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Antes de começar, eu me pergunto se vai dar certo. Se não é muito ousado. Ou talvez até muito pretensioso. Talvez, talvez. Mas é o que dá viver sob a máxima de que o importante é tentar, sem se ater demais às consequências. De qualquer forma, o pior que este texto pode causar no leitor é enfado. Então vamos ver se a brincadeira funciona. Os que não estiverem a fim de brincar podem ler o texto em sua versão linear logo abaixo. [Vá para o § 8]
[2] (Como este, talvez?) [Vá para o § 7]
[3] Em seu livro mais recente, Breaking Bread With the Dead [algo como “Comungando com os mortos], Alan Jacobs, autor que vivo citando por aqui, discorre sobre essa relação de generosidade que precisamos fomentar com os textos que nos propomos a ler. Ele fala dos textos de autores mortos, sobretudo de autores que são racistas, antissemitas, homofóbicos e machistas, mas, como estou vivinho da silva e não sou nada dessas coisas, decidi me apropriar. Jacobs, sempre muito generoso, sugere que levemos esse exercício às últimas consequências, nos expondo sobretudo a textos que nos desagradam. [Vá para o § 2]
[4] Enquanto houver leitores generosos como você, dispostos a brincar de amarelinha na noite de sábado só pelo prazer da brincadeira, escrever vai continuar valendo a pena. Até porque, neste jogo jogado desde que saímos da cama até a hora de dormir, o objetivo é nobre e um só: o Céu. [Você chegou ao Céu]
[5] A ideia, aqui, é falar um pouco sobre a generosidade do leitor. Advogo em causa própria, reconheço. Não só eu, mas todos nós que lidamos com a palavra escrita precisamos da generosidade do leitor para nos fazer compreendidos. Não é um esforço que se compare a levantar uma parede ou roçar uma plantação de feijão no semiárido, mas ainda assim é difícil. A atenção e generosidade do leitor nunca estiveram tão escassas. E a vida nesse garimpo é para lá de insalubre. [Vá para o § 9]
[6] Viver de escrever é um privilégio pelo qual sou extremamente grato. E espero que este e todos os meus textos futuros deixem clara essa gratidão. Nem sempre consigo me fazer compreendido como gostaria, aqui e ali tenho ideias malucas como esta e às vezes uso uma palavra só para acordar no meio da noite e pensar noutra melhor. Mas isso é próprio do ofício. [Vá para o § 4]
[7] O objetivo é justamente substituir a hostilidade muito própria do nosso tempo pela curiosidade genuína e o embate saudável. Um embate que pode se dar publicamente ou nas entranhas da alma, ao gosto do freguês. E ele vai além, sugerindo que, de vez em quando, exercitemos a defesa de pontos de vista flagrantemente contrários aos nossos. Só para que percebamos como, no fundo, é fácil defender qualquer ideia, por mais absurda que ela pareça. [Vá para o § 6]
[8] Claro que me inspirei em O Jogo da Amarelinha, o impagável romance de Cortázar no qual o leitor é convidado a avançar pelos capítulos numa ordem incomum. Influenciado pelo jazz, Cortázar escreveu o livro numa época em que a graça era explorar novas formas de liberdade e improviso. Escrevo este texto numa época em que as pessoas se recusam a ler qualquer coisa com mais de dois parágrafos e que tumultue a visão de mundo delas. Azar o meu. [Vá para o § 5]
[9] Se você chegou até aqui, ótimo. Me sinto mais do que satisfeito. E o venero, leitor, porque você é uma raridade. As muitas métricas proporcionadas pelos sistemas de análise me mostram que a maioria dos leitores jamais avança até o último parágrafo. Que, neste caso, só é o último para a brincadeira fazer sentido. Boa parte dos leitores, aliás, se contenta apenas com o título. Quando consigo fazer alguém chegar até a metade de um texto, me dou por satisfeito e até abro um espumante. [Vá para o § 3]
VERSÃO LINEAR
Antes de começar, eu me pergunto se vai dar certo. Se não é muito ousado. Ou talvez até muito pretensioso. Talvez, talvez. Mas é o que dá viver sob a máxima de que o importante é tentar, sem se ater demais às consequências. De qualquer forma, o pior que este texto pode causar no leitor é enfado. Então vamos ver se a brincadeira funciona.
Claro que me inspirei em O Jogo da Amarelinha, o impagável romance de Cortázar no qual o leitor é convidado a avançar pelos capítulos numa ordem incomum. Influenciado pelo jazz, Cortázar escreveu o livro numa época em que a graça era explorar novas formas de liberdade e improviso. Escrevo este texto numa época em que as pessoas se recusam a ler qualquer coisa com mais de dois parágrafos e que tumultue a visão de mundo delas. Azar o meu.
A ideia, aqui, é falar um pouco sobre a generosidade do leitor. Advogo em causa própria, reconheço. Não só eu, mas todos nós que lidamos com a palavra escrita precisamos da generosidade do leitor para nos fazer compreendidos. Não é um esforço que se compare a levantar uma parede ou roçar uma plantação de feijão no semiárido, mas ainda assim é difícil. A atenção e generosidade do leitor nunca estiveram tão escassas. E a vida nesse garimpo é para lá de insalubre.
Se você chegou até aqui, ótimo. Me sinto mais do que satisfeito. E o venero, leitor, porque você é uma raridade. As muitas métricas proporcionadas pelos sistemas de análise me mostram que a maioria dos leitores jamais avança até o último parágrafo. Que, neste caso, só é o último para a brincadeira fazer sentido. Boa parte dos leitores, aliás, se contenta apenas com o título. Quando consigo fazer alguém chegar até a metade de um texto, me dou por satisfeito e até abro um espumante.
Em seu livro mais recente, Breaking Bread With the Dead [algo como “Comungando com os mortos], Alan Jacobs, autor que vivo citando por aqui, discorre sobre essa relação de generosidade que precisamos fomentar com os textos que nos propomos a ler. Ele fala dos textos de autores mortos, sobretudo de autores que são racistas, antissemitas, homofóbicos e machistas, mas, como estou vivinho da silva e não sou nada dessas coisas, decidi me apropriar. Jacobs, sempre muito generoso, sugere que levemos esse exercício às últimas consequências, nos expondo sobretudo a textos que nos desagradam.
(Como este, talvez?)
O objetivo é justamente substituir a hostilidade muito própria do nosso tempo pela curiosidade genuína e o embate saudável. Um embate que pode se dar publicamente ou nas entranhas da alma, ao gosto do freguês. E ele vai além, sugerindo que, de vez em quando, exercitemos a defesa de pontos de vista flagrantemente contrários aos nossos. Só para que percebamos como, no fundo, é fácil defender qualquer ideia, por mais absurda que ela pareça.
Viver de escrever é um privilégio pelo qual sou extremamente grato. E espero que este e todos os meus textos futuros deixem clara essa gratidão. Nem sempre consigo me fazer compreendido como gostaria, aqui e ali tenho ideias malucas como esta e às vezes uso uma palavra só para acordar no meio da noite e pensar noutra melhor. Mas isso é próprio do ofício.
Enquanto houver leitores generosos como você, dispostos a brincar de amarelinha na noite de sábado só pelo prazer da brincadeira, escrever vai continuar valendo a pena. Até porque, neste jogo jogado desde que saímos da cama até a hora de dormir, o objetivo é nobre e um só: o Céu.