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Superelu tem uma habilidade muito importante e muito atual: elu flui de gênero ao menor sinal de perigo. Ou de necessidade.
Superelu tem uma habilidade muito importante e muito atual: elu flui de gênero ao menor sinal de perigo. Ou de necessidade.| Foto: Eli Vieira

Não sei se vocês curtem essa coisa de super-herói e se viram que o novo filme da Marvel, “Eternals”, tem uma heroína surda. Dizem os releases, para a alegria dos progressistas, que a ideia é promover a inclusão, aumentar a representatividade, combater o preconceito. Aquela coisa de sempre que, a gente sabe, começa bem, mas só até alguém propor uma lei que preveja pena de morte para os surdofóbicos e repara$ão para os surdos.

Pensando nisso, elaborei uma lista com 7 super-heróis politicamente corretos para a Marvel. Mas a DC também pode usar, se quiser. São heróis que seguramente abrangerão um amplo espectro dos consumidores desse tipo de coisa e que pegam muito, mas muito bem mesmo para aqueles que querem sinalizar virtude nas redes sociais. Não por acaso, o primeiro deles é o Supercancelador. Mas me adianto. Vamos ao primeiro intertítulo:

Supercancelador

Também chamado de Homoim (Homem Moralmente Imaculado), o Supercancelador é um herói anão que usa os poderes do anonimato e da covardia para cancelar todos os que dizem coisas que o desagradam. Seu arqui-inimigo é a dupla Fato & Bom Senso. E não se pode nem aventar a hipótese de, na verdade, o Supercancelador ser um vilão, e não um herói. Porque quem disser isso estará sendo racista e homofóbico, e corre o risco de ser supercancelado por esse superanão moral.

Superobesas

Originalmente no singular, a Superobesas é tão tão tão gorda que seu campo gravitacional acabou atraindo um plural só para si. A Superobesas não voa, obviamente – e nem precisa. Usando as escaras superafiadas que surgem por entre suas múltiplas camadas de tecido adiposo, a Superobesas luta contra o sexismo e a saúde, personificados em dois vilões: a linda, estonteante e magra Miss Miss e o malévolo, mas ultrassaudável, Dr. IMC.

Superelu

Superelu tem uma habilidade muito importante e muito atual: elu flui de gênero ao menor sinal de perigo. Ou de necessidade. Se, digamos, está numa rua deserta e escura, elu se transforma num destemido ele. Agora, se nessa mesma rua deserta e escura por algum motivo houver uma loja da Louis Vitton, elu vira ela sem nem pestanejar. Dotado de um conhecimento infinito, elu também usa seu superpoder para se adaptar às mais diversas atividades. Elu se transforma em ele quando precisam de um jogador de futebol e se transforma em ela quando precisam de uma modelo, por exemplo. A arqui-inimigo do Superelu é a Dona Biologia, uma senhorinha que, depois de cada ato de malvadeza (como seus tuítes transfóbicos), solta o bordão “Aonde é que isso vai parar?”. Vale dizer que o Superelu forma um bem-sucedido par com o Supercancelador.

Superpacheco

Quem vê assim o Superpacheco na rua, todo engravatadinho e carregando consigo uma pasta executiva cheia de supercarimbos, não dá nada por ele. Mas basta que o Superpacheco veja um problema que ele se põe a agir, a escrever leis carregadas de supermesóclises que, daqui a 20 ou 30 anos, com sorte resolverão todas as formas de injustiça. Agora mesmo, enquanto escrevo essas linhas, Superpacheco age no Congresso para que seja aprovada uma PEC que inclui “segurança climática” como garantia Constitucional.

Supernoia

Esse é o mais controverso dos heróis da Liga da Lacração. Pouco se sabe sobre as origens do Supernoia. Mas, se disserem que ele surgiu na Cracolândia, eu acredito. Seu uniforme consiste de uma cueca por sobre uns trapos e uma camiseta da campanha de Maluf em 1989. Apesar do nome e de votar no PSOL, o Supernoia é bonzinho e combate o tráfico de drogas, por assim dizer, fumando todo o crack que encontra pela frente.

Superpacífico

Não deixe o cabelo rastafari, as roupas de hippie e a fala sonolenta o enganarem. Ao menor descuido do vilão General Taurus o Superpacífico tira um berimbau do seu cinto de utilidades (que inclui também muita massa epóxi e garrafas pet) e se põe a fazer discursos contra as armas e em favor dos direitos das mulheres no Afeganistão. Quando não está promovendo roda de capoeira para assassinos (digo, vítimas da sociedade), o Superpacífico usa seus dons de promotor de hashtag para promover abraços à Lagoa Rodrigo de Freitas.

Superpaulinho

O que é aquilo? É um pássaro?! É um avião?! Não! É o Superpaulinho, professor sindicalizado que usa seus superpoderes de mobilização da catiguria para promover greves eternas e para impedir a volta das aulas enquanto houver um mísero coronaviruzinho no ar. Quando não está voando à toa por aí, Superpaulinho passa seu tempo disseminando a doutrina paulofreireana pelos bancos escolares do mundo todo, com seu inesquecível bordão “Não tem problema escrever iscola”.

* Ilustrações de Eli Vieira.

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