Sempre quis usar a palavra “furdunço” num título. E não é que consegui? Graças a Alexandre de Moraes, sua honra ultrassensível e frágil, e à polícia italiana que, depois de um périplo típico daquelas plagas também flageladas pela burocracia, finalmente parece ter enviado para apreciação pública as imagens do que quer que tenha acontecido entre o ministro supremo e seus “admiradores” no aeroporto Fiumicino, em Roma.
As imagens já estariam nas mãos das autoridades brasileiras. Do Ministério da Justiça, justamente aquele comandando pelo apagador-mor Flávio Dino. Daqui a pouco, portanto (isto é, se ninguém apertar a tecla DEL assim sem-querer-querendo), é bem capaz de as imagens pipocarem por aí e por aqui, transformando este texto que escrevo com tanto esmero em folha virtual de forrar gaiola de passarinho – também virtual. De qualquer forma, assim que você estiver se divertindo ou se revoltando com o que aparecer na tela da sua TV ou celular, lembre-se.
Narrativa
Lembre-se de que, no exato momento em que escrevo este texto, um ou mais jornalistas ou produtores estão acionando seus contatinhos para conseguir assistir em primeira mão ao entrevero. Se bem que algo que envolve Alexandre de Moraes está mais para desinteligência. Que seja. O fato é que entre as pessoas que farão o favor de vazar essas imagens para nós, da imprensa, haverá as que ambicionam a glória e estão disposta a tudo para consegui-la. Tudo mesmo.
Sem querer soar imperativo, mas recorrendo ao inevitável modo verbal: lembre-se ainda de que a primeira pessoa a disponibilizar essas imagens será quem dará o tom da narrativa. Uma narrativa que já foi cansativamente discutida há algumas semanas e que será mais uma vez discutida agora. Haja fôlego cívico! E uma narrativa que dificilmente se distanciará muito da ideia de que Alexandre L’État c’est moi Moraes foi gravemente agredido por palavras capazes de abalar a Democracia, aquela que se escreve com um “d” maiúsculo que só se mantém inflado pelas mentiras supremas.
Pipoca
Mas eu dizia para você se lembrar e continuo nessa toada. Ao assistir à cena, lembre-se de que haverá pessoas, milhares delas, dedicadas a esmiuçar frame por frame do vídeo. E a ver em cada gesto um sentido que corrobore não a verdade (o que quer que signifique isso nesse contexto), e sim toda uma cosmovisão muito subjetiva. Haverá, portanto, diretos e ganchos que serão de direita e de esquerda não só no sentido espacial. Serão também conservadores ou progressistas e democratas ou fascistas, de acordo com a conveniência.
Por fim, se pergunte com a maior sinceridade possível se você está disposto a ser convencido do que quer que seja por essas imagens de Roma. E, se não for pedir muito, tente responder com a mesma sinceridade. Mas não sem antes se lembrar de que a maioria das pessoas não está disposta. (Eu estou?). Lembre-se ainda de pôr a cerveja para gelar antes do Jornal Nacional. E de fazer pipoca. Salgada, claro. Com bastante manteiga.
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