero falar com o ministro Alexandre de Moraes AGORA MESMO!”, ordenou o preso, se sentindo magistrado. Ao que o policial federal reagiu com um sorrisinho maroto, antes de dizer: “Perdeu, mané! Não amola”.
E todos os brasileiros foram felizes para sempre.
Esta é uma obra de ficção. Quaisquer semelhanças com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terão sido mera coincidência.