Me perguntam aqui os íncubos e súcubos da política se não vou escrever nada sobre a pomposa cerimônia de diplomação de Lula III. Faço aquela cara de quem, entre a cruz e a espada, escolhe a cruz. Escrever que é absurdo, escandaloso, vergonhoso, um acinte?! Escrever que o Brasil precisa de não sei o quê e não sei o que lá? Escrever que todos devem manter a calma porque há um elaborado jogo de xadrez 4D em andamento?
Tá. Me ocorre agora que talvez fosse o caso de chamar para a labuta literária o espalhafatoso colunista social, historiador, físico nuclear e coach comunista Athayde Petreyze. Aquele cujo best-seller “Como Beber Vinho Sem Erguer o Mindinho – Um Guia de Etiqueta para a Esquerda Bem-Sucedida”, com prefácio de Dilma Rousseff, lhe rendeu cinco jabutis e quase o Nobel. Mas tenho a impressão de que o leitor está mal-humorado ou deprimido demais para isso.
Pelo menos aqui em casa estamos todos mais ou menos assim. É uma carranca insistente, esculpida pelo cinzel do estranhamento revoltado. Permanentemente arqueadas, as sobrancelhas indagam sem conseguir esconder a raiva: como é possível que tudo isso esteja acontecendo?! Como pode haver quem apoie isso?! Estou sonhando?! Quando é que esse pesadelo vai ter fim?!
Para essa última pergunta retórica, aliás, a resposta mais sensata seria 2026. Mas eis que a Razão está prestes a responder quando é interrompida pela Intuição Pessimista, que lhe toma o microfone para gritar que as instituições estão corrompidas!, que nada garante que em 2026 haverá qualquer coisa remotamente parecida com “normalidade democrática” aqui!, que vão usar a narrativa da “potencial e perigosa volta do fascismo”! Quer apostar?
Não aposto, claro. Porque, tirando o excesso de pontos de exclamação, tudo o que a Intuição Pessimista diz parece fazer sentido no dia em que Lula, pela terceira vez, e depois de ter sido preso por corrupção e lavagem de dinheiro, foi diplomado pelo TSE, personificado na figura despoticamente faraônica de Alexandre de Moraes. A Razão não se conforma. Não há água com açúcar que dê jeito. Ela não se conforma. Tadinha.
Aliás, "tadinha" é uma ótima palavra - e não só para começar este parágrafo. Ela é ótima para expressar o que sinto ao ver as cenas da diplomação de Lula. É comiseração mesmo. Pena. Sofro junto a todos os que sofrem diante de promessas claras de perseguição. Até porque a alternativa a isso seria me regozijar na soberba vingativa dos que se consideram vencedores. Ou chafurdar no cinismo insuportavelmente vaidoso dos que se consideram acima das paixões políticas.
Não me regozijo. Não chafurdo. Por outra, termino com uma frase que talvez lhe pareça à toa ou aleatória demais neste texto que arrasta melancolicamente os pés pelo papel em branco, sobretudo depois de saber que, em seguida ao espetáculo da diplomação, Lula e seus comparsas foram a uma roda de samba na casa de um famoso causídico. A frase foi tirada da série "The Chosen" e é uma fala do apóstolo Filipe para Mateus: “As pessoas por aí querem nos definir por nosso passado, por nossos pecados. Mas somos diferentes. Acordamos. Todos na sua vida pregressa estão disputando um você diferente do seu agora”.
Quer tiver olhos de ler, que leia e entenda. Quem por acaso ainda estiver com a fé intacta depois de se deparar com a imagem que ilustra esta crônica, que creia. Eu, de minha parte, saio de fininho para procurar a Razão e o Riso que perdi nos últimos dias. Será que esqueci no carro? Talvez a Catota tenha escondido tudo sob o sofá. Deixa eu ver aqui... Não disse?! Ufa.
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