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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Por que a França é o terreno ideal para a semente da intolerância islâmica

O islamismo se apropria de um valor muito caro ao Ocidente, a tolerância, para impor sua doutrina baseada na submissão. (Foto: Pixabay)

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Escrever sobre o terrorismo islâmico e associá-lo a uma estranha visão de mundo que, apesar do discurso prafrentex, prefere uma doutrina que determina que homossexuais sejam mortos, mulheres adúlteras sejam apedrejadas e infiéis sejam degolados é óbvio demais. Você vai ler isso aos montes por aí - e não há nada de mau nisso. Até porque é preciso reforçar essa curiosa afinidade eletiva, investigá-la e até se indignar com ela.

Também seria fácil falar da ironia histórica que é ver a França, berço do Iluminismo, sucumbir à barbárie de outro ismo, o do terror que corta as cabeças das pessoas em nome de Alá. Menos fácil é explorar a relação entre uma coisa e outra, mas nada impossível. Michel Houellebecq fez bem isso em seu romance satírico Submissão. Aliás, nada mais fácil do que, em meio a notícias de ataques de terroristas islâmicos na França, evocar Houellebecq e seu Submissão.

Fácil e irresistível. Porque, se por um lado Submissão padece do que chamei recentemente de croniquificação do romance, tratando de temas muito próximos do presente e sem aspirar muito à imortalidade, por outro ele consegue expressar toda a sutileza da qual o islamismo faz uso para dominar uma sociedade - no caso, a francesa. Sutileza que, paradoxalmente, inclui a explosão de uma bomba aqui e uma decapitação acolá.

É. Não adianta. Mesmo sendo óbvio, vou ter que dizer. O islamismo se apropria de um valor muito caro ao Ocidente judaico-cristão, a tolerância, para impor sua doutrina baseada na submissão – o que pressupõe uma relação de força entre Alá, opressor, e fiel, voluntariamente oprimido. É um problema incontornável, porque de um lado há toda uma tradição baseada no princípio da misericórdia e do perdão. Do outro, a tradição fala em "guerra santa", punição e danação.

Menos óbvio é o voluntarismo com que parte da inteligência se submete aos Islã, ainda que informalmente. Há explicações possíveis para isso. Há quem fale numa espécie de birra iluminista em relação à cultura cristã. Algo como “o islamismo é ruim, mas é melhor do que o que temos hoje”. Outros, como o próprio Houellebecq, veem na sujeição dos intelectuais ao islamismo apenas uma conjunção de interesses muito pequenos e muito mundanos.

A promessa de revolução do islamismo, ainda que seja uma “revolução para trás”, seduz tanto quanto qualquer ideologia secular extremista. Tanto quanto qualquer peste. Porque, assim como a peste e os regimes políticos assassinos, o Islã promete refundar a sociedade, substituindo os valores vigente por outros que, apesar de caquéticos, são outros. Não há consequência neste raciocínio. O que importa, num primeiro momento, é apenas o desejo de apertar o botão “reset” da civilização.

Isso sem falar na “terceirização da responsabilidade” que o islamismo, em sua faceta mais extrema, usa para conquistar esses guerreiros covardes capazes de cortar a cabeça de uma pessoa que não estava fazendo mal a ninguém. É uma característica bastante semelhante às promessas da religião secular do socialismo, na qual a submissão à vontade do grupo isenta o indivíduo das consequências morais de seus atos. Mata-se em nome de Alá, assim como se mata em nome do proletariado, do feminismo, das causas identitárias.

De uma forma ou de outra, tudo isso está em Submissão, de Michel Houellebecq. E é deveras assustador, ainda que não surpreendente. O escritor francês, contudo, consegue no romance algo que não consegui nem tentei neste texto: extrair algum humor dessa tragédia toda. E Houellebecq só faz isso porque, em sua obra, abdica da imortalidade e, se mira o futuro, é com a resignação sábia de quem se reconhece herdeiro livre de toda essa cultura de tolerância e aceitação. Mas só por enquanto.

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