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FILIPE MARTINS
Com ou sem palavras enfáticas de Bolsonaro, libertem Filipe Martins!| Foto: Arthur Max/MRE

Apesar das muitas provas já existentes e devidamente apresentadas, o ministro Alexandre de Moraes pediu e o Departamento de Estado dos EUA respondeu: Filipe Martins, ex-assessor para assuntos internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro, não viajou para os Estados Unidos no período usado pelo ministro como justificativa para mantê-lo preventivamente preso pelo crime de existir.

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Não que isso vá mudar alguma coisa. Afinal, está na cara que a relação entre Moraes e Martins não é mais jurídica, e sim pessoal. É uma relação que não me cansarei de chamar de sádica enquanto sádica for. Em todo caso, a notícia me lembrou de um acontecimento recente envolvendo meu colega de Gazeta do Povo, Leonardo Desideri, e o filho 03 de Bolsonaro, Carlos.

Conselho de amigo

Pois bem. Outro dia Desideri publicou uma ótima matéria sobre a prisão ilegal de Filipe Martins. E, já no título, ousou mencionar o constrangedor, estranho e sobretudo triste silêncio do ex-presidente Jair Bolsonaro. O Zero-três não gostou e, pelas redes sociais, chamou meu colega de janones, digo, de mentiroso para baixo. E aqui faço questão de enfatizar que mentiroso é uma coisa que o Desideri não é.

Mas o ponto aqui não é a honestidade intelectual inquestionável do meu colega. Nem a linguagem pouquíssimo sofisticada do Carluxo. O ponto aqui é o método de uma parcela do bolsonarismo que se recusa a ouvir aquele conselho de amigo, sabe? Aquelas palavras que podem doer agora, mas pelas quais um dia você ainda há de agradecer – como provavelmente você já ouviu da sua mãe. Uma parcela do bolsonarismo que enxerga inimigos por todos os lados.

O Flá, o Dú e o Cá

Aliás, para além das muitas trapalhadas, um dos maiores problemas dos filhos de Bolsonaro, e que culminou com a volta de um ex-presidiário à presidência, por mais dúvidas que se possa (não pode!) ter em relação ao processo eleitoral, foi o furor com que o Flá, o Dú e o Cá blindaram o pai de quaisquer críticas. E, tudo bem, entendo e concordo que a maioria das críticas a Bolsonaro e ao bolsonarismo foram e ainda são muito desonestas. Mas não todas.

Sempre houve quem fizesse críticas pontuais, necessárias e até inteligentes – como o sujeitinho que certa vez ousou aconselhar que, à maneira dos imperadores romanos, Bolsonaro andasse sempre com uma pessoa cuja função seria lhe sussurrar no ouvido: lembre-se de que é você é mortal. E como a de Desideri, que apenas cobrou de Bolsonaro uma atuação mais enfática quanto aos presos políticos, incluindo o ex-assessor Filipe Martins.

Só que esse dar de ombros para opiniões minimamente críticas foram uma constante no núcleo duro do governo Bolsonaro. Resultado: Lula presidente, Bolsonaro inelegível e Alexandre de Moraes invencível. Posso estar enganado (sempre posso), mas esse cenário aí não me parece o mais auspicioso. Muito menos consequência de uma estratégia política bem-sucedida.

Dever do líder

De um ponto de vista meramente pragmático, e levando em consideração a situação delicada do ex-presidente, que ainda pode ser preso a qualquer momento, talvez não seja prudente. E concordo que as palavras de Bolsonaro às vezes mais atrapalham do que ajudam. Mas nem tudo nesta vida pode ser reduzido ao cálculo político. Ou será que já abandonamos o velho e bom conceito de honra?

Por isso é que digo: do ponto de vista moral, daquilo que um líder deve fazer, independentemente das consequências de curto prazo, chega a ser uma indecência Bolsonaro não estar, todos os dias e o tempo todo, pedindo a libertação de todos os presos políticos do Brasil. Inclusive Filipe Martins e Daniel Silveira, que dele recebeu a graça presidencial – e depois foi desgraçado pelo STF. Mas principalmente pelas Déboras e os Jaimes, vítimas menos famosas do sadismo supremo.

Discorda de mim? Tudo bem. Nunca pretendi ter o monopólio da verdade e não é agora. O que não vale é pressupor que nessa minha opinião haja qualquer tipo de ma-fé. Ao escrever estas palavras, tampouco pretendo “dividir a direita”. Nem bancar o isentão. Nem pagar pedágio. Nem nada disso. Minha única intenção aqui é ressaltar quão grave é termos presos políticos no Brasil. Gente encarcerada, separada da família e impedida de conseguir atendimento médico adequado por, sejamos francos!, defender ou apoiar Bolsonaro.

Uma forma de corrupção

Para além do policiamento dos Bolso Brothers, a dificuldade de criticar o ex-presidente é que Bolsonaro ainda, e apesar de inelegível, significa pesadelo para uns e esperança para outros. E nessas horas fico me perguntando: quem sou eu para reforçar a imagem diabólica ou angelical que se faz de Bolsonaro? Ninguém. Deusolivre tirar da esquerda esse bode expiatório que dá sentido à vida de tantos; deusolivre tirar da maioria dos meus leitores o que eles talvez considerem sua maior esperança – ainda que inelegível.

Para piorar, sou um jornalista atuando como cronista – e todo mundo sabe que jornalista é vendido e escritor é comunista. “Esse safado nunca me enganou!”, é capaz de alguém estar dizendo agora mesmo. E não o culpo. Por outro lado, me omitir com medo de vaias me parece uma forma de corrupção. Parece não, é uma forma de corrupção. A que eu (e aposto que o Desideri também) não estou disposto. E antes que me esqueça: libertem o Filipe Martins!

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