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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Mais um dia per-fei-to no enfrentamento da Covid pela gestão Haddad-Lula

O presidente Haddad faz um pronunciamento antes de ceder a palavra a quem realmente manda, Lula. (Foto: Ricardo Stuckert/ Fotos Públicas)

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Na manhã desta sexta-feira, 7 de maio, o presidente Haddad fez mais um pronunciamento em rede nacional. Usando palavras bonitas como “aurora”, “borboleta” e “serendipidade” (é assim que se escreve?), Haddad mais uma vez levou esperança ao coração dos brasileiros, neste 397º dia de lockdown nacional para achatar a curva e acabar com essa tragédia (muito provavelmente causada pelo aquecimento global) chamada coronavírus.

Haddad escorregou apenas nos pronomes transfóbicos, mas é preciso entender que o Presidente pertence a uma geração que se esforça para combater todas as formas de ignorância. E, no mais, ninguém é perfeito, nem nosso querido e amado Fernandão. Depois do pronunciamento presidencial, Haddad generosa e humildemente anunciou o pronunciamento real de Lula. Mas eu nem consegui prestar atenção, de tanto que chorava. Desculpa, gente.

Mais tarde, graças aos milhões de posts publicados na Ressobra (Redes Sociais Brasileiras), pude finalmente ouvir a voz deliciosamente rouca de Lula chorando pelas vítimas do vírus. "Se eu pudesse, iria a cada uma das taperas de pau a pique desse meu Brasilzão e protegeria todos os velhinhos e gordinhos", disse - e nesse momento ouviu-se rojões por toda a nação. Enquanto pipocavam nos ares os morteiros vermelhos, lembrei que muitas pessoas antipatriotas e ingratas teimam em dizer que Lula é culpado por essas fatalidades. Mas todo mudo sabe que ele fez e faz o possível para curar com seu toque mágico todos os pulmões infectados.

Uma vez terminados os pronunciamentos presidencial e real, foi a vez de os ministros da Saúde, Mandetta, e da Ciência, Marilena Chauí [por que não?], lerem os nomes das 3,1 mil vítimas recentes da doença. Uma a uma. Como acontece todos os dias, ao longo de uma hora os ministros recitaram os nomes por ordem de raça, começando com os índios, digo, nativos-brasileiros até a alemoada do Sul nazista. A trilha sonora ficou por conta de Chico Buarque, numa versão gospel-laica de “Apesar de Você”.

Lula 51

O excelentíssimo senhor ministro da Saúde, por sinal, aproveitou o ensejo para anunciar que o país está desenvolvendo a vacina Lula 51. Com tecnologia 100% nacional, ela é feita a partir de uma técnica revolucionária que usa veneno de jararaca, mamona e cachaça. “Acredito que amanhã ou depois já começaremos com as aplicações em todos os botecos do Brasil”, anunciou, demonstrando ser um verdadeiro ás da logística. “E, antes que algum fascista me pergunte, digo que a Lula 51 foi submetida a um teste duplo randomizado com duas pessoas encontradas ao acaso e se saiu muito bem. Nenhum dos dois pegou a doença”, afirmou. E ninguém é louco de duvidar da ciência, não é?

Um jornalista, talvez inexperiente, mas provavelmente negacionista-terraplanista, ousou perguntar ao ministro qual a eficiência da vacina Lula 51. Mandetta primeiro ficou surpreso com a pergunta insolente do meu colega, possivelmente um ultraconservador, mas logo respondeu que a eficiência era de 110% e mandou o repórter aprender a fazer perguntas no Campo de Reeducação Chico Mendes, no Acre.

Ao meio-dia, o ministro das Relações Exteriores, Guilherme Boulos, agradeceu à China pela ajuda no fornecimento de insumos básicos para o SUS, como verbas e pixulecos, e também pela criação e disseminação do próprio vírus. “Há males que vem para o bem”, disse ele, citando as sábias palavras do professor Karnal. Ou seria Cortella? Ou seria Pondé? Que seja. O fato é que o SUS é um sucesso e, até aqui, nenhuma das mais de 4 centenas de milhares de vítimas morreu sem receber atendimento dos prestativos médicos cubanos.

Boulos também demonstrou preocupação com os surtos da doença nos países vizinhos, menos a Argentina e Venezuela, que replicaram com sucesso o Modelo Brasileiro de Combate à Pandemia (Mobracopan). A preocupação agora, disse ele, é com a variante estadunidense. “É a variante mais neoliberal que existe, apesar de o camarada Biden estar fazendo um bom trabalho por lá”, disse o ministro. Por um instante, quase abandonei minha isenção jornalística para bater palmas.

Boas notícias

Como acontece em todos os dias da impecável gestão Haddad-Lula, as boas notícias não pararam de chegar, nem todas relacionadas à pandemia. O presidente Haddad baixou o preço da gasolina para R$0,99 - mas só nos postos da Odebrecht. O real se valorizou tanto que agora dá até gosto ir para Nova York comprar iPhone. O Congresso aprovou a estatização das Casas Bahia. E o STF determinou a substituição de todas as forças policiais por professores de artesanato. Isso tudo antes da hora do almoço!

Às 14h, e visivelmente sob efeito da nova vacina brasileira, o presidente Haddad surpreendeu os jornalistas nos convidando para tomar um delicioso café colonial vegano. “Mas é muito cedo, meu Presidente”, disse em tom de galhofa um colega gordinho que antes da última sílaba já tinha enfiado dois brioches na boca. À mesa, estavam presentes também a ex-presidenta Dilma Rousseff e uma figura oculta atrás de uma criança (acho que era a Petra Costa).

Depois de tomar mais doses da vacina do que o recomendado pela OMS e de pôr um fim ao meu jejum intermitente, saí à rua e me deparei com o Movimento Patriótico de Apoio Permanente ao Presidente Haddad (MoPAPePHa), em sua vigília pelo fim da pandemia, pela preservação do boto-rosa e pela memória da gloriosa eleição que permitiu ao Grande Mandatário vencer as inomináveis forças obscurantistas, reacionárias, retrógradas, negacionistas, genocidas e fascistas da extrema-direita ultraconservadora turbomachista que insistia em chamá-lo de Poste.

Mas já é hora de encerrar este texto. Não sem antes dizer a todos que é importante ficarmos em casa, a fim de que não tenhamos 13.000.000.000.000.000 mortos, como previram os cientistas do Núcleo de Estatística Militante da UFRJ. Cuidem-se. Protejam-se. E não abusem do vinho, dos queijos e das maratonas de séries. Ah, tenho de dizer ainda que mereço elogios por ser essa pessoa iluminada que evidentemente sou e por ter escolhido o lado certo da história. Parabéns para mim.

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