Não vou fazer publicidade aqui, claro, mas vi que uns escritores por aí se reuniram para escrever uma coletânea de contos de Natal. Na propaganda, um amigo que faz parte do grupo diz que o Natal é o feriado religioso mais amado e odiado. Uma coisa leva a outra e, quando dou por mim, me pego tentando me lembrar de um só produto cultural antinatalino que tenha se tornado clássico.
Meu argumento, aqui, é o de que avacalhar a fé alheia não é uma boa estratégia para quem almeja a notoriedade. Ou, vá lá, a imortalidade. Digo, produtos culturais anticristãos como, digamos, esse livro que mencionei e o especial daquele grupo que um dia já foi de humor podem até render repercussão e dinheiro aos envolvidos. E pode até fazer a fama deles por um tempo. Mas é improvável que ecoem pela Eternidade.
E veja só que coisa interessante: o Cristianismo não rejeita a crítica bem-humorada à forma como as pessoas celebram o Natal. Há várias comédias que exploram esse filão – que é fiel à melhor tradição do humor, a da autocrítica. O problema, me parece, é quando o humor debocha de valores caros às pessoas, como a busca pela redenção e a esperança.
Antes de ficar indignado com esse tipo de estupidez que, ao que parece, virou tradição para uma turma que se considera iconoclasta, talvez valha mais a pena puxar uma cadeira e, de longe e em silêncio misericordioso, contemplar a tentativa desesperada e desde já fracassada que essas pobres almas empreendem para subjugar o tempo e a mortalidade.
Lata de lixo
Se lá no primeiro parágrafo uma coisa levou a outra, o que impede de uma coisa levar a outra de novo? Nada. E foi assim que me vi refletindo sobre um dilema jornalístico cotidiano: falar ou não de personagens que só são relevantes porque... Por que mesmo? Ah, sim: porque sempre há alguém para falar deles.
Este ano, não sei se vocês perceberam, optei por não falar do especial de Natal daquele grupo lá. E acho que fiz certo, mas também acho que fiz errado. Sempre que opto pelo silêncio, me vem à mente aquela frase do Martim Luther King sobre “o silêncio dos bons”. Frase horrível, aliás. Uma frase que ignora o importante papel do homem comum, aquele que age em silêncio para fazer do seu entorno um mundo melhor.
Fico me sentindo, sei lá, cúmplice. Como se meu silêncio implicasse concordância tácita. Como se houvesse uma espécie de Quartel-General da Estupidez onde, ao redor de uma mesa redonda quadrada, esses vilões artísticos se reunissem para rebater as críticas e celebrar o silêncio dos que não veem sentido em criticar algo destinado à lata de lixo.
É um dilema que bate à porta do cronista quase todos os dias, vendendo dúvidas e dramas que insisto em comprar e que, sem utilidade real, vão se acumulando na despensa do intelecto. Afinal, se não reconheço (e não reconheço) a importância do discurso de Greta Thunberg, Jean Wyllys, Jones Manoel, Márcia Tiburi e Felipe Neto, por que haveria de consumir essa gororoba toda na esperança – infundada! – de obter um resultado outro que não o determinado pelo nobre trabalho da flora intestinal?
O problema é que, sem contestação, dá a impressão de que esses arbustos mirrados e espinhentos darão frutos amargos e venenosos. E que cabe a alguém ir lá e podá-los. Não sem um bocado de vergonha pela arrogância inerente a essa ideia. Afinal, quem sou eu (quem somos nós?!) para dizer que Fulano ou Sicrano deve vestir urgentemente uma camisa-de-força?
O resultado é que fico (ficamos?) sempre indeciso entre o silêncio (quase escrevi “silêncio ensurdecedor aqui, mas me contive) e a propagação de ideias lunáticas de personalidades idem, de certa forma chancelando essa mediocridade e conferindo a ela status de “voz no debate público”.
E como uma coisa leva a outra que leva a outra que leva a outra, eis que chego aqui ao ponto final, sem resposta para o dilema. O que me leva a crer que, aqui e ali, não tem jeito: acabarei cometendo o erro de ampliar o ruído dos tolos na esperança, um tanto quanto sem sentido, de que eles percebam o ridículo do espetáculo.
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