Flávio DIno: “Me chamaram de ‘gordola’. Tô brabo”.| Foto: Rosinei Coutinho/STF
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É fácil se indignar e até rir da situação: Flávio Dino, ministro da suprema corte que um dia, há não muito tempo, jurou fidelidade à Constituição, processou um cidadão comum depois que ele, o podcaster Monark, o chamou de “gordola”. De acordo com a reportagem desta Gazeta do Povo, Monark chamou Dino também de “autoritário”, “tirânico”, “malicioso”, “perverso”, “fraude”, “maldito” e “filho da p…”. Mas, curiosamente, foi “gordola” o xingamento que mais ofendeu o rotundo ministro.

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Aliás, ex-rotundo. Porque dizem por aí que Flávio Dino estaria usando um desses remédios da moda para afinar a silhueta. Se verdadeira, essa é uma daquelas informações que só corroboram a visão dos ministros (e ministra) como homens (e mulher) vaidosíssimos, cheios de rinoplastia e botox e implante capilar e bariátrica e qualquer coisa que se contraponha à modéstia. Afinal, nossos ministros também são filhos deste nosso tempo bastardo e, mais do que sábios e justos, querem parecer perenemente belos.

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Espelho deformado

Pois bem. Sentindo-se ofendido em seu avantajado íntimo, o ministro entrou com uma queixa-crime e a (muitas aspas) Justiça lhe deu ganho de causa. Monark terá de pagar uma multa de R$50 mil e cumprir pena de um ano e dois meses de detenção em regime semiaberto. Por chamar o Dino de gordola? Sim, por chamar o Dino de gordola.

O caso mostra a que ponto chegou o Judiciário brasileiro, cujos cargos máximos são ocupados hoje por homens (e uma mulher) fragilíssimos e intelectualmente medíocres. Homens (e uma mulher) moralmente corrompidos, seduzidos pelas imagens que veem no deformado espelho da opinião-própria. Mas também revela de que valores é feito um progressismo extremista que não vê problema algum em xingar o outro de “nazista” ou “fascista”, mas que chora no banho ao ouvir uma referência jocosa ao corpanzil inchado e flácido.

Homem portador de pança

Afinal, a obesidade não é apenas uma questão de saúde. É, em nosso tempo de abundância e hedonismo, e excluídas as hipóteses de alguma disfunção endocrinológica, uma questão moral. Porque há no ato de comer muito, comer demais ou comer o suficiente uma escolha entre o excesso e o comedimento. Entre ceder a uma fraqueza ou se apegar a uma virtude. Aliás, aí é que está o ridículo risível dos gordos d’antanho: diante de um pudim ou uma pizza, eles são incapazes de se conter. Ora, não somos todos assim diante dos prazeres que o mundo nos oferece? E falo isso com a vergonha de ser um homem portador de pança e com sérios problemas com a temperança. (Rimou).

Mais do que fragilidade, vaidade, trauma de infância ou abuso de poder, portanto, a insistência de Flávio Dino em processar um sujeito que o chamou de gordola expõe essa visão de mundo na qual o homem, por ser fruto do meio em que vive, não tem responsabilidade alguma por suas escolhas morais. Há sempre alguém ou algo para apontar como culpado: às vezes é a genética, às vezes é um transtorno psiquiátrico desses recém-saídos do forno, às vezes é a religião e às vezes é o coleguinha que rima “baleia” com “saco de areia”.

Misérias e fraquezas

Serve para um ministro do STF e também para quaisquer militantes das causas progressistas, do negro que culpa todos os brancos por seus infortúnios aos [VETADO] que culpam a Criação por não se adequar à realidade subjetiva de seus corpos. Das mulheres que defendem o direito ao aborto para evitar as consequências de seus atos àqueles que desobedecem aos Dez Mandamentos e cometem os sete pecados capitais com a desculpa de “eu tenho direito a ser feliz”.

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O que ofende Dino e os extremistas progressistas das causas identitárias, portanto, e os ofende a ponto de pedirem até prisão de humorista, é ver esfregadas em suas fuças as suas misérias. As suas fraquezas que também são nossas fraquezas. É saber que, apesar de todo o poder e dinheiro, eles não são muito melhores do que o pior dos homens. É ter de se confrontar com a verdade de que não são deuses, nunca foram deuses e jamais serão deuses. E aceitarem a triste verdade de que, seduzidos por essa mentira ancestral, eles fazem tudo o que fazem e perpetram toda sorte de maldade e injustiça... em vão.

Agora me deem licença que vou ali fazer uma boquinha.
Um abraço do
Paulo.

P.S.: Não, não é um guindaste R2000-720.

[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].

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