Acabei de receber aqui a notícia de que a atriz Whoopi Goldberg anunciou estar aderindo ao Movimento 4B, que propõe uma greve de sexo durante os quatro anos do mandato de Donald Trump, a fim de conter os “ímpetos totalitários” dos republicanos. O movimento, aliás, nasceu na Coreia do Sul e na origem propunha que as mulheres recusassem sexo com absolutamente todos os homens – simplesmente pelo fato de eles serem homens.
Lisístrata
Adaptado à cultura política do Ocidente, porém, o movimento antissexo e anti-Trump de que fazem parte celebridades como Whoopi Goldberg e... e... e... só Whoopi Goldberg nos remete à peça “Lisístrata”, de Aristófanes. Na comédia clássica escrita e encenada quatro séculos antes de Cristo, as mulheres de Atenas fazem greve de sexo numa tentativa de acabar com o conflito contra Esparta. Quem lidera a iniciativa celibatária é a protofeminista Lisístrata, que dá nome à peça.
Vulverina e Trepásio
Assim como na comédia grega, o Movimento 4B enfrenta alguns desafios, sobretudo a adesão das mulheres. Só não sei se no Movimento 4B também há uma Mirrina (também chamada de Vulverina!), encarregada de seduzir o próprio marido, Cinésias (também chamado de Trepásio!), apenas para deixá-lo na vontade, desesperado mesmo, e, assim, convencê-lo a pôr fim ao conflito entre Atenas e Esparta. E não é que a estratégia dá certo?
Lisistratismo à americana
O detalhe é que as mulheres gregas só são bem-sucedidas depois que as espartanas também aderem à greve de sexo. Eis outro problema, pois, que o Movimento 4B há de enfrentar. Não entendi direito qual o objetivo do lisistratismo à americana, mas diz a lógica que, para dar certo, as mulheres republicanas também deveriam apelar para a desculpa daquela insistente dor de cabeça que desaparece como mágica depois que o marido diz que vai deixar de apoiar o Trump. Não me parece que isso vá acontecer.
Ao sul do Equador
Mas já falei demais dos Estados Unidos, da Grécia Antiga e até da Coreia do Sul. Vamos agora adaptar o feminismo radical de hoje e de 25 séculos atrás ao que acontece aqui, ao sul do Equador. À realidade brasileira. E se as mulheres dos políticos fizessem greve de sexo como forma de pressionar os maridos a, sei lá, serem honestos? Será que dessa forma, na Câmara, a Lei da Anistia sairia do papel? Com a palavra, dona Angela, esposa de Arthur Lira.
Nelson Rubens
Subindo para a Casa Alta, e se o celibato com motivações políticas fosse usado pelas mulheres dos senadores? Será que de repente veríamos o impeachment de Alexandre de Moraes prosperar? Com a palavra, a modelo Norah Lapertosa, que uma reportagem de 2018 me informa ser a namorada de Rodrigo Pacheco. Se não for mais, desculpe, é que não acompanho as fofocas nem tenho vocação para bancar o Nelson Rubens. E espero não ter causado nenhum embaraço.
Esposas supremas!
Melhor! E se as mulheres dos ministros do STF, talvez cansadas de verem os maridos perpetrando tanta injustiça, decidissem usar um cinto de castidade verde e amarelo até que o Brasil estivesse devidamente pacificado? Até que eles parassem com essa desculpinha esfarrapada de que fazem o que fazem em defesa de democracia. Até que o país voltasse à normalidade democrática e elas, as esposas supremas, tivessem paz novamente. #ficaadica
Então
Claro que, no contexto atual, teríamos um problema que Aristófanes não precisou enfrentar: a existência de deputadas, senadoras e uma ministra do STF. E digamos que hoje em dia os papéis dos sexos também estão um tanto confusos, embora continuem claríssimos para mim. Mas é melhor parar o texto por aqui, antes que eu me complique com o Departamento Jurídico. Além disso, me parece que as esposas dos políticos e ministros do STF não estão dispostas a qualquer sacrifício pelo bem do país. Então.
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