Sou estranhamente fascinado por Nauru – o menor país insular do mundo. E, quando começaram a pipocar mapas e mais mapas mostrando a disseminação do coronavírus pelo mundo, corri para ver se a ilhota do meu coração, com seus 13 mil habitantes, tinha sido atingida.
Nauru me fascina justamente por sua insignificância. Tem um quê de poético nisso. Algo até de sábio. Cresci acostumado a exaltar a grandiosidade do meu Brasil-sil-sil varonil, com seus 8,5 milhões de km2 e, na época, 150 milhões de habitantes. Com suas incalculáveis riquezas minerais, com a Amazônia exaltada como o “pulmão do mundo” e até com uma disputa para saber qual é o maior rio do planeta, o Amazonas ou o Nilo.
Nauru, coitado, nunca teve nada disso para se orgulhar, embora eu suspeite que os nauruanos se orgulhassem justamente do epíteto de “o menor país insular do mundo”.
Para se ter uma ideia, Nauru tem apenas 21km2. É o equivalente a 2100 hectares – uma fazendinha não das maiores no Mato Grosso. Ou, para não perder a oportunidade e usar aquela comparação velha que não diz nada, 2100 campos de futebol. Pinhais, a menor cidade do Paraná, é três vezes maior do que Nauru.
(Se eu o estiver entediando, leitor, peço desculpas. É que, quando se trata de Nauru, fico completamente perdido, quase obcecado por todos os escassos detalhes. Já falei disso no divã de terapeutas de várias linhas. A freudiana disse algo que não posso reproduzir neste jornal de família. A lacaniana não abriu a boca. E a junguiana sugeriu uma conexão no espaço-tempo astral entre mim e o inconsciente coletivo dos polinésios).
Durante muito tempo, Nauru foi um país rico, com uma renda per capita admirável. O dinheiro vinha da venda de fosfato – basicamente cocô de passarinho acumulado ao longo de milênios. Mas a mineração tinha data para acabar. Pensando nisso, os economistas nauruanos, talvez inspirado nos seus colegas da Unicamp, resolveram investir no mercado imobiliário e construíram um dos prédios mais altos de Melbourne, na Austrália. Durante um tempo, a renda do país vinha principalmente do aluguel deste prédio. Não é maravilhoso?!
E, antes que eu volte a falar do coronavírus na ilha, deixe-me jogar mais este dado meio que a esmo: Nauru tem o maior IMC (índice de massa corporal) médio do mundo: 33,9 para homens e 35 para mulheres. Sim, Nauru é um país de obesos obesíssimos.
Tudo, enfim, para dizer que Nauru é uma ilha excêntrica no meio do Pacífico, adorada apenas por jornalistas excêntricos que um dia foram crianças excêntricas lendo a Enciclopédia Delta Universal, tema de um texto excêntrico no meio de uma pandemia igualmente excêntrica, escrito na tentativa de estabelecer um diálogo com um leitor não menos excêntrico.
Em sua excentricidade nua e estéril, Nauru é um lugar tão remoto e desprovido de atrativos que não serve nem como destino alternativo para quem se cansou da viagenzinha de todos os anos para as Maldivas, Boba-Bora ou Taiti. Na verdade, agora que o fosfato acabou e o empreendimento imobiliário em Melbourne fracassou, Nauru não tem nada a oferecer ao mundo além de seu isolamento e seu ideal fantasioso de paz e tranquilidade. E o país parece resignado com isso.
Mas, se serve de consolo para alguém (a mim serve) além dos 13 mil pesados nauruanos, eis que chegamos à boa notícia: não, o coronavírus não chegou a Nauru. Ainda.
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