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Eu não ia escrever nada. Sério. Semana passada, o ministro Dias Toffoli tinha dito uma bobagem (só uma?) durante o julgamento do Artigo 19 do Marco Civil da Internet. Aquele trecho da lei de que os ministros não gostam e que garante a liberdade de expressão na famosa world wide web, como se dizia antigamente. Na ocasião, o ministro veio com aquela história de que todo mundo torce para o bandido, que é da natureza humana, e que por isso cabia ao STF, na base da canetada, mudar a tal da natureza humana. Aff.
Ídala da direita?
Mas desisti e os dias passaram e a anotação “Dias Toffoli no STF é como Jojo Toddynho na ABL” ficou para trás no caderninho de ideias. Em tempo: ao lado do nome de Jojo Toddynho escrevi “Magda???”. Porque queria usar a personagem divertidamente burra do saudoso “Sai de Baixo”, mas não sabia se o leitor pescaria a referência. Além disso, um amigo me alertou que Jojo Toddynho agora virou ídala da direita. É sério isso?
Burrice satisfeita em si mesma
Nesse texto que não escrevi, pretendia mencionar também um tuíte genial do meu amigo Elton Mesquita, que disse que Toffoli é “o brasileiro elevado à sua forma ideal: a burrice satisfeita em si mesma, impada [repleta] de status social e poder (exercido de forma mesquinha)”. Olha, a coisa da burrice satisfeita em si mesma me pegou e eu fiquei saboreando isso. Mas não escrevi e não mencionei e deixei para lá.
QI de temperatura ambiente
Me lembrei de Toffoli e da burrice satisfeita em si mesma, impada de status social e poder, ao ver Flávio Dino (alguém falou em “empada”?) celebrando seu casamento ao som de Sidney Magal. Uma cena que não se esgota na cafonice e dá o que pensar sobre as ambições dos nossos políticos. Digo, ministros do STF. E quase comecei a escrever o texto que falaria do nível intelectual baixo, baixíssimo, do QI de temperatura ambiente da cúpula do Judiciário. Quase. Mas aí vieram o Senna e a retratação da família Mantovani e mais uma vez adiei a empreitada.
Coitado do Nelson
Até que hoje cedo me deparei com uma citação de Nelson Rodrigues. Abramos aspas para ele, pois: “O grande acontecimento do século foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”. Coitado do Nelson. Mal sabia ele que o idiota arquetípico, ascendido (hoje os particípios estão estranhos) às redações de jornal e aos escalões inferiores do poder no século XX, acabaria por um dia ocupar os postos mais altos da República. Da Presidência a um assento na Egregíssima Corte. Não adianta. Vou ter que escrever, pensei.
Um fio de baba
E aqui estava eu, todo alegre e contente, escrevendo que ter Dias Toffoli como ministro do STF é como ter Jojo Toddynho (ou Magda) na Academia Brasileira de Letras. Argumentando que as instituições democráticas fracassaram em sua pretensão de dar oportunidades ao homem comum de promover o bem também comum. Que, ao alcançar o poder por vias tortas, pervertidas e corrompidas, esse homem comum acaba por se transformar num monstro de cuja boca pende um fio de baba, enquanto profere as maiores asneiras do universo, para delírio de milhões de outros idiotas rodrigueanos. Coisa assim.
Pasmem!
Prestes a concluir o texto e enviar para a revisora mais maravilhosa do mundo, no entanto, eis que tenho o desprazer de assistir ao ministro Dias Toffoli dizendo que – pasmem! – “se levarmos a liberdade de expressão ao absoluto, ele estaria protegido pela liberdade de expressão. O “ele”, nesse caso, é um policial flagrado atirando um homem de uma ponte. Mas você acha que o genial jurista José Antonio “Amigo do Amigo do Meu Pai” Dias Toffoli parou por aí? Que nada!
Drop the mic!
Perguntou ele, o eterno estagiário, com aquela cara de quem acha que está propondo um dilema insolúvel que, no entanto, a corte suprema do Brasil-il-il resolverá (nem que seja na marra!): “A liberdade de expressão abarca qualquer expressão?” E aí respondeu sua pergunta jenial com o exemplo igualmente jenial de um homem que bate numa mulher e alega que a agressão é apenas uma forma de exercer a sua... liberdade de expressão. Drop the mic!
Pensa que acabou?
Pensa que acabou? Não acabou, não. Vem aí o grand finale. Porque Dias Toffoli resolveu parafrasear Dostoiévski, abrir os braços dramaticamente e dizer: “Se nós levarmos ao absoluto a liberdade de expressão, tudo está permitido”. Uma confissão inconsciente de que, para Toffoli e seus colegas, em se tratando da ação humana o temor ao STF deve substituir o temor a Deus. Depois dessa, não teve jeito.
Limite do ridículo
Diante de tamanha demonstração de desonestidade intelectual (mais uma!) do editor da sociedade, só me restou mesmo escrever que Dias Toffoli no STF é como Jojo Toddynho na ABL: uma prova de que as instituições fracassaram e chegaram ao limite do ridículo. Por isso mesmo, elas não têm autoridade nenhuma e, mesmo que seja ilegal, continuarão sendo alvo do escárnio daqueles que resistem à tentação de bancar o idiota rodrigueano em troca de status social e poder (exercido de forma mesquinha).