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...É um constrangimento, sem dúvida. Mas não é prenúncio da queda nem nada assim. Ah, você por aqui. Desculpe. É que estava conversando com um amigo sobre a carta que o deputado norte-americano Chris Smith enviou a Alexandre de Moraes, e que no fim de semana foi vendida como a nova bomba, a nova bala de prata, o novo agora-vai, o novo tiquetaque que, de uma hora para outra, abracadabra!, há de nos livrar de Lula e desse STF que para poder ser chamado de ruim precisa melhorar muito.
Não acredito nisso. Aliás, não só não acredito como peço para você tomar cuidado. Porque desconfio das intenções dos influencers que querem que eu e você acreditemos no poder revolucionário de uma carta que, vá lá!, tem umas perguntas inteligentes e capciosas o bastante para nos divertir, mas que não representa absolutamente nenhuma ameaça ao poder hoje absoluto de um STF cada vez mais militante. Tão militante, diz aqui o amigo ao lado, que só falta a ministra Cármen Lúcia pintar os cabelos de verde. Se bem que não vou me surpreender muito.
Sobre quem semeia falsas esperanças entre esse grupo que nunca sei se devo chamar de bolsonaristas, conservadores ou direita, me pergunto e aproveito para perguntar a vocês: por que eles fazem isso? Alguém saberia dizer se é por vaidade ou ambição ou mera vontade de bancar o Nostradamus? Ainda mais depois de tantas retaliações e prisões. Teve gente que morreu! Teve gente com a família destruída. Teve gente largando a vida no Brasil para pedir asilo político na Argentina.
Tem gente profundamente deprimida e sem forças para encarar o noticiário. Tem gente que se reconhece incapaz de enfrentar uma realidade que é ruim, que é péssima, que é pouco auspiciosa – mas que é e será a realidade de todos os dias, até que surja um líder forjado na virtude e com um mínimo de capacidade de articulação para extirpar esse câncer institucional para o qual não há, repito, a cura mágica prometida pela pajelança virtual. E é da vulnerabilidade dessas pessoas que os influenciadores, sabe-se lá por quê, se aproveitam.
Não tenhais medo
Mas eu dizia que tem muita gente sofrendo e tem. Tudo porque há quem insista em ficar fomentando esperanças vãs que se baseiam apenas no desejo de, um dia, ver Alexandre de Moraes & Cia. pagar pelos desmandos e pelo sofrimento causado a milhares de pessoas presas ou que de alguma forma sofreram intimidação. Se isso vai acontecer? Quero crer que sim. Mas não será de uma hora para a outra, nem apenas porque Alexandre de Moraes talvez quiçá humm se pá terá seu visto de entrada nos Estados Unidos revogado. Faz-me rir.
Embora simplista, uma explicação possível para a teimosia em alimentar a inegável esperança revolucionária de quem quer apenas um país verdadeiramente democrático e livre está na monetização. Acontece que essa sua esperança aí, toda vez que vira frustração, passa antes por um processo físico-químico que gera uma reação visceral, raivosa e irracional. Reação esta que, de alguma forma, precisa ser aplacada. E é aí que bate aquela vontadezinha de comprar o livro do influencer. Ou de fazer o curso de “direitismo”. Ou de simplesmente fazer um pix para o patriota engajado.
Inveja? Pessimismo? Não e não. Pelo contrário! Admiro aqueles raros que, com honestidade, estão usando todos os meios institucionais possíveis para derrubar o regime alexandrino, tanto aqui quanto no exterior. Bato até palmas para eles. Quer ver? Clap, clap, clap – aí está. E já há tempos sou o primeiro a dizer que o pessimismo não é uma opção. Que ninguém deve perder a esperança. Jamais.
Mas, convenhamos, há esperanças e esperanças. Umas construídas sobre a areia do espírito revolucionário que nos rodeia e que tem um discurso muito muito muito sedutor. Esperanças, portanto, suscetíveis à ação de oportunistas, espertalhões, estelionatários e ladrões da boa-fé alheia. E outras fundadas nas virtudes, entre elas a paciência, a perseverança e a coragem de quem ouve o imperativo “não tenhais medo” – e não tem.
[O vídeo abaixo vai ao ar às 10 horas de quinta, 27 de junho de 2024]