E se eu lhe disser que o ex-presidente Jair Bolsonaro, o indefensável, será preso no próximo dia 7 de setembro? Mesmo que não haja motivos para isso. Mesmo que a prisão não preencha os requisitos constitucionais. Mesmo que tudo se dê ao arrepio do bem comum. Mesmo que a ousadia suprema represente um risco (ínfimo) de revolta popular. Mesmo que neste exato instante você esteja aí me lendo com as sobrancelhas bem arqueadas e aquele ar de “esse cara tá querendo me enganar!”.
Não estou. E, bom, talvez você insista em me chamar de louco desvairado. Neste caso, os parágrafos que se seguem podem ser lidos como a grande piada que não é. Permita-me, porém, convidá-lo a acompanhar meu raciocínio algo hiperbólico e dramático, reconheço. Ele começa com uma anã moral dando palestra no STF e termina com a constatação assustadora de que... Nananinanão. Só no último parágrafo, malandrinho.
Você crava isso?
Vi a notícia de que a cofundadora da milícia digital Sleeping Giants, Mayara Stelle, participará de um evento de “combate à desinformação e defesa da democracia” (zzzzzzzzzzzz) promovido pelo STF. Num primeiro momento, coisa de segundos mesmo, me surpreendi. Logo depois, porém, me veio essa antevisão que não tem nada de premonitória ou científica, nem é um furo de reportagem: o ex-presidente Jair Bolsonaro será preso no dia 7 de setembro.
“Você crava isso, Paulo?”, me pergunta alguém e é claro que cravar eu não cravo. O que faço é profetizar assim à toa para, a partir da notícia de que Alexandre de Moraes receberá e dará ouvidos a notórios defensores da censura, dizer que tudo o que os ministros do STF estão fazendo é uma demonstração de que eles têm hoje um poder ilimitado. Absoluto mesmo. Do jeitinho que você aprendeu nas aulas de história, quando se falava das vantagens da democracia iluminista sobre a monarquia. Um poder que, se der na telha do excelentíssimo destelhado, vai culminar na prisão de Bolsonaro em pleno feriado de 7 de setembro.
Não duvido de mais nada
É por isso que Bolsonaro será preso justamente no dia 7 de setembro: pela simbologia da data. E não me refiro aqui apenas ao catártico “pede pra sair, Alexandre de Moraes, seu canalha!”, dito pelo ex-presidente há dois anos, para uma Avenida Paulista lotada. Estou falando é da própria ideia de Brasil, de brasilidade e de brasileirice – conceitos celebrados no dia 7 de setembro e que foram todos sequestrados pelos membros da corte suprema. Pelos semideuses (ou seriam semi-homens?) que controlam a narrativa e que mandam no país. Ou você ainda acha que quem manda é o Lula?
Pensando maquiavelicamente, que é como essa gente pensa, a prisão de Bolsonaro em pleno Dia da Independência é coisa de gênio. Gênio do mal, mas gênio. Assim, o STF mostra de uma vez por todas que a guerra travada desde 2013 (?) tem um vencedor. Uma guerra que se convencionou chamar de cultural, mas este talvez não seja o melhor termo. Afinal, a cultura pressupõe valores transcendentes que são alheios ao Estado e às ideologias conflitantes. E esta nossa é uma guerra ateia pelo poder temporal.
Que seja. O fato é que cada vez mais o STF vem dispensando disfarces como a máscara patética da democracia relativa. Estão aí os presos políticos, os inquéritos intermináveis, o Estado Excepcionalíssimo de Exceção, a nomeação do causídico Zanin e o conturbadíssimo processo eleitoral que não me deixam mentir. Se a prisão de Bolsonaro se confirmar, pois, este será apenas o sinal mais claro e inequívoco de que o STF mandou às favas os escrúpulos de consciência. Se é que ainda há quem duvide disso. (Há).
Temor a Deus
A prisão de Bolsonaro no dia 7 de setembro, sem lastro jurídico e, repito, indiferente ao bem comum, será a última bolacha de um pacote de atrocidades institucionais que vêm sendo cometidas pelo STF nos últimos anos – a maioria delas tema de editoriais da Gazeta do Povo. Desde a interferência no Executivo, lá no início do governo Bolsonaro, até as prisões políticas. Isso sem esquecer a usurpação do poder durante a pandemia e as, digamos, experiências suprademocráticas durante o processo eleitoral.
E agora aquela constatação assustadora que mencionei lá no começo, lembra? Nada limita os poderes de Alexandre de Moraes e seus colegas, desde os mais ativos, como Gilmar e Barroso, até os que optaram pela omissão e covardia. Nada. Nem a Constituição e muito menos o Senado. E, se você parar para pensar, sempre foi assim. A Constituição, por si só, não é capaz de atrapalhar as ambições totalitárias de ninguém. O Senado, então... Pfff.
A única coisa no caminho entre o déspota em potencial e a concretização da tirania sempre foi a crença na transcendência da alma e o consequente temor a Deus. O medo natural de estar cometendo um erro, um pecado que lhe renderá problemas por toda a Eternidade. Sempre foi isso, e não a tal da letra fria da lei, o que nos impediu de escravizarmos, humilharmos ou exterminarmos nossos semelhantes. Sempre foi esse o limite entre a civilização e a barbárie. E uma vez derrubada essa barreira, c'est fini.
Epílogo
Minha previsão ou profecia pode ser (é) exagerada e dramática. E, cá entre nós, é improvável que isso venha mesmo a acontecer. Mas no estado de coisas atual ninguém pode dizer que se trata de um desvario curitibano digno de camisa-de-força. Nem que é impossível ou mesmo impensável que esse circo de horrores esteja sendo montado para acontecer na mesma hora em que os militares prestam continência a Lula. De qualquer forma, se eu estiver certo, aproveito para deixar aqui os números do próximo sorteio da Mega Sena: 08, 12, 24...
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