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“Dane-se!”. Foi o que disse a primeira dama do PT e, incidentalmente, do Brasil ao justificar sua presença ao lado do Lula na reunião do G20. Dane-se que a criticam por ocupar um lugar que não lhe pertence. Dane-se que os “fascistas” ainda não aceitem o fato de ela ter conquistado esse lugar graças aos encantos de sua argúcia. Isso, chamemos de argúcia e, no mais, é como disse a sábia Janja: dane-se!
Assim é o Brasil pós-Bolsonaro: o país do “dane-se”. Que o diga Alexandre de Moraes, cujo mantra matinal não poderia ser outro. Dane-se a Constituição! Dane-se as garantias individuais. (E eu sei que a concordância tá errada; mas, por força do estilo coloquial, dane-se!). Dane-se o Estado Democrático de hahahahahahahaha Direito. Dane-se a prisão em massa pelo crime de ser “bolsonarista”. Dane-se a excepcionalíssima censura prévia, né, Cármen Lúcia? Dane-se as imagens do aeroporto de Roma. (De novo errado, eu sei. Mas estilo coloquial, etc.).
É o governo da indiferença. Da banana para o povo. Do “não tô nem aí pra opinião pública”. Do dar de ombros para o que é certo e moral. Indicar o advogado pessoal ou o comunista esbelto a um STF ideologicamente aparelhado? Dane-se! Faltar à posse do presidente argentino, mas receber o ditador Maduro com aquele sorrisão canalha no rosto? Dane-se! Defender terrorista do Hamas e alinhar o país ao que há de pior no mundo? Dane-se! Dane-se ao quadrado. Dane-se ao cubo, tanto quem fez o L em troca da promessa de cerveja e picanha quanto quem não fez.
Dane-se e, pensando bem, foi nisso que teriam votado os já míticos 50,90%. Danaram-se, isto é, escolheram seu próprio destino. Seu fado. Sua danação. Colocaram nas mãos dessa gente o poder de tomar decisões que afetam seu bem-estar agora e amanhã. Talvez pelas próximas décadas. Condenaram-se a terem de carregar nas costas os privilégios dos burocratas e tecnocratas. Venderam suas almas para o Leviatã e por isso dançam ao som dessa valsa triste: dane-se.
Governo da indiferença
Pedâ, penê, pesê. Ou dapá, nepê, sepê. E nem vou falar do passado, do Petrolão e Mensalão que já caíram no esquecimento. Afinal, dane-se o que eles fizeram nos governos passados. Não, não convém mencionar a explosão de violência em todo o país. Dane-se. Nem os diálogos cabulosos. Dane-se. Ei, dona Tebet, o dotô Haddad quer criar mais um imposto. Dane-se. Virão o dezempenho dos estudante brasilero no Pisa? Danece.
Dane-se que temos como presidente um ex-presidiário condenado por corrupção e lavagem de dinheiro – e jamais inocentado pela Justiça, apesar do alvará de soltura dado pelo STF. Dane-se que estamos comprometendo o futuro só para ver prevalecer ideias cheias de teias de aranha e que já se provaram erradas no passado. Dane-se e, se você ainda não entendeu o que a Janja disse, dane-se. Dane-se tudo porque “o amor voltou” e, no mais, conseguimos nos livrar do tiozão do churrasco que tanta vergonha nos causava. Ora, o que é o certo em comparação ao prazeroso, não é mesmo? Dane-se.
Dane-se que agora o cronista vai chamar isso de um hedonismo inconsequente. De uma incapacidade patológica de fazer o certo pelo certo. De um vício no que é conveniente. Dane-se que ele insistirá na ideia do “governo da indiferença”. Um governo que não está nem aí para mim ou para você, quanto mais para as instituições, a democracia, a nação, o povo – ou qualquer abstração do tipo. Que se danem. Se lasquem. Se estrepem. Se explodam. Se ferrem. Que se fo...rmalize, se fo...rce, se fo...rje o fim desta crônica. Antes que eu acabe escrevendo alguma besteira.
Obrigado
Aproveito para agradecer imensamente a todas as manifestações de carinho pelo meu aniversário (e da minha esposa). Desde as mais efusivas, e fazia tempo que eu não lia felicitações tão admiravelmente hiperbólicas como umas que recebi, até as mais protocolares. Talvez seja meu olhar mais infantil falando agora, mas realmente vejo algo de divino no gesto de quem, sem nem me conhecer, gasta trinta segundos de vida para me parabenizar. A vida é um bocado melhor quando se tem amigos. Mais uma vez, obrigado.