Duas meninas zombaram de uma mulher mais velha que prestou vestibular e entrou para a faculdade de biomedicina da Unisagrado. Como é típico de uma geração que precisa alardear sua estupidez para o mundo e não sabe nem rir escondida num cantinho, o deboche virou vídeo que virou insulto que virou etarismo que virou motivo de debates que por sua vez rendeu até o pronunciamento de dois ministros de Estado da caquistocracia (o governo dos piores) que controla o país.
Claro que não concordo com a forma daquilo que, com muito esforço, mas muito esforço mesmo, vou chamar aqui de “crítica” à presença de uma quarentona da sala de aula das moçoilas em flor. As meninas deveriam ter se recolhido à sua insignificância e guardado os comentários para si. Ou então, no cenário ideal, deveriam ter sido caridosas com a colega de turma. Que, aliás, compartilha com elas a infelicidade de acreditar na universidade como um caminho necessário e obrigatório para a realização pessoal. Mas nem isso as senhoritas perceberam.
Mas extrapolando um pouquinho as "ofensas", é possível, sim, concordar com a essência da querela bobinha: universidade não é mesmo lugar de velho. E aqui uso o termo no sentido de “pessoa experiente que já deveria ter perdido certas ilusões pelo caminho”. Nem de jovem – no sentido de “pessoa sem experiência e sujeita à doutrinação, o que equivale a vender a alma em troca de um pedaço de papel que lhe permite exercer certas profissões”.
Apesar de ter gerado declarações cheias de indignação, como convém ao nosso tempo de nervos expostos, a controvérsia não passa de um choque de gerações elevado à condição de “ameaça à democracia” pelo ministro Sílvio Almeida, talvez o mais caquisto dentre os piores ministros do governo Lula. Choque de gerações, aliás, que sempre foi a alegria tanto de brotos quanto de coroas, sempre ridículos uns aos olhos dos outros. Os jovens que me leem que o digam!
Não se deixe enganar. O caso ganhou destaque não por causa da diferença de idade entre as envolvidas. Não por causa do etarismo – uma invenção politicamente correta que, infelizmente, já permeia nossa legislação. E que, não demora, há de ser criminalizada. (Coisa de jovem). O caso ganhou destaque apenas por causa do ambiente em que os comentários zombeteiros foram feitos: um imaculado e puritaníssimo “templo do saber”. Uma universidade.
Templos do saber
Foi isso o que levou os ministros Sílvio Almeida e Camilo Santana a se manifestarem sobre os 22 segundos que não abalaram meu mundo. No vídeo, eles não defendem a mulher insultada nem nós, os velhos ridículos que usam All Star aos 45 anos; eles defendem a educação. Não qualquer educação! Eles defendem, com unhas, dentes e sorrisões de vendedores de carros usados, a educação universitária. Como se as universidades não tivessem se transformado em meros centros de doutrinação esquerdista para pessoas que conhecem assim mais ou menos a fórmula de Bhaskara.
É que se criou, no Brasil, essa ideia perniciosa de que a educação, no sentido mais formal e burocrático da palavra, é uma espécie de portal para um paraíso, onde todas pessoas são felizes, corteses, paulofreireanamente críticas (!), prósperas e realizadas. Como se o intelectualismo, chancelado por um diploma universitário, não tivesse dado origem, ao longo do século XX, a todo tipo de monstruosidade moral – dos campos de concentração àquela ideologia contemporânea que mutila crianças e cujo nome não posso mencionar.
Como já escrevi neste espaço, há muito tempo o Brasil se tornou refém dos professores, que se utilizam desse argumento emocional, dessa visão histórica distorcida e dessa promessa de um futuro esplendoroso, a fim de garantir mais e mais e mais e mais (e mais!) dinheiro para a educação – sempre no sentido mais formal, burocrático, tecnicista, cientificista e sectário da palavra. E já escrevi também, mas não custa repetir: a educação – para velhos e jovens – que os ministros defendem com tanto afinco não forma pessoas melhores.
Não conheço a mulher que foi objeto dos 22 segundos de zombarias com as quais eu, um quarentecincão que mal consegue usar o Google, até me identifico um pouco. Não sei, portanto, o que a levou a querer cursar biomedicina na Unisagrado. Espero que ela consiga alcançar o que quer que esteja buscando. Mas, se ela acreditou na balela do ensino superior como algo de fato superior, sinto muito. É uma pena que toda uma geração, a minha e também a dos mais xófens, tenha sido levada a acreditar que não existe felicidade ou realização pessoal sem um diploma universitário.
As meninas já pediram desculpas e a senhora ofendida recebeu flores e chocolates dos outros colegas de turma. \o/. Ainda assim, tem gente por aí atiçando o Ministério Público para que a estupidez das meninas seja criminalizada e a senhôra ultrajada seja financeiramente recompensada por esse, ó, trauma. Vai ver é por que essa coisa de confundir vingança com justiça e de usar a força da lei e do Estado para resolver questões pessoais seja algo que se aprenda hoje em dia nas universidades. Tomara que não.
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