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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

O supremo amigo secreto do STF (parte 2 – quem pegou quem)

Amigo secreto do STF? Não quero nem ver" (Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

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Os ministros só não contavam com a minha astúcia de repórter investigativo. Usando de uma tecnologia intrincada que não vou explicar aqui para não entediar o leitor, descobri quem pegou quem no amigo secreto do Supremo. Indo mais além, e dispondo de instrumentos mediúnicos de reportagem, descobri que presentes os ministros pretendiam dar para seus amigos secretos.

Começando por Kassio Nunes. Com suas mãozinhas lépidas e fagueiras, o ministro-calouro tirou do saquinho o nome de ninguém menos do que o decano da corte, ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. Imediatamente ele começou a pensar no que falaria durante aquele discursinho que antecede todas as revelações. “Meu amigo secreto é sempre voto vencido”, pensou. Não, óbvio demais. “O primo do meu amigo secreto gosta de Ferraris”. Melhor.

Desconfiado, vendo eustáquios por toda parte, Alexandre de Moraes olhou para um lado e para o outro antes de abrir o papelzinho bem rente ao rosto. Depois ficou dois minutos em silêncio, memorizando o nome, antes de bancar o vilão de história em quadrinhos e... comer o papelzinho. Tanto esforço para nada, porque meus métodos infalíveis me permitiram ver que Alexandre de Moraes pegou o ministro Edson Fachin.

O próprio Fachin veio devagar, devagar, devagarinho sortear seu amigo secreto. Depois de passar anos em Curitiba, Fachin adquiriu esse pavor semipatológico de amigos secretos. As brincadeirinhas passivo-agressivas e as indiretas na hora da revelação. O ar insuportável de informalidade. O sorriso que se abre amarelíssimo ao receber um presente ruim. Respirando fundo só de imaginar ter que passar algumas horas convivendo com seus pares, fingindo intimidade, ele curitibanamente abriu o papel para descobrir que seu amigo secreto era Gilmar Mendes.

Todo cheio de si, antes de sortear seu amigo secreto o ministro Luís Roberto Barroso sugeriu, em latim sem qualquer vestígio de sotaque, que aquele amicus secretus bem que deveria virar lei. “Desculpe, pessoal, mas essa coisa de legislar é mais forte do que eu”, disse ele. Que tirou do saquinho o nome do seu semixará Luiz Fux.

Toda tímida e muito educada, a ministra Rosa Weber pediu licencinha e, discretamente, sorteou seu amigo secreto. Que, para a felicidade do cronista travestido de repórter investigativo/mediúnico, é uma amiga. Afinal, imagine as acusações de machismo, sexismo ou outro ismo que nem ouso especular se o presente dado por um homem às ministras fosse algo remotamente problematizável por um leitor menos generoso?

Em seguida veio ele, o presidente do STF com os cabelos mais pretos do que a asa da graúna, ministro Luiz Fux (pronuncia-se Fuquish). Com aquele seu passo malemolente de carioca da gema, ele abriu caminho entre seus colegas, enquanto um ajudante-de-ordens anunciava “Presidente passando! Presidente passando!” Ao abrir o papelzinho e ler o nome de Dias Toffoli, ele soltou um enigmático “meeermão!”.

Dias Toffoli, que no dia do sorteio não estava lá de muito bom humor, foi bem objetivo. Enfiou a mão no saquinho, tirou o nome do seu amigo secreto e abriu um sorriso discreto, mas não o suficiente. Qualquer um que visse aquela faísca de felicidade nos olhos do ministro deduziria que ele tinha pegado Alexandre de Moraes. Dito e feito.

Finalmente chegou a vez dela, Cármen Lúcia. Que até pensou em reclamar da ordem escolhida e dizer que anos de patriarcado tinham imposto essa coisa de senioridade, o que configurava um inequívoco privilégio masculino, mais um entre milhões, aliás. Mas se distraiu com uma música do Caetano que entrou sorrateiramente em sua cabeça e deixou para lá. E, como sempre acontece nesse tipo de sorteio, pegou a ministra Rosa Weber.

Em seguida veio o ministro Ricardo Lewandowski. Que pegou ele mesmo. Algo que também sempre acontece nesses sorteios. Ao ler o próprio nome, com aquela abundância de consoantes, ele ficou meio desnorteado. Pensou, pensou e achou melhor perguntar aos “eminentes pares” o que fazer. O decano Marco Aurélio veio em socorro do nobre colega. Pegou o papelzinho, dobrou-o novamente e o devolveu ao saquinho. “Pronto, agora é só sortear outro”, disse. Ricardo Lewandowski suspirou aliviado ao tirar outro papelzinho e, dessa vez, encontrar nele o nome do ministro Kassio Nunes.

Com a habitual carranca, o ministro Gilmar Mendes chegou esbaforido. “Desculpe, pessoal. Tive que assinar uma pilha assim [faz gesto com as mãos] de habeas corpus. Tô até com câimbra nos dedos”, explicou. “Se ao menos certos ministros prendessem menos”, provocou ele, dando uma piscadinha para Fachin, que fez que não percebeu a indireta. Gilmar Mendes pegou ninguém menos do que o ministro Luís Roberto Barroso. E, na hora, pensei o mesmo que você: treta!

Por fim, coube a Marco Aurélio sortear o último pedacinho de papel. “Uma das vantagens de ser decanoh... é ter a honrah... de tirah... o último papellll”, disse ele com sua prosódia peculiar. Observando-o desdobrar o papellllllll e menear a cabeça afirmativamente, os outros dez ministros pensavam em uníssono silencioso: “Tomara que não seja eu, tomara que não seja eu”. Inclusive o ministro Ricardo Lewandowski, por acaso o escolhido.

[CONTINUA...]

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