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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

Buááááááá!

Gugu dadá: regredi à infância para tentar entender a regressão à infância

Tentei passar um dia como um desses marmanjos que gostam de fingir que são bebês (Foto: Bigstock)

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Acordei e, logo cedo, ainda na fila da panificadora, recebi a primeira mensagem com a matéria do UOL mostrando pessoas que regridem voluntariamente à infância como uma forma de “terapia”. A princípio, ri – porque só o riso sabe lidar com esse tipo de coisa. Com o passar das horas, recebi mais e mais mensagens com o mesmo link, a mesma indignação e, aqui e ali, as mesmas piadas e seus respectivos sorrisos amarelos. Se aquele bebezões queriam chamar a atenção, parabéns, conseguiram.

E eis que decidi: passaria o dia seguinte, meu último dia de férias, como aqueles personagens que não se envergonham de serem bebezinhos carentes de cuidados de um adulto. A primeira providência que tomei foi passar na farmácia para comprar uma chupeta. Comprei ainda constrangedoras fraldas para adultos, Hipoglós e papinhas. E só não comprei uma mamadeira porque tudo tem limite.

Ao chegar em casa e ver a chupeta, o pacote de fraldas e dois potinhos de papinha sobre a mesa, minha mulher me olhou como se eu estivesse prestes a anunciar a existência de um filho bastardo. Depois de explicar a ela o esforço de reportagem que só não chamo de hercúleo porque o clichê me dá urticária, fui nanar com a esperança de, no dia seguinte, compreender o que se passa pela cabecinha dessa gente que não vê problema nenhum em homem barbado chupar chupeta, usar fralda e segurar bichinho de pelúcia.

A breve experiência

Acordei com o choro mais estridente que ousei chorar àquela hora e naquela temperatura (0 grau). Por um instante, acreditei que minha mulher fosse se levantar e me trazer uma improvável papinha de café-com-leite, ovos, bacon, pão e manteiga. Mas ela me mandou calar a boca, virou-se para o lado e voltou a dormir. Acho que a ouvi murmurar “que palhaçada!”, mas não tenho certeza.

Saí da cama e fui engatinhando até o banheiro. Meus joelhos quarentões reclamaram. Tomei um banhinho quentinho, ainda que perigosamente solitário para um bebê. Na hora de vestir a fralda, hesitei. Mas a vesti resoluto em não utilizá-la. E, nesse momento, descobri o segundo limite em meu esforço de reportagem.

Engatinhei até a cozinha e me arrependi de não ter comprado joelheiras. Peguei a papinha de maçã. Mas meu paladar normalmente adulto rejeitou aquilo. Foi quando percebi que minha experiência estava fadada ao fracasso. Ser um bebê aos 43 anos é muito difícil, além de doloroso.

Arrastando meus joelhos já inchados pelo chão frio demais, voltei para o quarto, me deitei em posição fetal e ali fiquei por alguns minutos, pensando nas contas de casa, no texto que eu tenho que entregar ao editor, na política macroeconômica de Paulo Guedes, na guerra cultural, nos versos de “Tabacaria” que andam me perseguindo nos últimos dias.

E, incapaz de continuar no personagem, me dei conta de que sou um adulto. E gosto de ser adulto. Me livrei da fralda, cuspi a chupeta longe e, diante de uma esposa que batia impacientemente o pezinho aguardando meu pedido de desculpas, anunciei o fim precoce da minha regressão à infância. “Já não era sem tempo”, disse ela.

Ingenuidade de bebê

Mais do que uma bizarrice jornalística, a matéria do UOL se presta a normalizar o que é evidentemente um transtorno mental. Qualquer pessoa que prefira a vulnerabilidade, a dependência e a primitividade da infância às responsabilidades, prudência e independência da vida adulta precisa de tratamento.

(Se o Estado-babá não houvesse aprovado uma lei federal proibindo castigos físicos a crianças, diria aqui que o tratamento para esses casos se baseia em doses mastodônticas de “nãos” seguidas por uma ou outra “havaiana voadora”).

Para piorar, a exposição desse tipo de coisa acaba por reduzir toda uma geração a uma caricatura. E me custa acreditar que essa tal de Geração Z seja formada por pessoas preocupadas apenas em mudar de sexo, chupar chupeta ou militar pela instauração de um “comunismo humanitário” no Brasil. Deve haver gente boa, normal e com valores admiráveis no meio dessas esquisitices. Tem de haver.

Mais preocupante do que isso, contudo, é a normalização do fetiche sexual envolvido nessa tal de “regressão à infância” – que uma professora citada na matéria chama de “terapia inofensiva”. Afinal, só alguém com uma ingenuidade de bebê é capaz de supor que a relação entre os chupadores de chupeta e seus caregivers é isenta de qualquer erotismo. Daí à normalização da “pedofilia consensual” como uma “terapia inofensiva” é um pulo.

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