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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Notas

Milei não vai vencer as eleições argentinas. E houve fraude

Javier Milei
Javier Milei: "Eu tenho a força!" (Foto: EFE/Franco Trovato Fuoco)

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Há algumas semanas cometi a temeridade de cravar que o direitista-doidão Javier Milei já perdeu as eleições presidenciais na Argentina. E, por isso, apanhei de alguns leitores que disseram que eu estava “gorando” Milei, a direita e, por alguma associação que me escapa, até Bolsonaro. Para piorar, depois que o texto foi publicado, começaram a circular na bolha em que vivo provas incontestáveis de que Milei não só vai ganhar como já ganhou. Viva!

Se insisto em dizer que Milei não vai vencer no domingo (19), porém, não é por teimosia ou análise detida. É mais pela observação de um Zeitgeist (sempre ele) que pode até estar perdendo força. Tomara que esteja. Mas que ainda é bastante poderoso. Além disso, estou gostando de brincar com o perigo de errar e sei que vou passar o domingo roendo as unhas. Acertei? Errei? Acertei? Errei? (Há implícita aí uma ironiazinha com a arrogância jornalística, mas não sei se todo mundo vai captar).

Por fim, gostaria de dizer que o roteiro de chorumelas já está escrito, com direito a cenas pós-créditos: uma vez anunciada a derrota de Milei, terão início as acusações de fraude eleitoral. Não acredito que seja por mal. É que é difícil mesmo aceitar que estejamos rodeados por pessoas que preferem Massa lá e Lula cá. Mas estamos. Ah, se estamos.

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Ferro e fogo
Mudando de assunto, e a dama do tráfico, hein? Luciane Barbosa Farias desfilou todatoda pelos gabinetes dos ministérios da Justiça e da Segurança Pública (!), e dos Direitos Humanos. Foi lá defender pautas que ela, casada com um chefão do Comando Vermelho, jura que não têm nada a ver com proteger bandidos. Então tá. Sobre isso, achei por bem deixar um pouco a revolta de lado e pôr a dama, digo, a Lu Farias (como ela prefere ser chamada) no Arquivo Confidencial do Faustão. Porque se a gente levar tão a ferro e fogo esse governo, a gente enfarta/infarta.

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Sismólogos
Inspirado pela repercussão do caso da dona Dama do Tráfico, escrevi que “sismólogos alertam para a queda iminente do Flávio Dino”. Por que sismólogos? Maldade sua, leitor! Pensei nos sismólogos apenas por serem tecnocratas dignos de darem sua opinião política. Nada mais do que isso. Dino, aliás, que me bloqueou no Twitter. E ainda bem! Porque no dia eu não estava lá muito inspirado para escrever e, no final das contas, o block autoritário e inútil me rendeu um bom texto.

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Discernimento
“(...) Discernimento é bom. O católico não é um robozinho que é dispensado da tarefa de pensar por conta própria sobre o que pode ou não pode fazer só porque existe a doutrina moral. Como costumam dizer alguns amigos queridos, as pessoas (em geral, não só os católicos) andam carentes de orientação e por isso abraçam o primeiro que apareça com uma lista de “pode/não pode” para simplificar as coisas: pode fazer tatuagem? Pode matricular o filho na escola? E se for na escola pública (cheia de professores de esquerda)? Mulher pode trabalhar fora e usar calça comprida? Pode votar em Fulano? A liberdade – não o vale-tudo, mas a liberdade para escolher os vários caminhos na busca do bem – faz parte da essência da catolicidade, e a doutrina moral está aí para nos orientar, não para microgerenciar as nossas vidas”.

& amigos
Tenho que mudar o título desta coluna para “Polzonoff & amigos”. Porque é impossível passar uma semana sem elogiar as boas pessoas que me cercam. A “vítima” da vez hoje é, novamente, Marcio Antonio Campos – cujo único (cacófato horrível, desculpe!) defeito é a falta de acentos no nome. O trecho acima é um primor. Para emoldurar mesmo. E melhora com o complemento: “Mas, como também disse no título da coluna, não estamos todos preparados para essa conversa. Ou ao menos não totalmente preparados. Um discernimento bem feito pressupõe consciências bem formadas, e isso é artigo que anda mal distribuído entre os fiéis e entre o clero, inclusive nos altíssimos escalões da Igreja”.

TENHA DISCERNIMENTO E... CLIQUE  

Sly
O que mais chama a atenção no documentário “Sly”, sobre a vida de Sylvester Stallone, é a ausência de política. É bem possível que algo tenha me escapado, claro. Que eu tenha me distraído com a pipoca bem na hora em que ele disse algo sobre Trump ou Biden. Mas duvido. O que me leva à pergunta: qual foi o último artista brasileiro, seja ele músico, escritor, ator ou pintor, que se preocupou com a beleza e a construção de uma obra (nem que seja uma deprimente “obra sobre si mesmo”), sem que para isso tivesse que recorrer aos chavões e às controvérsias políticas?

Arado torto
Veja o caso do “Itamar do Torto Arado”. O escritor das multidões invisíveis – e que ainda por cima não tolera crítica. Ele acabou de dar uma entrevista na qual diz algo bem bonito, ainda que soe como plágio de Gustavo Corção: “a ficção nos coloca no lugar do outro e ajuda a compreender a sua dor”. Concordo! Mas será que a geração literariamente educada à base de tortos arados (e o próprio Itamar Vieira) é capaz de, por meio da ficção, compreender a dor do cristão branco, de classe média e hétero – que ela vê como um inimigo? Tenho cá minhas dúvidas.

Black Friday da oposição
Em meio ao escândalo da Dama do Tráfico, e na semana em que os brasileiros saíram às ruas (ainda que timidamente), deputados de oposição acharam por bem viajar aos Estados Unidos a fim de, em teoria, “denunciar os abusos cometidos no Brasil”. E lá foram eles se encontrar com o deputado George Santos. Aquele. Você é capaz de entender toda a genialidade política dessa estratégia? Nem eu. Talvez porque não haja nenhuma estratégia. Muito menos genialidade. Ou talvez porque eu seja estúpido demais. Sempre uma possibilidade.

Gol contra
E o Brasil perdeu para a Colômbia nas Eliminatórias da Copa do Mundo 2026. Fiquei sabendo. Não assisti ao jogo. Mas me interessou um comentário feito no Twitter pelo Roger. O do Ultraje a Rigor. Ele disse que antes o Brasil era o país do futebol. E agora até isso nos tiraram. Claro que logo surgiram os espíritos-de-porco da politização de tudo para dizer que antes éramos alienados e, por isso, os políticos nos roubavam. Ué! E por acaso deixamos de ser roubados? Não. Só nos tornamos um país mais triste e amargurado, num estado permanente de indignação e revolta. E sem nem o futebolzinho para nos consolar...

Insalubridade
Meu amigo (posso chamar de amigo, né?) Gabriel de Arruda Castro teve uma semana difícil. Primeiro ele assistiu a um curso avançado de lacração destinado aos funcionários do TSE. O texto está absurdamente bom, mas... coitado. Poucos dias mais tarde, coube ao mesmo Gabriel acompanhar um debate na FENAJ – a Federação Nacional dos Jornalistas. “Debate” é modo de falar, né? Porque o evento foi só uma desculpa para uns aloprados defenderem o Hamas. Novamente, texto excelente, mas... coitado. De qualquer forma, faça o esforço do Gabriel valer a pena. Leia os textos dele.

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Zambelada da semana
Carla Zambelli aprontou. De novo? Sim, de novo. Agora a deputada resolveu “mandar” que uma escola de São Paulo cancelasse a encenação de uma peça de teatro. Tudo por causa do título da montagem: “Catarina e a Arte de Matar Fascistas”. Assim, exibindo uma destreza intelectual, moral e política ímpar, Zambelli conseguiu ao mesmo tempo vestir a carapuça (o “fascista” no título da peça) e associar a direita à censura. Coisa de gênio mesmo!

Se tivesse se dado ao trabalho de consultar o site do dramaturgo português Tiago Ribeiro, Zambelli teria lido que, na peça, “Catarina é incapaz de matar [o fascista] ou recusa-se a fazê-lo. Estala o conflito familiar, acompanhado de várias questões. O que é um fascista? Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?” (grifos meus).

Ou seja, Zambelli está julgando a peça pelo título. Mas... arte, né? Parte-se do pressuposto de que seja sempre coisa de degenerado comunista. Pior, parte-se do pressuposto de que toda a arte se resume a jogar futebol com a cabeça do Bolsonaro ou cortar a cabeça do Trump. Nem passa pela cabeça de Zambelli que um dramaturgo, ainda que esquerdista, possa questionar a degeneração que é considerar o inimigo um “fascista” digno de morte. Ah, quanta falta faz o tal do imaginário...

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