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Para minha surpresa, muita gente reagiu com raiva quando eu disse que os incidentes do 8 de janeiro de 2023 - o Capitólio Tupiniquim - tinham sido fruto de uma catarse estúpida que, embora compreensível, acabou por deslegitimar não só o bolsonarismo, mas também todo o espectro político que insistimos em reduzir ao termo “direita”. Exagero? Pois já estamos acompanhando o movimento judicial que, se não for contido a tempo, ainda há de criminalizar tudo que vá contra o pensamento de esquerda.
A insistência no erro, porém, só me surpreende porque me esforço para ser um parvo, do tipo que ainda acredita na capacidade de autocrítica das pessoas, bem como em sua disponibilidade em reconhecer equívocos e, por meio deles, encontrar algum tipo de redenção. Uma ingenuidade intencional que não pretendo abandonar. Aliás, foi essa minha crença o que me levou a, nos últimos quatro anos, perseverar na minha lutinha tímida contra a soberba da esquerda e dos liberais para os quais nada nunca está bom.
O Capitólio Tupiniquim foi um desastre simbólico. Uma catástrofe política. E, a esta altura do campeonato, não faz nenhum sentido insistir na narrativa de que tudo foi orquestrado pela esquerda. Não foi. No fundo, todo mundo sabe. Porque aquela revolta dos manifestantes você, no íntimo, também estava sentindo. Só que você, diferentemente de quem acredita que defecar na mesa de um juiz do STF é um posicionamento político aceitável, não é louco. Nem se deixou seduzir pelo suposto espírito patriota das Forças Armadas nem pelo messianismo tardio de Jair Bolsonaro.
Aliás, Bolsonaro é causa de outra surpresa e decepção para mim. Porque parte da “direita” insiste em tê-lo como líder. Oquei, até entendo que seja difícil se desapegar de certas figuras carismáticas e, mais do que isso, entendo que não haja outra liderança política viável no horizonte próximo. Mas será tão difícil assim perceber que isso transforma o bolsonarismo num culto à personalidade igualzinho ao que se vê no lulopetismo?
Sem falar que – já está na hora de reconhecer – Bolsonaro causou um estrago enorme para muitas pautas caras à direita ao insistir em pautas que, no proverbial frigir dos ovos, eram caras apenas a Bolsonaro. Pegue a guerra pelo voto auditável, por exemplo. Justa? Sem dúvida. Mas por que em vez de lutar para que Lula permanecesse na cadeia ou ao menos inelegível, Bolsonaro moveu mundos e fundos numa batalha que, para ser vencida, exigia bem mais do que bravatas?
Nos últimos meses, tanto pior. Com seu silêncio misterioso, o ex-presidente autossemiexilado criou a expectativa de que algo, alguém, alguma coisa daria ao povo a Justiça pela qual nós tanto clamávamos. Tic, tac, tic, tac. O tempo passou. Nada aconteceu. Lula subiu a rampa, com direito a cachorro, minorias para inglês ver e tudo. Enquanto isso, Bolsonaro, sabendo que corria (e ainda corre) o risco de ser preso, fugiu do Brasil. Fugiu! Não há outra palavra para isso.
Marta Rocha
Veja bem. Não estou dizendo que Bolsonaro tenha agido assim ou assado por má-fé. Longe de mim. Pelo contrário, acho que cada uma das ações e palavras do ex-presidente ao longo dos último quatro anos foram fruto de um esforço enorme da parte dele. Tanto político quanto intelectual e emocional. Bolsonaro simplesmente tinha limitações. Como todo ser humano. Não era talhado para as coisas da política. Para a mistura abjeta de prudência, sofisticação, maracutaias e conchavos exigida de um presidente.
Tanto é assim que agora Bolsonaro está encalacrado. Se pisar no Brasil, é capaz de ser preso – e, desta vez, apostaria que ele não terá nas ruas a multidão que se reuniu para lhe prestar um apoio legítimo nas megamanifestações de 7 de Setembro. Porque, para o apoiador, uma coisa é estar associado a um homem xingado de negacionista, genocida e fascista por hipócritas que acreditam em horóscopo, usam máscaras até hoje e acham que Mussolini é marca de queijo; outra bem diferente é estar associado a vândalos e a pessoas que, na primeira oportunidade que tivessem, estariam agindo exatamente como a esquerda age agora.
Os incidentes do 8 de janeiro de 2023 foram mais graves do que podem parecer. E não estou nem falando do dano material. Todo o esforço de mais de vinte anos de uma direita que sempre deu o melhor de si para impedir a progressão rápida Revolução Petista foi jogado no lixo. Graças aos vândalos ou à massa revoltosa (de manobra), Lula, com a ajuda do STF, não terá nem mesmo o incômodo de uma oposição decente no Legislativo.
Isso sem falar nas vozes de direita que estão sendo silenciadas, bem como no pequeno poder “democrático” que já chegou ao guardinha da esquina e ao jornalistinha de site de fofoca, que agora se sentem empoderados para agirem com truculência a tudo o que for minimamente interpretado como “ataque às instituições”. Sem falar no poder de Alexandre de Moraes, que era absoluto antes, continua absoluto e tudo indica que será absoluto pelo tempo que durar a parceria com o PT.
Foram quatro anos de muita luta. Pela liberdade. Contra a hipocrisia em todas as suas manifestações. Valeu muito a pena, porque sempre vale a pena lutar pelo que se considera certo. Bolsonaro foi injustamente atacado. Aqui e ali ele fez o certo, embora quase sempre tropeçando nas palavras. Mas o bolo desandou. Betumou. Agora é a hora de olhar para a frente. De, mais uma vez, cansar o braço para que haja bolo em 2026. Mas que desta vez seja um conservadoríssimo pão-de-ló, recheado com um liberalismo caridoso e justo. Ou melhor, que seja um bolo Marta Rocha, aquele da foto lá em cima. (Adoro Marta Rocha!).