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Polzonoff

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Aquela treta do aeroporto de Roma

Família Mantovani x Xandão: você se retrataria ou iria até as últimas consequências?

MANTOVANI
Alexandre de Moraes e filho durante discussão com família de Roberto Mantovani no aeroporto de Roma, em julho de 2023. (Foto: Arquivo pessoal/Roberto Mantovani)

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O desfecho do entrevero entre as famílias Mantovani e Moraes no aeroporto de Roma é triste. Triste porque injusto. A família se retratou com as, entre aspas, vítimas e o ministro Dias Toffoli, relator do caso, extinguiu o inquérito. Lembrando que os Mantovani foram acusados não só de ferir a honra e de ameaçar a integridade física de Alexandre de Moraes, mas também de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Nulidades e ilegalidades

Sim, teve isso. O caso, aliás, é cheio de nulidades e ilegalidades evidentes numa democracia. Numa democracia. Mas não vivemos mais numa democracia plena, você sabe e eu estou careca (!) de saber, e o maior sintoma disso é termos no Supremo Tribunal Federal um ministro que se considera a encarnação do Estado Democrático de Direito. Aliás, é praticamente uma democracia ambulante, o Xandão.

Furdunço

A Gazeta do Povo cobriu exaustivamente o assunto e todos os absurdos jurídicos que o cercam. De nada adiantou. Dias Toffoli não liberou as imagens do furdunço e, por isso, ficamos com a palavra de um ministro do STF contra a palavra de um cidadão comum indignado com a atuação desse ministro. Adivinha quem venceu?

Reverentemente

Os alexandretes, claro, estão em festa. Falam que a retratação foi uma confissão. Até por isso fui atrás do documento, na esperança de encontrar um relato divertido e emocionante contrito do pecado mortal de parlar umas poucas e boas nas fuças do Mr. Democracia. Mas que nada! A retratação se limita a seis linhas nas quais Roberto Mantovani Filho, Andreia Munarão e Alex Zanata Binotto se retratam reverentemente com as vítimas. Esse advérbio aí dói. Dói demais.

Covardia

Diante do desfecho algo decepcionante e, repito, triste e injusto, houve quem reagisse com raiva. Dos Mantovani, que largaram os bets. Como eles ousam pedir desculpas a Alexandre de Moraes, mesmo estando com a razão?! Houve quem falasse até em covardia e aí achei demais e vim aqui escrever este texto. Não há nada de covarde na retratação dos Mantovani. Pelo contrário, a covardia está em quem usa o aparato estatal para perseguir desafetos pessoais.

Circunstâncias alheias

Mas entendo. Afinal, vivemos a Era da Sinalização das Virtudes e é muito fácil bancar o corajoso em circunstâncias alheias. Confesso que às vezes também sou assim. No lugar do Deltan Dallagnol, por exemplo, injustamente cassado por um TSE enviesado e covarde, me imaginei trancafiado no gabinete, do qual só sairia à força. Em outras situações, me imaginei fazendo greve de fome. Teve ainda aquela vez que... Melhor deixar pra lá.

Prudência

Quando, na verdade, o que os Mantovani estão fazendo é exercer a virtude da prudência – aquela que todo mundo confunde com cautela e receio, mas não é nada disso. Prudência é a virtude que usa a razão prática para identificar, em qualquer circunstância, nosso verdadeiro bem e para escolher os meios adequados para realizá-lo.

Mesmo assim e mesmo assado

Mais do que isso, como diz o padre Josep-Ignasi Saranyana, “a prudência se baseia na memória do passado, no conhecimento do presente e, até onde é possível ao homem, na previsão das consequências da decisão”. E a gente sabe qual seria a consequência se os Mantovani tivessem decidido ir até fim com essa história: condenação. Mesmo que o “crime” tenha sido cometido na Itália, mesmo sem o amplo direito à defesa, mesmo assim e mesmo assado.

Vitória para fora, derrota para dentro

Agora pelo menos eles talvez possam dormir mais tranquilos. Ao passo que o adversário, tenho certeza, se sentirá vitorioso. Isso nos humilha, eu sei. Mas é aquela vitória para fora e derrota para dentro. Porque no fundo, ou nem tão no fundo assim, eles sabem. Ah, se sabem! E, em sabendo que um dia haverão de prestar contas das injustiças que estão cometendo, sofrem. Em silêncio, talvez; chorando no banho, talvez. Mas sofrem. Ah, se sofrem!

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