Há quase um ano, entrei semivoluntariamente em quarentena. Ou isolamento social, chamem como quiser. Desliguei o computador, recolhi as coisas das minhas gavetas e grudei um post-it no monitor. Nele, lê-se: “Espero que em breve estejamos rindo novamente! 18/3/20”. Por que esqueci de pôr o pingo no ponto de exclamação todo estilizado é um mistério. Mas não importa. O que importa é que o “em breve” significava as duas semanas que, me garantiam os especialistas, seriam o bastante para “achatar a curva” e evitar um colapso do sistema de saúde. A vida voltaria ao normal.
As duas semanas se transformaram em meses. Em pouco tempo, os especialistas se esqueceram do tal achatamento da curva, substituído pela panaceia chamada lockdown. Depois surgiu a obrigatoriedade de se acreditar na eficácia das máscaras. Vieram as ondas, os picos e até o boato de que cachorro transmitia Covid-19. Cloroquinenses e mandettanos travaram uma disputa feroz pela narrativa. O medo, o genocídio, a falta de oxigênio. Em seguida, quando a pandemia dava sinais de perder força, surgiram as mutações, as variantes britânica, sul-africana e amazonense. Até que apareceu a vacina e os mais ingênuos acreditamos que seria o fim. Ou melhor, o recomeço.
Ledo e ivo engano, como diria alguém, acho que o Cony. Quase um ano se passou e eu estou aqui, trabalhando na solidão do lar, tendo apenas a Catota por companhia. Enquanto isso, vários estados brasileiros anunciam novamente medidas restritivas totalitárias, que beiram a ilegalidade e chafurdam na imoralidade e que já se provaram ineficientes para conter a pandemia de Covid-19. Mesmo com a aplicação da vacina. Mesmo com a Argentina aqui pertinho para nos provar que lockdowns não servem para nada.
Lockdown, inventado na China, importado pela Itália e distribuído para o mundo todo como a solução estatal para a pandemia, é como o comunismo: é imoral e nunca serviu para nada além de gerar sofrimento. Mas vamos tentar de novo para ver se quem sabe talvez tomara agora dê certo.
A novidade é que, ao uso obrigatório de máscaras e ao lockdown, junta-se agora ao eufemismo canalha das “medidas restritivas” o famigerado toque de recolher. Aqui no Paraná, ele vigorará das 20h às 5h, horário em que o vírus sai para caçar principalmente idosos e obesos desprotegidos. A justificativa oficial e supostamente (e bota supostamente nisso!) científica é a de que a medida evitará aglomerações. A verdade é que o toque de recolher está sendo decretado porque o Estado pode tudo.
O Estado pode tudo
O Estado pode tudo. Essa é a grande lição a se aprender com essa pandemia. O Estado pode impedir que você trabalhe e ganhe seu sustento. O Estado pode proibi-lo de sair à rua. O Estado pode coagi-lo a usar um pedaço de pano inútil no rosto, até mesmo na praia. Aliás, o Estado pode cancelar o mar. E, como se não bastasse, o Estado pode até interferir na sua fé.
De longe eu escuto o contra-argumento: “É tudo para uma boa causa. Para salvar vidas”. Quem diz isso pertence a um de três grupos. Ao dos sábios que mentem para si mesmos porque têm medo de se verem esmagados pela onipotência do Estado. Aos dos que obedecem bovinamente aos ditames do Estado totalitário travestido de democracia. Ou ao grupo dos que, neste exato momento, leem minha coluna recostados no sofá, bebericando um vinho e certos de que o salário pago com o dinheiro do contribuinte cairá na conta.
Dito isso, concluo que o melhor a fazer, antes de ter um colapso nervoso, é encerrar pedindo filiação ao primeiro grupo e, de pronto, fazendo uma autocrítica enfática: estou errado. Afinal, quem sou eu para questionar a sapiência do Estado e seus bem-intencionados tecnocratas? O Estado faz o que faz porque quer o nosso bem. Ele toma decisões difíceis. É tudo por uma boa causa. Para salvar vidas.
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