Moraes: “Quando o carteiro chegou,/ E o meu nome gritou,/ Com uma carta na mão…”| Foto: Antonio Augusto/SCO/STF
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...É um constrangimento, sem dúvida. Mas não é prenúncio da queda nem nada assim. Ah, você por aqui. Desculpe. É que estava conversando com um amigo sobre a carta que o deputado norte-americano Chris Smith enviou a Alexandre de Moraes, e que no fim de semana foi vendida como a nova bomba, a nova bala de prata, o novo agora-vai, o novo tiquetaque que, de uma hora para outra, abracadabra!, há de nos livrar de Lula e desse STF que para poder ser chamado de ruim precisa melhorar muito.

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A primeira comunidade lotou. Mas aqui você tem a oportunidade de entrar para a segunda comunidade do Polzonoff no WhatsApp.

Não acredito nisso. Aliás, não só não acredito como peço para você tomar cuidado. Porque desconfio das intenções dos influencers que querem que eu e você acreditemos no poder revolucionário de uma carta que, vá lá!, tem umas perguntas inteligentes e capciosas o bastante para nos divertir, mas que não representa absolutamente nenhuma ameaça ao poder hoje absoluto de um STF cada vez mais militante. Tão militante, diz aqui o amigo ao lado, que só falta a ministra Cármen Lúcia pintar os cabelos de verde. Se bem que não vou me surpreender muito.

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Sobre quem semeia falsas esperanças entre esse grupo que nunca sei se devo chamar de bolsonaristas, conservadores ou direita, me pergunto e aproveito para perguntar a vocês: por que eles fazem isso? Alguém saberia dizer se é por vaidade ou ambição ou mera vontade de bancar o Nostradamus? Ainda mais depois de tantas retaliações e prisões. Teve gente que morreu! Teve gente com a família destruída. Teve gente largando a vida no Brasil para pedir asilo político na Argentina.

Tem gente profundamente deprimida e sem forças para encarar o noticiário. Tem gente que se reconhece incapaz de enfrentar uma realidade que é ruim, que é péssima, que é pouco auspiciosa – mas que é e será a realidade de todos os dias, até que surja um líder forjado na virtude e com um mínimo de capacidade de articulação para extirpar esse câncer institucional para o qual não há, repito, a cura mágica prometida pela pajelança virtual. E é da vulnerabilidade dessas pessoas que os influenciadores, sabe-se lá por quê, se aproveitam.

Não tenhais medo

Mas eu dizia que tem muita gente sofrendo e tem. Tudo porque há quem insista em ficar fomentando esperanças vãs que se baseiam apenas no desejo de, um dia, ver Alexandre de Moraes & Cia. pagar pelos desmandos e pelo sofrimento causado a milhares de pessoas presas ou que de alguma forma sofreram intimidação. Se isso vai acontecer? Quero crer que sim. Mas não será de uma hora para a outra, nem apenas porque Alexandre de Moraes talvez quiçá humm se pá terá seu visto de entrada nos Estados Unidos revogado. Faz-me rir.

Embora simplista, uma explicação possível para a teimosia em alimentar a inegável esperança revolucionária de quem quer apenas um país verdadeiramente democrático e livre está na monetização. Acontece que essa sua esperança aí, toda vez que vira frustração, passa antes por um processo físico-químico que gera uma reação visceral, raivosa e irracional. Reação esta que, de alguma forma, precisa ser aplacada. E é aí que bate aquela vontadezinha de comprar o livro do influencer. Ou de fazer o curso de “direitismo”. Ou de simplesmente fazer um pix para o patriota engajado.

Inveja? Pessimismo? Não e não. Pelo contrário! Admiro aqueles raros que, com honestidade, estão usando todos os meios institucionais possíveis para derrubar o regime alexandrino, tanto aqui quanto no exterior. Bato até palmas para eles. Quer ver? Clap, clap, clap – aí está. E já há tempos sou o primeiro a dizer que o pessimismo não é uma opção. Que ninguém deve perder a esperança. Jamais.

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Mas, convenhamos, há esperanças e esperanças. Umas construídas sobre a areia do espírito revolucionário que nos rodeia e que tem um discurso muito muito muito sedutor. Esperanças, portanto, suscetíveis à ação de oportunistas, espertalhões, estelionatários e ladrões da boa-fé alheia. E outras fundadas nas virtudes, entre elas a paciência, a perseverança e a coragem de quem ouve o imperativo “não tenhais medo” – e não tem.

[O vídeo abaixo vai ao ar às 10 horas de quinta, 27 de junho de 2024]