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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Carta #26

De quem é a culpa?

ALEXANDRE DE MORAES CULPA
Alexandre de Moraes: "Este cafezinho está tão ruim que é um ataque à democracia!". (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado)

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Outro dia escrevi no saudoso (já é saudoso?) Twitter que a gente não pode se esquecer dos que colaboraram para a implantação do regime alexandrino. Ou da ditadura alexandrina – caso você esteja se sentindo ousado hoje. A ideia não era fazer uma lista negra nem nada; era apenas reconhecer que nada disso estaria acontecendo sem a conivência e o apoio de muitos setores da sociedade civil. Incluindo jornalistas que defendem abertamente a censura.

Mas aí um tuiteiro, provavelmente magoado por eu ter cobrado uma postura mais firme do ex-presidente Jair Bolsonaro em relação aos presos do 8 de Janeiro, me deu aquela provocadinha divertida, provocadinha-arte, provocadinha-moleque, provocadinha de várzea que tão bem caracteriza a arena pública que o Alexandre de Moraes quer tirar do ar (já tirou?). “A culpa é do Bolsonaro, Polzonoff?”, perguntou o sujeito que parece assinar com pseudônimo. Se for apenas um nome esquisito, desculpe.

No pessoal e no profissional

Antes de responder à provocação, porém, permita-me apontar o óbvio necessário: estamos sempre em busca de culpados para as enrascadas em que nos metemos. Tanto no pessoal quando no profissional, como diria o Faustão. E no político/ideológico também. Daí porque esta será conhecida como A Era das Conspirações: incapazes de perceber que fomos livres para criarmos o mundo distópico em que vivemos, imaginamos grandes complôs chefiados por um único sujeito para o qual desejamos punição severa no futuro próximo – o Culpado.

Quando, na verdade, o culpado por tudo isso não é apenas um. São vários, em várias gradações de culpa. Uns por ação e outros por omissão. Uns movidos pelo espírito revolucionário e outros pela covardia. Donde se conclui que... Não! Vou deixar a conclusão para o final. Antes, vou falar mais um pouco de Bolsonaro – um ex-presidente eternamente dividido entre fazer o certo e salvar a pele de seus filhos trapalhões.

Certo zunzum

Corre por aí certo zunzum de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, para salvar o filho e senador Flávio, fez um acordo com Dias Toffoli para enterrar uma CPI que atingiria o Judiciário. Uma tal de Lava Toga. A narrativa pode ser maldosa, mas, convenhamos, não é implausível. Depois disso, Bolsonaro foi protagonista de dois momentos marcantes nessa ascensão acelerada do STF como um poder da República que está acima dos demais. (Novo parágrafo para você respirar).

Um foi quando Bolsonaro acatou bovinamente a ordem do STF (de Alexandre de Moraes, que já começava a botar as manguinhas de fora!) que suspendeu a nomeação de outro Alexandre, o Ramagem, para comandar a Polícia Federal. Era prerrogativa presidencial, mas Bolsonaro achou melhor baixar a cabeça. O outro foi quando o ex-presidente, para o bem de todos e a felicidade geral da Nação, xingou Alexandre de Moraes de “CANALHA!” num ato na Avenida Paulista – e um ou dois dias depois pediu desculpas, me empolguei, talquei?

Conclusão

Tendo isso em mente, aqui chego à tão aguardada conclusão perguntando se esses episódios todos tornam Bolsonaro culpado pela ascensão do regime alexandrino. Sim, tornam. O que não quer dizer que ele seja o único culpado. Muito menos o maior culpado. Você também tem uma parcela de culpa. Eu tenho. O Pacheco, então, nem se fala! Simplesmente porque todos nós que um dia acreditamos que vivíamos numa democracia inabalável e que jamais seria corrompida pelo Judiciário ainda por cima, imagina!, que é isso?, você só pode estar ficando louco!, temos culpa.

Afinal, Alexandre de Moraes jamais se tornaria o que é hoje se não fosse por nossa crença (sincera, de boa-fé e certa) nas instituições, na prevalência do bom senso e na existência de homens, até dentro do STF, com um mínimo de honra e inteligência, homens que jamais se deixariam escravizar por um vilão tão evidente, e que jamais apoiariam fragrantes ilegalidades cometidas em nome da “defesa da democracia”.

RIP Inês

Mas agora a Inês é morta e não adianta ficar apontando o dedo – nem para Bolsonaro nem para a própria cara. O negócio é lutar com as poucas armas de que dispomos. Um dia, não sei quando, ainda haveremos de recuperar as liberdades que nos foram tiradas – para nunca mais perdê-las. Esse dia vai ser massa.

Um abraço transbordando de esperança do
Paulo

[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].

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