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LULA CAPACIDADE DE ME INDIGNAR
Lula & Janja numa foto para você que, ao contrário de mim, não perdeu a capacidade de se indignar.| Foto: Ricardo Stuckert/PR

Vejo o dólar a R$5,70 – e não tenho a menor ideia de onde a deixei. Leio que Lula anda falando em cobrar imposto sobre “carnes chiques” – e reviro os armários e gavetas e olho embaixo do sofá e nada de encontrá-la. Outra do Lula, que nos últimos dias se transformou numa metralhadora de asneiras recheadas de perversidades: “O povo vai ter que aprender a gostar da democracia” – e em tempos normais eu teria muito a dizer sobre essa ameaça, mas não tem jeito. Não encontro a minha capacidade de me indignar em lugar nenhum.

E nem vai adiantar você fazer coro com a minha mulher, dizendo “Se eu for aí e encontrar, vou esfregar na sua cara!”. Porque já procurei por tudo e não encontrei a minha velha, surrada e outrora confiável capacidade de me indignar. Não está em lugar nenhum! Nem na geladeira, onde acabo de encontrar uma inacreditável notícia sobre “os benefícios do pé de galinha” – miúdo que Lula ainda há de transformar em iguaria. Acredita numa coisa dessas?

Antes, quando minha capacidade de me indignar estava ao alcance da mão, uma demonstração de servilismo (a palavra é esta: servilismo!) como essa me faria, no mínimo, soltar um palavrão. Agora primeiro bocejo, temendo ter sido engolido pelo cinismo inerente à minha profissão. E depois solto as interjeições de sempre. Digo que não é possível, que isso é inaceitável e lamentável. Mas é possível e, por mais que lamentemos, no final das contas aceitaremos todas as coisas ditas e feitas por Lula e os seus.

Como se um presidente que governa motivado pelo desejo de vingança fosse a coisa mais normal do mundo. Como se um governo viciado em criar impostos para gastar e gastar e gastar fosse normalíssimo. Como se a proximidade entre Lula e empresários suspeitíssimos fosse tão natural e admirável quanto o sol que se ergue no horizonte. Ora, como se não houvesse nada de mais no líder de uma nação supostamente (e bota supostamente nisso!) democrática que chama seus críticos de “titica de cachorro”.

“Dinossauro idiota”

Donde concluo, pensando que talvez eu tenha esquecido minha capacidade de indignação no carro, que o brasileiro conseguiu a proeza de normalizar o caos. A tal ponto que anormais nos tornamos nós, digo, vocês que não perderam a capacidade de se indignar e que não economizam nos ponto de exclamação para expressar a sensação de que vivemos um pesadelo do qual está difícil acordar depois que o Xandão nos pôs para dormir com um mata-leão.

Desço até a garagem prometendo a São Longuinho os tradicionais três pulinhos. Abro o carro e lembro que, segundo a porta-voz Daniela Lima, Lula estaria ameaçando tomar medidas diplomáticas drásticas (sic) contra Javier Milei, que o chamou de “dinossauro idiota”. Tateio os bancos e nada. Abro o porta-luvas (vai quê!) e me lembro que o Pantanal está pegando fogo e os artistas e militantes ecochatos estão em silêncio. Nada.

Estou prestes a desistir quando me vem à mente a imagem do senador Marcos do Val dizendo, mais uma vez, que tem provas de que Alexandre de Moraes fraudou as eleições. E pode haver alguma coisa pior do que essa sensação de estar sendo pisoteado pela esquerda, gritar “Socorro!” e não ter absolutamente ninguém a quem recorrer, nenhum líder a seguir, nenhuma autoridade a respeitar? Vai ver está aqui embaixo do—

Achei!

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