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O ministro (é ministro ainda?) e veterinário Onyx Lorenzoni acredita que insetos e pássaros ajudam a propagar a Covid-19. Já a secretária de Saúde de Curitiba está certa de que proibir a venda de um brinquedinho para o seu gato vai salvá-lo da pandemia. No mesmo nível intelectual está o vereador que propôs que se usasse aviões agrícolas para pulverizar álcool em gel sobre uma cidadezinha qualquer. E o que dizer dos que querem tornar cloroquina e ivermectina drogas tão proibidas quanto a cocaína?
Diante dessa fauna multicolorida, minha primeira reação é parar no meio da rua e ralhar para as nuvens: quem são essas pessoas e por que elas se consideram no direito de falar o que falam e de tomar as decisões que tomam? Quem legitima a ignorância institucionalizada? Que tipo de feitiço se abateu sobre a Humanidade (no caso, sobre os brasileiros) para que submetêssemos nossa sensação de segurança e liberdade aos arbítrios dessa gente cuja sabedoria não reconheço?
São essas as pessoas que dizem ter a solução para a pandemia tornada peste tornada tragédia. Ora são flautistas de Hamelin nos seduzindo com a melodia infantil de suas panaceias eleitoreiras, ora são Mestres do Magos nos iludindo com sua sabedoria de almanaque inútil, mas, ó, tão poéticas e científicas as palavras. E os dias vão passando e as bobagens se acumulando e a ignorância transbordando e destruindo tudo numa torrente de insanidade esclarecida.
Controle pelo medo
Tudo isso com um objetivo que não dá nem para chamar de má-fé, porque má-fé implica uma capacidade mínima de articulação: o controle do semelhante pelo medo. E o pior é que, pelo que indicam minhas conversas e meus pensamentos logo que dou uma tossidinha mais carregada, está dando certo. Você se distrai um segundo e sente o pânico aflorar e já corre para a janela rezar para esses santos contemporâneos de terno mal cortado, gravata cafona e prosódia de estelionatário.
Se bem que não entendo minha própria surpresa. Não é a primeira vez na história que o medo nos domina, com consequências sempre nefastas que insistimos em não aprender. Dificilmente será a última.
De novo, e não sei se por preguiça ou porque estávamos ocupados com coisa mais importante ou distraídos assistindo a mais uma série ruim, mas imperdível, da Netflix, entregamos nossas vidas e as vidas das pessoas que amamos a déspotas mais ou menos esclarecidos. A pessoas que usam expressões vazias como “contribuir para o bem comum” para justificar ou camuflar o diabólico objetivo de controlar o semelhante, com a esperança macabra de criar um mundo perfeito.
Ou, neste caso, de “restaurar o antigo normal”, acabando com uma pandemia que a gente já percebeu que não terá fim no curto prazo. Não enquanto o medo continuar rendendo dividendos eleitorais, quando não financeiros. Não enquanto os mortômetros diários nos alertarem para a finitude da vida. Não enquanto entoarmos o mantra de que os especialistas são nossos pastores e nada nos faltará.
Fica para a próxima
Agora que políticos e tecnocratas perceberam do que a manipulação do medo é capaz, apostaria uns trinta centavos que as pandemias se tornarão comuns e tão regulares quanto uma Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos. Do tropeço, pois, fica a lição para as pandemias que se seguirão. Só porque sou um tolo desses aos quais ainda resta uma esperança.
Para nossos antepassados que enfrentaram a Peste Negra ou a Gripe Espanhola, questões envolvendo saúde e liberdade não eram tão importantes. Afinal, bastava um cortezinho mal cicatrizado para você morrer de septicemia. Então a morte era uma indesejada com a qual se convivia. E a liberdade, ah, a liberdade era um fato dado, uma realidade palpável e que se estendia até onde o horizonte alcançava.
Mas para nós, contemporâneos de tantos milagres da medicina, a morte é tão inevitável quanto inadmissível – vai entender! Ela é prova não da fragilidade humana, e sim da incompetência (política ou técnica) alheia. E a liberdade, ah, a liberdade se reduziu a uma ideia que precisamos defender com unhas, dentes, clichês e slogans.
Então acho (só acho) que não é muito sábio legar o poder sobre essas coisas a políticos que reprovaram em Biologia na 6ª série e que mal sabem amarrar o cadarço ou a especialistas para os quais o mundo se resume a uma planilha do Excel e que veem a alma como uma sucessão de reações físico-químicas mais ou menos ao acaso.