Observando todas as manifestações de apoio à violência revolucionária do Hamas, desde o “foi tarde” de uma tal Fernanda de Melo até o “distanciamento cético” da turma com chapéu de alumínio, me lembrei de Gustavo Corção e Ortega y Gasset (o filósofo, não a dupla sertaneja). Isto é, da necessária descoberta do outro é também a descoberta das circunstâncias do outro. Inclusive das circunstâncias que, em muitos casos, fazem esse outro se transformar num monstro.
Peguemos o exemplo da moça que, diante do assassinato vil, covarde e brutal de Bruna Valeanu, jovem brasileira assassinada pelos mentecaptos do Hamas, não se conteve e precisou dar voz à perversidade que norteia sua visão de mundo. “Foi tarde”, escreveu ela no Twitter, acrescentando um debochado emoji de aviãozinho à mensagem. E aqui reforço que Fernanda de Melo é apenas um exemplo entre as muitas demonstrações do que aqui, por falta de palavra melhor, vou chamar de canalhice. Desse orgulho maligno que perdeu a vergonha de ser errado. De ser pecado.
Outro exemplo digno de nota é Breno Altman, jornalista que percebeu e está aproveitando a oportunidade de expressar livremente sua aversão aos judeus, sem por isso sofrer qualquer sanção do Ministério Público ou do STF. Livre, leve e solto nessa procissão de leprosos morais, ele que é seguido por Lula escreveu no Xuíter coisas como “neste momento não importa a cor dos gatos, desde que cacem ratos”. Sendo que os gatos são os terroristas do Hamas e os ratos (imagem desumanizante criada pelos nazistas) são óbvios.
Há ainda um terceiro tipo, ligeiramente mais discreto, mas igualmente canalha: o daqueles que há muito perderam o contato com o mundo real e que, diante da avalanche de notícias sobre o massacre perpetrado pelos terroristas, correm para vestir o chapéu de alumínio, não sem antes acusarem a existência de uma grande conspiração judaico-americana. Ou seja, é uma gente tão esclarecida e perspicaz (ô!) e temerosa de ser enganada pelas forças da propaganda de guerra, mas que ainda acredita nos tais Protocolos dos Sábios de Sião. Frontal neles!
Mágoas e aplausos
Mas calma! Não vamos dar uma de Roberto Jefferson e ceder aos nossos instintos primitivos aqui. Porque este texto não é um convite à reação rápida que se traduz numa mistura de raiva e nojo. Pelo contrário, este texto é um convite para observarmos caridosamente o outro a fim de entendermos por que a queda nesse esgoto de falsa realização, felicidade e supostíssima inteligência ainda seduz tanta gente. E para perguntar se também nós às vezes não nos sentimos tentados a dar esse passo. A fazer essa troca. A aceitar esse pacto. Se é que você me entende.
No caso da acadêmica que celebrou o assassinato de uma jovem brasileira, como se essa morte específica fosse tornar o mundo um lugar melhor, primeiro fico imaginando as mágoas que a dita-cuja, a Fer, traz às costas. Quem será que a machucou tanto assim, a ponto de o pensamento “vou reagir com um ‘foi tarde’ à morte de uma inocente” passar por sua cabeça e ela decidir compartilhá-lo, dando a todo um universo acesso direto ao seu lado mais podre. Digo, todos nós também pensamos barbaridades das quais nos arrependemos no átimo seguinte. Mas só os canalhas ostentam seu lado mau, perverso, impiedoso e egoísta como se fosse prova inquestionável de inteligência geopolítica, quando não de solidariedade e humanismo.
Por falar em solidariedade e humanismo, ou na falta de, eis que me lembro do jornalista Breno Altman e ouço meu lado mais cínico perguntar: “quanto será que ele está recebendo para passar essa vergonha?”. Mas o cinismo aqui não se cria porque sei que dinheiro não explica tudo. Na verdade, explica muito pouco. Logo, deve ter uma justificativa melhor para o comportamento dessa gente que talvez – talvez! – até lave as mãos depois de ir ao banheiro e peça “licença” e diga “obrigado”, mas que na luta constante entre fazer o certo e o errado escolhe sempre o errado.
Quando dou por mim, estou me perguntando a quem a pessoa, no caso a bacharel em relações internacionais Fernanda de Melo, o militante Breno Altman, as feministas pró-Hamas e centenas de zés-quaisquer estão querendo impressionar com esse apoio explícito ou velado a assassinos e estupradores covardes. Porque no fundo todo esse contorcionismo para ir contra o mais elementar bom senso e todas essas manifestações de lealdade ideológica, inclusive da direita orgulhosa de se dizer reacionária e que só não se declara antissemita por medo de perder o emprego, não passa disso: uma necessidade absurda de pertencer. De agradar. De prestar mesuras ao mundo (Lucas 9:25). De receber aplausos pela transinteligência – aquela burrice que se identifica como inteligência só porque lhe deram um diploma de doutorado com carimbo do MEC. E às vezes nem isso.
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