Não sei o que me deprimiu mais: se o anúncio de que Eduardo Bolsonaro é agora, para todos os efeitos, um deputado exilado nos EUA; se a postura patética da PGR e de Alexandre de Moraes; se o ímpeto totalitário do sempre oportunista deputado Lindblerght Farias; ou se a reação dos ultracentristas (“deusolivre defender alguém com esse sobrenome; vai sujar minha ‘imagem’”). Acho que tudo contribuiu um pouco e agora estou aqui, rezando para São José me dar força. Paciência e força.
Não é pouca coisa
Não é pouca coisa que um deputado federal procure proteção num país livre. Se bem que não é pouca coisa que um ministro do supremo esteja obcecado por esse mesmo deputado. Assim como não é pouca coisa que esse ministro, provocado por extremistas petistas, tenha usado a imprensa simpática ao regime para passar recados de que poderia, sim, apreender o passaporte de Eduardo Bolsonaro por supostamente insuflar uma “intervenção imperialista estadunidense” por aqui.
A coisa tá feia
O gajo está louco. A coisa está feia. O STF está corrompido. A PGR está biruta, lelé da cuca. Eduardo Bolsonaro está com medo – e não há nada de errado com isso. A esquerda está com sede de vingança. E aquilo que a contragosto chamarei aqui de “isentosfera” está tão cega de ódio por tudo e qualquer um associado a Bolsonaro que não consegue entender o cenário mais amplo, perigoso e próximo: o de uma ditadura que, por enquanto, está envergonhada. Mas que, se não for contida, daqui a pouco vai escancarar a bocarra. Aí, amigo, a Inês é morta.
Isentosfera
Digo “a contragosto” porque se tem uma coisa que a tal da isentosfera não é... é isenta. Assim como não é nem se pretende a isenta esta minha reação a essa turma que vive de se colocar acima, bem acima, de nós, os meros mortais. A ralé cheia de imperfeição e esperanças muitas vezes mal depositadas. Não, eles não são isentos. Eles são movidos por um inequívoco ódio contra gente como Eduardo Bolsonaro, que errou e erra e vai continuar errando não necessariamente porque é mau ou burro, e sim porque é humano. Insuportavelmente humano.
Estou falando de mim e de você
Estou falando de Eduardo Bolsonaro, mas também do Jair, do Flávio e do Carlos. E por que não da Michelle? Do Allan dos Santos e do Daniel Silveira. Estou falando do Oswaldo Eustáquio e da Ludmila Lins Grilo. E dos tolos do 8 de Janeiro. Todos são personagens de alguma forma facilmente detestáveis. Gente de atitudes e palavras reprováveis. De mais erros do que acertos. Estou falando de Eduardo Bolsonaro e de todo esse povo aí e outros que deixei de lado. Mas estou falando sobretudo de mim e de você, também nós detestáveis para os que nos detestam.
Detestômetro
Não posso usar meu detestômetro na hora de defender quem é injustamente perseguido, né? Mas é justamente isso o que fazem essas vaidades ambulantes, esses democratas de ocasião, esses manipuladores da indignação, esses oportunistas que não querem macular suas honras perfeitinhas defendendo homens para lá de imperfeitos, como o sempre risível e criticável Eduardo Bolsonaro – aquele dos pen-drives e da Bolso Store.
Esp’rançah con sotake
Aí está o erro que, apesar do tom deste texto, perdoo porque tenho o coração mole e sou um tonto. A defesa de qualquer um tem que se basear em princípios. Por mais que se discorde, e eu discordo, disso que Eduardo vem fazendo e que chamei de esp’rançah con sotake. Ou da retórica violenta de Allan dos Santos. Ou da truculência de Daniel Silveira. Ou mesmo da, digamos, hesitação democrática de Jair Bolsonaro. E princípios não estão nem aí para a nossa imagem perante um público muitas vezes injusto e sedento de sangue.
Djã
Pois. No afã de direcionar a Eduardo Bolsonaro esse desprezo que nutrem pelos inferiores, aos quais chamam de “gado”, os ultraneutros se puseram a compará-lo a Jean Wyllys. O ex-deputado e ex-BBB que, se dizendo perseguido, viveu fora do Brasil durante o governo Bolsonaro. Não é a mesma coisa. Mas não é mesmo. Jean Wyllys saiu do Brasil perseguido pelas vozes em sua cabeça ou no máximo por palavras-que-ferem. No caso de Eduardo Bolsonaro, o aparato estatal está sendo claramente usado para silenciar uma voz da oposição. Não é a primeira (Deltan que o diga) e não será a última.
Coragem alheia
Houve ainda aqueles que preferiram trocar essa falsa equivalência pela covardia de cobrar coragem alheia. Justo eles, que são neutros e mornos porque morrem de medo de serem confundidos com um bolsomínion ou um petista. Ora, também eu queria um líder político de direita capaz de enfrentar abertamente Alexandre de Moraes. E vencer! Mas quem sou eu (quem somos nós?) para cobrar coragem de alguém em clara situação de desvantagem? Por acaso sei o que se passa no coração do Dudu? E mais: será que estou disposto ao martírio que exijo dos outros? É óbvio que não. Você está?
Indignos
A perseguição a Eduardo Bolsonaro, por mais detestável que você o considere, é errada e precisa ser denunciada e combatida. Por princípio. Pela convicção de que o devido processo legal é um avanço civilizatório capaz de proteger a dignidade da pessoa humana. Principalmente daqueles que o Estado, por interesses ideológicos ou obsessões freudianas, considera indignos. Se errou, que seja punido de acordo com a lei e o devido processo legal. Com direito à ampla defesa e à presunção de inocência. E não só porque um ser humano detestável o (nos) considera detestável.