Se não é certo, não faça. Se não é verdade, não diga.
- Marco Aurélio, Meditações (XII,17)
Semana retrasada, antes do malfadado Capitólio Tupiniquim, me chamou a atenção uma fala da ministra Simone Tebet. Exaltando a própria coragem, como convém a alguém cuja mão esquerda sabe tudo o que a direita fez, a ministra disse enfrentar o ostracismo e a rejeição no seu estado de origem, o Mato Grosso do Sul, e até em seu condomínio, de cabeça erguida. Afinal, ela estaria fazendo o que considera certo para a história.
Para a história. Uau! É uma baita confissão do que motiva Simon Tebet a se levantar da cama todos os dias prestando mesuras ao painho Lula e sua entourage de esquerdistas radicais: a submissão às forças da história. No livro “História do Paraíso Lulista”, a ser escrito pelo doutor Lenine Enzo da Silva, Tebet espera figurar como uma heroína que lutou contra as forças do fascismo. E hoje em dia ela tem todos os motivos do mundo para acreditar que seu sonho se realizará.
A confissão de Tebet me levou a refletir sobre o que me leva a acordar todos os dias bem cedo, abrir o computador e começar a escrever. A dar a cara a tapa. Mais do que isso: o que me motiva a fazer o que considero certo não apenas no trabalho, mas principalmente na “vida civil”? Pensei no que impulsiona meus acertos, o que explica (mas não justifica) meus erros. Obrigado, dona Tebet. Suas ações e palavras tristemente mal direcionadas me deram o que pensar!
Assim como me deu o que pensar as palavras do iluministro Luís Roberto Barroso. Aproveitando-se da estupidez catártica do 8 de janeiro de 2023, o pobre-diabo correu para as redes sociais. Além de chamar de terroristas os vândalos-de-bengala, Barroso assumiu o caráter espiritual de seu ativismo jurídico. “A Justiça virá. E os Deuses da democracia protegerão as instituições e cobrirão de vergonha os criminosos que procuram destruí-la”, escreveu ele.
Um certo qualquer e manco
O tom messiânico e o erro de concordância no final são de menos. O que salta aos olhos é a credulidade cega numa estrutura política que não se cansa de exibir as imperfeiçoes próprias de qualquer invenção humana. Essa justiça de cafonas colunas jônicas, essa democracia de fachada, essas instituições que são inatacáveis, senão me ferro. Barroso presta contas à Humanidade e, no processo, se sujeita aos vícios da Humanidade.
Voltando a mim, e só para deixar claro ao você aí do futuro que por ventura esteja folheando o segundo volume de “As Piores Crônicas de Paulo Polzonoff Jr. – organização e comentários de seu arqui-inimigo Gumercino Saraiva” [no prelo], tenho cá co’s meus botões que boa parte da crise que vivemos tem a ver com os entes aos quais prestamos contas de nossos atos. Aos entes que respeitamos e tememos. Bem como as recompensas que esses entes podem nos dar.
Tebet faz o certo para a história porque seu objetivo é o reconhecimento histórico. Boa sorte para ela. Barroso faz o certo para o Estado e a Humanidade e o que ele chama de democracia porque essas são as abstrações que lhe falam à alma. Fazer o quê? São tantos iguais a ele... Há ainda quem preste contas apenas “a si mesmo”, sacrificando o certo no altar da inalcançável autoestima. Ou ao Partido. À Causa.
E se você chegou até aqui estranhando a ausência de pessoas que temem a Deus, parabéns! Este é meu argumento desde o primeiro parágrafo: sem que o país tenha quem faça o certo por Deus, acabamos ignorando a possibilidade cotidiana de Salvação, caindo na glorificação mundana das “instituições” e dos homens que as compõem. E o certo deixa de ser o certo para se tornar um certo qualquer e manco. Isto é, por conveniência, acabamos por relativizar o bem em nome de nossos interesses baixos. Dá no que dá.
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