Este texto é dedicado a Eduardo Bolsonaro. Que, sem nem tomar conhecimento de minha pequena pessoa, e totalmente alheio à minha angústia insignificante, tomou um avião, hospedou-se num hotel confortável, vestiu uma camisa oficial da Seleção Brasileira e se deixou registrar durante o jogo entre Brasil e Suíça pela Copa do Mundo do Catar. E, dessa forma, com esse gesto politicamente admirável de rendição, me deu a tranquilidade que eu tanto buscava.
Porque – vou te falar! – eu não aguentava mais a incerteza tensa resultante das manifestações em frente aos quarteis, da mobilização nas redes sociais, do silêncio presidencial e do interminável tic-tac, agora vai, acredita na estratégia, vamos vencer. Sou ingênuo, reconheço. Tolo, se você preferir. E nutro esperanças confusas. Ou melhor, nutria.
Afinal, foi graças a essa aparição do filho do presidente e deputado federal eleito com o voto de mais de 700 mil pessoas que consegui, finalmente, entender que o que está em jogo no Brasil não é a liberdade. Muito menos a tradição, a família ou a propriedade. Menos ainda a virtude, a honra, a preocupação desinteressada com o bem comum. O que está em jogo no Brasil é um grande nada que, apesar da ebulição atual, tende à normalidade cínica.
Ao vislumbrar o sorriso relaxado de Eduardo Bolsonaro ao lado de uma bela mulher, um personagem fantasiado e de sua esposa, relaxei também e me livrei imediatamente das fantasias politicamente macabras que, meio que por osmose, alimentei nos últimos dias. Recomendo, aliás, que você faça o mesmo. Se nem o filho do presidente está preocupado com a juristocracia ou com a venezuelização do Brasil, por que eu, você, nós estaríamos?
A torcida qualificada de Eduardo Bolsonaro na Copa do Catar foi, de fato, um divisor de águas para mim. Veja só como são as coisas: até ontem resistia à narrativa cínica de que no Brasil crime ocorre nada acontece feijoada. Pensava estar vivendo um momento decisivo. Às vezes até apocalíptico. Saía por aí fazendo afirmações e perguntas temperadas com generosas pitadas de desespero. “Bolsonaro vai ser preso!” numa hora. “O Brasil aguenta Alexandre de Moraes até 2043?!” na outra.
Hoje, porém, posso dizer que, graças ao restaurador banho de água fria de Eduardo Bolsonaro, encontro conforto na certeza de que o futuro que nos aguarda a partir de 1º de janeiro é assustador, mas pelo menos claro e retilíneo: Lula presidirá pela terceira vez o Brasil. Lidemos com essa realidade que, se não apavora Eduardo Bolsonaro, não tem motivos para nos apavorar.
Não se trata de jogar a toalha. Até porque essa luta interminável é por valores caros. Caríssimos. Está mais para respirar bem fundo, fechar os olhos e pedir a Deus forças para enfrentarmos os desafios que nos aguardam depois que virarmos a página dessa caudalosa distopia com ares de chanchada a que damos o nome de Brasil.
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