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Demorou, mas até o atrasadinho Dias Toffoli, por acaso e compadrio tornado ministro do STF, aprendeu. Ele, que já foi advogado do PT, suspendeu todos os processos disciplinares contra o juiz Eduardo Appio – o Sergio Moro do mundo bizarro. Appio, você há de lembrar, estava encrencado com seus superiores do TRF4 por causa de algumas traquinagens envolvendo o que restou da Operação Lava Jato.
De acordo com esta Gazeta do Povo, Toffoli acatou obedientemente os pujantes argumentos da defesa, que diz que os atos disciplinares contra Appio são uma “ofensa ao devido processo legal” que teria deixado o acusado “sem qualquer oportunidade de contraditório ou ampla defesa”. Risadas.
Mais risadas. Hahahahahahahahahahahahahahaha. Um riso triste. Forçado. Estoico, talvez? Um riso indeciso entre o cinismo e o sarcasmo. Um riso que se soma à gargalhada resignada que soltei ainda agora há pouquinho, ao ler que o ex-procurador e deputado Deltan Dallagnol desistiu de recorrer ao STF para tentar reverter sua cassação. Simplesmente porque não vale a pena. Que ainda houvesse juízes na Berlim dominada pelo nazismo, vá lá. Pena que na Brasília dominada pelo petismo é beeeeem diferente.
Por meio da Gazeta do Povo, fico sabendo também que a defesa espera que Appio seja reconduzido ao cargo. Nada mais natural depois de outra traulitada toffoliana no cachorro-morto em que se transformou a Lava Jato. E me arrisco aqui a prever: Appio será, sim, reconduzido ao cargo. Com direito a tapete vermelho, banda marcial tocando o hino do PT ou a Internacional Comunista e, no calor que está fazendo em Curitiba, com direito até àquele aperolzinho com espumante bem gelado – que ninguém é de ferro.
Pelo contrário! Nas últimas semanas, o malemolente Toffoli tem se revelado um homem fluido de moral idem. Um profundo conhecedor da doutrina do Direito Gelatinoso, aquele que se molda às necessidades imediatas do partido no poder. Ou aos desejos do mandatário. Ou ainda às tendências da opinião pública. Não por acaso, o mesmo Toffoli que confessou ter condenado um “inocente” no Mensalão e que ousou impedir Lula de sair da cadeia para ir ao velório do irmão (na época em que ser antipetista era in), agora se humilha para tentar provar sua lealdade aos antigos padrinhos.
Enquanto isso, no Senado...
Enquanto isso, no Senado, a oposição se dedica a atividades mais simples, tranquilas e seguramente mais divertidas do que trabalhar pelo impeachment dos militantes de toga. Como, por exemplo, prestar homenagem ao estoicismo de Sêneca e Marco Aurélio. E olha que essa iniciativa partiu de um dos quadros mais qualificados da Câmara Alta, o senador Eduardo Girão. Imagine o resto-que-é-resto-mesmo!
Se bem que, respirando fundo, contando até dez e pensando melhor, talvez faça sentido que, dentre todas as correntes filosóficas da Antiguidade, Girão tenha escolhido homenagear justamente aquela que prega um vida de ética, desapego e sobretudo resignação diante dos inevitáveis infortúnios da vida. Tanto privada quanto pública.
Afinal, é só com muito estoicismo mesmo, tomando hectolitros de estoicismo na veia, que conseguiremos suportar a Ditadura do Judiciário. Essa que, como toda ditadura, se acha eterna e tem hoje aparência de eternidade. Mas que não é. Só com muito estoicismo é que conseguiremos enfrentar o fato de que, hoje, eles (os ministros do STF) mandam. Eles podem tudo. Eles fazem o que querem.
De qualquer forma, vou me permitir deixar o “Meditações” de lado um pouco para perguntar, assim à toa, como quem não quer nada, onde estão senadores como o Astronauta ou Sergio Moro ou Mourão ou Damares ou Seif ou Tereza Cristina ou Rogério Marinho ou Cleitinho. Todos eleitos com a promessa de conter, legítima e constitucionalmente, o poder ilimitado dos ministros do STF. Cadê? E pergunto mais: por acaso existe hoje pauta mais urgente do que essa?
Nah. Vai ver que, em minha indignação, estou sendo estoico de menos. Desculpe. Já passou. Vou retomar a leitura do “Meditações” aqui.