Vinte e quatro horas se passaram desde que Lula assumiu o poder e, surpreendentemente, ainda não surgiu nenhum escândalo de corrupção. A proeza ética é motivo de comemoração, mas também preocupação, entre a esquerda. Dentro do próprio PT, o clima é tenso. “Ninguém sabe quanto tempo mais eles conseguirão se segurar. É muito pixuleco dando sopa”, disse uma fonte que preferiu permanecer anônima, mas cujo nome começa com "G", de gatuno.
Aliados do atual governo também estão estupefatos com este que deve ser um recorde para a esquerda mundial. “Eu já vi comunista ficar dez ou até doze horas sem levar algum tipo de vantagem escusa. Mas 24 horas é novidade para mim”, afirmou um comunista aposentado cujo nome eu não vou citar porque não sou nem doido. E também porque não estou a fim.
Outro, um baixinho serelepe e de voz fina (não disse quem!) que ocupa um gabinete clandestino dentro de uma corte suprema (não disse qual!), me confidenciou que as 24 horas corruption-free do governo Lula fazem parte da estratégia da esquerda, mas que a gente não perde por esperar. “Diga a seus leitores que eles podem ficar tranquilos. Não faltarão oportunidades”, disse Rand meu informante.
Otimismo mesmo só o da incansável imprensa militante. “É o melhor governo da história!!! Vinte e quatro horas sem escândalo de corrupção. Se continuar assim, vamos chegar a 72 horas! Fora, Bozo!”, analisou, previu e gritou um colega da FENAJ. “Sinto orgulho por ter ajudado a eleger este que já é o governo mais honesto desde que Cabral roubou as terras dos povos originários”, afirmou o chefe de redação de um concorrente para o qual eu não farei publicidade de graça.
Entre a oposição, o quase-consenso é o de que há algo de errado nessa conta. “Vinte e quatro horas? Tem certeza?”, perguntou um jovem deputado recém-eleito que folheava o regimento interno da Câmara. Já para um experiente senador de oposição que se recusou a falar em on, mas que é general, tem nome de um dos Pais Fundadores dos EUA e é maçom, as 24 Horas Sem Dinheiro na Cueca Vermelha são um sinal de que “o Brasil vive seu maior momento democrático”. Em seguida, ele aproveitou para me corrigir: “Mas eu não sou oposição, não. Estou sendo citado no parágrafo errado”.
(Peço desculpas ao General Antônio H. Martins M.)
Apoiadores famosos e anônimos elogiaram a capacidade de autocontenção dos petistas antes viciados em cobrar uma colaboraçãozinha extra para o leitinho das crianças, para a compra de pedalinhos no sítio do amigo ou para a manutenção da ditadura venezuelana. “E tudo isso respeitando as instituições e o Estado Democrático de Direito, sem falar no respeito à natureza. É realmente admirável. Palmas para o Lula!", disse um empolgado apoiador que atende pela alcunha de “Ministro”.
Mentiras
Em se tratando de PT e Lula, contudo, as primeiras 24 horas se revelaram uma tragédia em termos de honestidade retórica. O discurso de posse do tripresidente foi marcado por vários deslizes, gafes, equívocos & ludibriações. Fazer o quê? É da natureza da jararaca e dos que a cercam.
Lula não conseguiu poupar de suas mentiras nem mesmo a caneta com a qual assinou o termo de posse. Num incontido arroubo de populismo, o mitômano-em-chefe disse que havia ganhado o artefato caligráfico de um retirante piauiense em 1989, quando concorreu à Presidência e perdeu para Collor e para o voto então auditável.
Mas os melhores jornalistas investigativos deste país correram para consultar o Google e revelar a constrangedora inverdade: a caneta que Lula usou para se apossar do Brasil é uma Montblanc Writers lançada em 2002, e que custa a bagatela de 6 mil haddads. Perdida entre outras tantas mentiras do discurso de posse, contudo, o caso da caneta já caiu no esquecimento.
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