A declaração do senador Flávio Bolsonaro, que se posicionou contra o impeachment de Alexandre de Moraes, não me surpreendeu. Mas quase caí de costas ao ver a lealdade de parte da direita ao senador 01. Uma lealdade expressa com os mesmos argumentos, ainda por cima! Para essas pessoas, o impeachment de Alexandre de Moraes seria indesejável porque Lula poderia indicar alguém ainda pior. Ou porque “Isso não vai resolver todos os problemas do país”. Ou ainda porque o momento é de diálogo. Etc.
Diante desses argumentos, na verdade clichês politicamente míopes (ou covardes mesmo), só me restou revirá-los de cabeça para baixo, a fim de encontrar neles qualquer resquício de verdade. Sei lá. Vai que o cara tem razão e o burrão sou eu. É sempre uma possibilidade. Depois de meia hora de reflexão, contudo, cheguei a uma conclusão inequívoca. A mesma que a sua, leitor: o impeachment de Alexandre de Moraes só faria bem ao Brasil. Como está no título.
Mas péra aí! Será que eu posso dizer essas coisas? Posso ao menos sonhar? Ufa. Acho que posso, porque impeachment de ministro do Supremo Tribunal Federal é algo previsto na Constituição. E aqui está o primeiro efeito positivo de um hipotético impeachment de Alexandre de Moraes: a Constituição voltaria a ser mais do que um livro mal escrito, mal editado e mal encadernado – e que nem de calço para a mesa do boteco serve mais. Voltaria a ser “o conjunto das leis fundamentais que regem a vida de uma nação” – como define o dicionário.
Olha só que maravilha: com Alexandre de Moraes fora do STF, eu não precisaria titubear em escrever coisas como “o impeachment de Alexandre de Moraes só faria bem ao Brasil”. E se titubeio é porque a liberdade para expressar essa opinião me é apenas semigarantida. Ou seja, só posso falar isso na medida em que uma pessoa, Alexandre de Moraes, considerar que posso. Senão, tome inquérito ilegal no lombo do cidadão! Mas vamos agora ao ponto mais controverso deste texto.
Ponto mais controverso do texto
Os petistas deveriam ser os primeiros a apoiar o impeachment de Alexandre de Moraes. Porque isso seria bom até mesmo para o governo Lula. Aliás, já que estou sendo ousado, diria que o impeachment do Xandão seria muito bom para o desastroso governo Lula. Primeiro porque manteria o país entretido durante uns bons seis meses. Ao longo desse tempo, Lula, Janja, Haddad e toda a turma de incompetentes poderiam pintar e bordar sem serem importunados. Em segundo lugar, o impeachment de Alexandre de Moraes tiraria Lula da coleira. Ouch!
O impeachment de Alexandre de Moraes contribuiria ainda para a popularidade daquele-que-não-pode-ser-chamado-de-ladrão. Afinal, seria um momento tão alegre que acredito que muita gente diria que o governo Lula pode até ser uma desgraça, mas pelo menos nos livrou de uma das figuras mais detestáveis do Brasil, de acordo com o DataPolzo. Além do mais, é certo que figuras da esquerda como Gleisi Hoffmann, Waldir Damous, Randolfe Rodrigues e Jean Wyllys ficariam felizes. Eles que, você há de lembrar, xingavam Alexandre de Moraes de tudo e mais um pouco quando lhes era conveniente e ainda vigorava no Brasil uma tal de liberdade de expressão. Já ouviram falar nela?
E o Senado, hein? Olha, vou te contar: se Rodrigo Pacheco levasse a cabo um processo de impeachment contra Alexandre de Moraes, eu era bem capaz de transferir meu título para Minas, só para poder votar no galalau que já chamei muitas vezes de parvo, mas agora não. Agora vou chamar de corajoso, inteligentíssimo, gênio da raça mesmo. O homem que salvou a democracia. O homem que livrou o Brasil da tirania. O homem que derrotou a juristocracia, a ditadura de toga, o alexandrismo psicótico – enfim, chamem como quiser. Só tenham em mente que estou exagerando.
Maior beneficiário
Mas o maior beneficiário do impeachment de Alexandre de Moraes seria mesmo o Supremo Tribunal Federal. É, a senhora mesma, dona Cármen Lúcia. Sim, tô falando do senhor também, Barroso. Ei, ei, ei, volta cá, Dias Toffoli. Isso te interessa também. Gilmar, Fux, Fachin, Zanin, Dino, Nunes Marques. Esqueci de alguém? Pode sair de trás da porta, Mendonça. Pode parar de tremer, homem! Porque o impeachment de Alexandre de Moraes também lhe diz respeito.
É certo que os ministros do STF perderiam muito poder. Gilmar Mendes e Barroso, por exemplo, provavelmente teriam de abandonar as carreiras políticas que eles exercem em paralelo. Dias Toffoli teria de voltar a ser apenas um coadjuvante e tal. Mas e a paz de espírito? Imagina! Só de não precisar trocar a consciência pelo esprit de corps que hoje norteia o funcionamento da corte... E, com alguma sorte, ainda podem continuar se esbaldando com a lagosta paga pelo contribuinte.
As vantagens não param por aí! Sendo bem otimista e pressupondo que, no caso de um impeachment de Alexandre de Moraes, os ministros do STF haveriam de sossegar o facho, eles não precisariam mais viver encastelados, andando em carros blindados e cercados por seguranças. Cármen Lúcia poderia voltar a ir à feira e Dino, ao McDonald’s. Gilmar Mendes poderia voltar a tomar seu cafezinho sossegado em Lisboa. Fux poderia voltar a tocar guitarra e Barroso poderia voltar a fazer o que quer que ele faça quando ninguém está olhando.
Além disso, com os ministros contidos sob a ameaça de outros impeachments, é possível que o STF voltasse, aos poucos, bem devagar, é devagar, é devagar, devagarinho, a ser uma instituição respeitada. E talvez (talvez!) os historiadores do futuro poupassem a formação atual do Supremo da vergonha de serem chamados de “o pior STF de todos os tempos”. Hashtag #ficaadica.
E tem mais!
Não é só isso. O impeachment do ministro Alexandre de Moraes seria vantajoso até para ele, Alexandre de Moraes, homem tão cioso de sua imagem e que hoje em dia evidentemente sofre o fardo de proteger nossa frágil democracia. Sem contar a humilhação pública e cotidiana dos muitos memes. Uma vez impichado, Alexandre de Moraes voltaria a ser apenas um ponto de referência. Tipo: “O banheiro? Tem uma portinhola ali depois do careca”. Acontece comigo o tempo todo.
Ou poderia se dedicar ao jiu-jitsu e a dar aulas. Aliás, parabéns ao por-enquanto-ministro. Ter média 9,8 em concurso para professor da USP não é para qualquer um. Ou ainda (olha só a ideia, futuro ex-ministro!) poderia escrever uma autobiografia contando como o Alexandre de Moraes do “se não quer ser criticado, não entre para a vida pública” se transformou nesse monstrengo censor que temos hoje. Eu compraria.
De quebra nós, os brasileiros comuns e ordinários, sairíamos às ruas não para protestar inutilmente. Até porque isso já está cansando. Nós sairíamos às ruas para celebrar o impeachment de Alexandre de Moraes. Os presos políticos seriam libertados. O PIB do país aumentaria 10%, impulsionado pela produção e venda de rojões, bem como pelo aumento da produtividade do trabalhador feliz e livre. Se duvidar, até o Temer subiria no trio elétrico para comemorar o dia em que, finalmente, nos livramos desse encosto supremo. Com todo o respeito, é claro.
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