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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

E agora, leitor?

E se o Lula se arrependesse e pedisse perdão?

Chorando, confessando, se arrependendo, pedindo perdão e prometendo sair da vida pública Você perdoaria? (Foto: Reprodução/ Twitter)

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Antes de respirar fundo e começar este texto, quero avisar os leitores mais afoitos que. Não. Pode parar! Não quero nada. Acabei de lembrar que não escrevo para leitores afoitos, muito menos para aqueles que leem apenas o título. Agora vou incluir aqui as palavras-chaves “Lula” e “arrependimento” porque o algoritmo é burro e não entende estilo nem firula literária.

[RESPIRA FUNDO] Agora, sim. Este artigo ou crônica ou artinica ou crotigo nasceu no dia em que Lula foi preso e os mais tolos entre nós (eu incluído) acreditaram que finalmente estávamos diante de um Momento Histórico e Definidor: o dia em que um ex-presidente foi em cana. Tudo bem que fosse um xilindró de luxo. Nos contentamos com pouco. Já era alguma coisa.

(E, antes que me perguntem, vou me prolongar um pouco nesta parte para lembrar a alguns esquecidinhos que Lula é um ex-presidiário e não, ele não foi inocentado. Já disse que Lula é um ex-presidiário que não foi inocentado? Caramba, devo estar com Alzheimer, porque juro que já tinha dito que Lula é um ex-presidiário e que ele nunca foi inocentado).

Na ocasião, peguei uma cervejinha e um salaminho para acompanhar toda a epopeia. Lula chega ao sindicato. Lula sobe ao palco. Lula fala de groselhas & jararacas. O Tião Galinha também fala. Corta para o helicóptero. Camburão com o agora ex-presidiário chega ao aeroporto. Senhores passageiros, aqui é o comandante Sergio Moro. Sejam bem-vindos ao voo 13 da Polícia Federal Airways com destino a Curitiba. Nosso tempo estimado de voo é de 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Etc.

(Mal sabia o comandante que esse voo teria uma escala não-prevista, causada por problemas técnicos [uma falha na rebimboca do fachin] no Supremo Tribunal Federal).

Naquele dia, jamais poderia imaginar que hoje, 7 de agosto de 2022, estaria trabalhando na Gazeta do Povo e publicando uma crônica (“uma crônica é o que eu digo que é crônica”) numa coluna com meu nome e até minha foto. Oi, mãe! Olha eu na Gazeta! Uma crônica que daqui a pouquinho, no parágrafo seguinte mesmo, vai falar que Lula, sim, aquele democrata amigo de ditadores, o Lula, não tá lembrado, não?, o do Bessias, da Odebrecht, da Dilma, dos irmãos Batista, do MST e do Palocci... Pois esse Lula é candidato à Presidência em 2022. E tem gente dizendo que ele pode ganhar no primeiro turno (toc, toc, toc).

Como prometido no parágrafo anterior, Lula é candidato à Presidência em 2022. Mas isso não vem ao caso. Ainda. E tomara que nunca. O fato é que naquele dia, ou melhor, naquela noite fui dormir atormentado por uma imagem improvável. Improbabilíssima. E se Lula, em vez de falar de jararaca & falsos salamaleques, tivesse subido ao palco naquele dia e dito que (atenção porque vou usar negrito, itálico e sublinhado para enfatizar as premissas) sua prisão era justa, que ele se arrependia, que pedia perdão a todos, que cumpriria a pena e doaria até o Sítio de Atibaia para as autoridades, e que sairia da vida pública para sempre.

Talvez isso seja literatura fantástica demais para a sua cabeça. Entendo. Para mim às vezes também é. Mas nos permitamos o exercício extremo da imaginação de alto desempenho. Vai, tenho certeza de que você consegue. É só se concentrar. Talvez ajude trocar a voz rouca de Lula por uma voz mais amena. Aquela mesma voz que todos usamos nos nossos arrependimentos mais sinceros. Nos nossos mais desesperados pedidos de perdão.

Se isso acontecesse, você estaria disposto a perdoar Lula? Calma! Não corra ainda para a caixa de comentários. Pense novamente. É um homem pedindo perdão. Mas é o Lula. É o Lula. Mas é um homem pedindo perdão. Se sua resposta for “sim”, oquei, estamos conversados. O perdão nem sempre requer grandes justificativas. Se sua resposta for “não”, tudo bem também. Senão terei que lhe fazer perguntas adicionais e… não dá. O texto está chegando ao fim e, no mais, meu objetivo não é sugerir que, nas condições propostas dois parágrafos acima, você deva ou não deva perdoar Lula. (Antes de encerrar o texto, acende um cigarro Free e pensa: “cada um na sua, mas com alguma coisa em comum”).

O texto era para ter terminado com essa imagem noir do cigarro, mas voltei. Só porque acho que faltou um arremate para minha história. Naquela noite, atormentado pela dúvida louca, corri para a Internet (moro num palacete e o celular estava na Ala Norte) e cometi a ousadia de fazer a pergunta nas redes sociais. A reação e o tom das respostas não me surpreenderam. Como, tenho certeza, tampouco vai acontecer agora. Um pouco mais aliviado, me deitei. E foi assim, com a consciência me cobrando uma resposta à minha própria hipótese fantástica, que adormeci.

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