Caro leitor,
Por um instante apenas, finjamos que a amizade entre Lula e Maduro não se baseie apenas em conchavos, rabos-presos, trocas de favores e prováveis chantagens. Imaginemos que se trata de uma amizade sincera entre dois pulhas. Uma amizade marcada por uma lealdade hoje em dia rara, dessas que a gente só encontra entre amigos de infância ou companheiros de bar.
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Se bem que, convenhamos, passar a mão na cabeça do amiguinho sempre que ele prende e mata seus compatriotas não é exatamente o papel do verdadeiro amigo. De acordo com a minha cartilha, o amigo deveria ser aquele que tem toda a liberdade do mundo para dizer “você errou”, “acho melhor você ir lá e pedir desculpas” ou então “deixa de ser canalha, Maduro!”.
(Vai ver é por isso que as pessoas evitam minha amizade).
Tudo isso para dizer que, num mundo ideal, onde a amizade entre Lula e Maduro fosse amizade mesmo, uma relação humana e não política, sempre política, tudo na política, nada fora da política, e onde Lula e Maduro fossem seres humanos normais, e não psicopatas viciados no poder, nada disso estaria acontecendo. O que não é uma constatação brilhante, eu sei. Mas estou voltando de férias e tal, e conto com a paciência e a amizade do estimado leitor.
Mudando de assunto
Agora se prepare porque eu vou falar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Aquela com a representação macabra e woke da Santa Ceia, com direito a militante obesa (DJ Butch – Butch jão de gás) e testículo à mostra. Mas não vou falar com raiva nem indignação, por mais que eu tenha me sentido esteticamente ultrajado, sim.
É que, uma vez depurado o ultraje, só consegui sentir pena das pessoas envolvidas na blasfêmia olímpica. Pena. Imaginei-os voltando para casa naquele dia, depois de toda a repercussão negativa, sendo congratulados pelos amigos da bolha e acreditando sinceramente que haviam abalado as estruturas da sociedade tradicional ou coisa do tipo. Pena, já disse e repito e trespito: pena.
Porque não há absolutamente nenhuma chance de aquelas pessoas terem ido dormir o sono pacífico dos justos. Muito mais provável é que tenham se fartado de antidepressivos e ansiolíticos capazes de, química e temporariamente, aplacar a dor que é a rebeldia contra o Criador e a submissão voluntária a tudo o que é mundano, inclusive esse sucessinho de vento.
Na mesma toada
E, já que estou nessa toada caridosa, aproveito para dizer que também senti pena do boxeador ou boxeadora argelina ou argelino, alvo da indignação (olha ela aí de novo!) mundial e que se tornou símbolo da injustiça que é a corrupção da competitividade esportiva pelo wokismo. Novamente e quantas vezes for necessário: pena.
Porque, na hipótese de ser uma pessoa intersexo (que antigamente, numa época mais simples, a gente chamava de “hermafrodita”), imagine o sofrimento pelo qual essa pessoa já passou na vida. Ainda mais vindo do interior de um país islâmico. Se for mesmo uma condição médica, imagine o sofrimento dela/dele ao se deparar com a humilhação pública no esporte – justamente o caminho que Imane Khelif teria escolhido para encontrar um pouco de dignidade.
Se não for uma condição médica.... Nesse caso sinto mais pena ainda. Dele(a) e de mim, que não posso desenvolver o assunto sem submeter esta simples carta ao Departamento Jurídico. “Você não sente pena da boxeadora italiana, não, Paulo?”, pergunta o leitor e eu respondo que sim. Uma coisa não impede a outra.
E é assim que encerro a carta de hoje. Cheio de pena (cocoricó!) e com a esperança de que você também se deixe contaminar pela compaixão por essas pessoas que estão (estamos?) na sarjeta e muitas vezes não percebem, porque os paradigmas de felicidade, sucesso e honra estão simplesmente virados de cabeça para o ar.
É bom estar de volta à ativa. Um grande abraço do
Paulo.
[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do segundo parágrafo, tem um campo para isso].
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