“Putz. Até semana passada eu apostaria uma caixa de cerveja que o Dino não iria para o STF. Agora acho que aposto só meia caixa”, disse o amigo. Na hora eu, que já dou o Dino de toga como certo, só consegui pensar no aditivo de contrato para a aquisição de lagostas e outros quitutes ao gosto do novo ministro supremo. Mas daí deixei a gordofobia de lado, parei um segundinho, ou melhor, um atossegundinho para pensar melhor e só então percebi o mato-sem-cachorro em que nos encontramos.
Porque, a não ser por um milagre daqueles bem milagrosos mesmo, ao que tudo indica em breve Lula vai propor ao Senado o nome do atual ministro da Justiça, Flávio Dino (aquele que se incomoda com apelidos simpáticos); ou de Jorge “Bessias”, o eterno garoto de recados do PT imortalizado na famosa gravação do “tchau, querida”; ou de Bruno Dantas, o menino de ouro de Renan Calheiros no TCU; ou de Luis Felipe Salomão, o apadrinhado do Xandão – com direito a rima e tudo.
E aqui, ao me perceber numa terra arrasada, sou obrigado a importunar o motorista do ônibus e perguntar: “A que ponto chegamos, seu moço?”. Porque não é possível que no país dos bacharéis, no país das milhares de faculdades de Direito, no país do Judiciário que custa R$100 bilhões por ano, no país da impunidade, do direito achado na rua e do punitivismo seletivo, no país que já teve Ruy Barbosa e Sobral Pinto... esses quatro sejam os nomes mais prováveis para ocupar a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. Mas é (possível). Mas são (os nomes mais prováveis).
Lula, malandro que só ele e que de bobo só tem a Janja a tiracolo, já mandou avisar que não está com pressa. Típico de um fantoche maquiavélico que vai tentar capitalizar ao máximo a indicação a um cargo que, na prática, se traduz num poder maior do que o do presidente da República! Enquanto isso, o militonto bobão fica achando que a indicação será técnica e terá como horizonte um futuro radiante e próspero para o país, com mais democracia, equidade, justiça social - enfim, o vocabulário de DCE todo. Tolinho.
Do azarão ao favorito, todos pangarés
De baixo para um-pouco-menos-baixo na escala das minhas preferências, diria que Bruno Dantas é o nome que me causa mais repulsa. Porque tê-lo entre Os Onze é o mesmo que ter Renan Calheiros como ministro do STF. E o senador alagoano é, para mim, a personificação de uma política que vai contra absolutamente tudo em que acredito. Mas agora é hora de você perguntar todo indignadinho aí: “Então quer dizer que você prefere o Salomão ao Dantas? Tá ficando louco?!”. Ao que responderei com um parágrafo novo.
Preferir não é bem a palavra. Porque seria o mesmo que escolher entre um furúnculo e uma unha encravada. Digamos, então, que eu tenha um nanograma de tolerância a mais pelo homem que ao menos traz a justiça divina no nome. Não que o Salomão no STF possa agir de maneira (não acredito que vou escrever isso) salomônica. Pelo contrário, o fato de ele ser apadrinhado por Alexandre de Moraes já diz tudo o que não pode ser dito explicitamente, sob pena de vinte anos de cadeia por crime de opinião.
Aí sobram duas caricaturas grotescas do petismo e do comunismo, respectivamente. Jorge “Bessias”, o advogado-geral da União que neste ato da nossa farsa política interpreta o censor-mor da República, seria apenas mais um Zanin ou Toffoli naquele lugar que nem poder chamar de “antro” eu posso. Embora seja e todo mundo saiba disso. Em defesa dele, contudo, diria ainda que a simples menção ao “Bessias” confere certa comicidade à situação. O que faz dele um nome 0,000000000001 mícron melhor do que o de Salomão ou Dantas.
Donde se conclui que minha “torcida” (muitas mais aspas, por favor) vai mesmo para Flávio Dino. Quem diria, hein?! Afinal, o comunista avantajado pelo menos passou num supostamente concorrido concurso para juiz federal. Não que isso signifique grande coisa, mas a gente se apega ao que tem. Além disso, se indicado e confirmado pelo Senado fosse, Dino ficaria “apenas” (vou esgotar o estoque de aspas hoje) vinte anos no STF. Isso se o colesterol, os triglicerídeos e a diabetes não o obrigarem a uma, digamos, aposentadoria precoce.
Mas é uma escolha de Sofia, reconheço. Uma escolha que não tem a menor chance de pacificar o país nem de dar tranquilidade a quem a faz. Pelo contrário! Ao que tudo indica, esses nomes aí são promessa de mais censura e injustiça com a chancela do STF. Ao que tudo indica, com esses nomes aí será longo o inverno da nossa desesperança.
Ajuda aê!
De qualquer forma, gostaria que você respondesse à enquete abaixo. Sei que não é fácil. Que o cheiro de enxofre é forte. Mas prenda a respiração, tente conter as lágrimas, meça os contras maiores e os menores, controle o desespero, agarre-se a qualquer fiapo de esperança que estiver dando mole por aí, ignore o cenário distópico que nos rodeia e, finalmente, escolha: Dino, “Bessias”, Dantas ou Salomão?
Lembrando que este levantamento não tem nenhuma pretensão científica e não influenciará a decisão do Lula. É só para rirmos um pouco da nossa desgraça mesmo.
Bolsonaro “planejou, dirigiu e executou” atos para consumar golpe de Estado, diz PF
PF acusa Braga Netto de pressionar comandantes sobre suposta tentativa de golpe
Governadores do Sul e Sudeste apostam contra PEC de Lula para segurança ao formalizar Cosud
Congresso segue com o poder nas emendas parlamentares; ouça o podcast
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS