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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

O supremo amigo secreto do STF (parte 3 e final – a revelação)

Amigo secreto do STF? Não quero nem ver" (Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)

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Chegou o dia da revelação. Todos se sentaram em volta de uma mesa farta de lagostas e os melhores espumantes que o Tesouro é capaz de comprar. “Não tem escargot?”, perguntou o ministro Dias Toffoli em meio à balbúrdia típica de Natal (ou Hanukkah). “Tô viciado nisso!”, completou, mas ninguém lhe deu ouvidos.

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“Vamos começar? Vamos começar?”, perguntou uma ansiosa Rosa Weber. “Está ficando tarde”. Cármen Lúcia concordou e já logo emendou o “Quem começa? Quem começa?”. Lewandowski aconselhou uma consulta ao Regimento, ao que Fux rexpondeu: “Deixa disso, mermão! Sou presidente aqui. Xá comigo!”. Vênia vai, vênia vem, ficou decidido que a revelação começaria, novamente, pelo caçula da turma, e depois seguiria a ordem natural das revelações de amigo secreto. “Vai que é tua, Kassio Nunes”, gritou alguém lá do fundo, não deu para ver direito, mas acho que foi o ministro Barroso.

Kassio Nunes se levantou. Pigarreou. “Meu amigo secreto é...” começou ele. Todos esperavam por uma daquelas descrições passivo-agressivas, mas Nunes, inexperiente nessa coisa de supremo amigo secreto, entregou o mistério logo de cara, ao dizer que seu amigo secreto andava ouvindo muito rap. Para o ministro Marco Aurélio se encantar ainda mais com a própria imagem, ele lhe deu um par de espelhos venezianos do século XIX que ele viu em promoção na Sotheby’s.

Marco Aurélio ficou em silêncio. Abriu aquele semissorriso que o brasileiro ainda está tentando identificar se é de escárnio, de felicidade genuína ou só um tique. “Meu amigo secretah...” começou ele, “é um dos poucos que ainda fala presidentah”. Todo mundo olhou para Lewandowski, que ainda tentava entender a referência. Ao dar por si, Lewandowski se aproximou para receber um lindo quebra-cabeça de 50 peças com a estrela do PT.

Lewandowski pediu desculpas. Disse que não era bom com essa coisa de fazer piadinha. E, além do mais, seu amigo secreto era novo na turma... Todos olharam imediatamente para Kassio Nunes, que se levantou para receber um insosso cheque de R$10 mil. “Desculpe, é que não te conheço direito”, disse Lewandowski, que está até agora tentando entender como os colegas adivinharam tão rápido seu amigo secreto.

E agora? A sequência dos amigos secretos tinha chegado ao fim. Alexandre de Moraes, que estava amuado num canto, chamou para si a responsabilidade de dar continuidade à brincadeira. “Meu amigo secreto anda triste, agora que a Lava Jato saiu de moda”, disse ele. Todos olharam para Gilmar Mendes. Um ou outro olhou para Fux. No íntimo, contudo, Edson Fachin sabia que o colega falava dele. Ao exibir a todos o presente (um daqueles livrões de arte da Taschen com fotos de militantes do MST retratados por Sebastião Salgado e autografado por João Pedro Stédile), Fachin comentou: “Anda sumido o Stédile, hein?”

Edson Fachin levou as mãos ao bigodinho à la Tavares de Nelson Rodrigues. Ele estava nervoso não pelo que ia falar, e sim por causa do presente que comprara para Gilmar Mendes: um novíssimo e utilíssimo Habeas Corpus Automator. “Isso é altíssima tecnologia, mas não sei se vai funcionar”, disse ele quase se desculpando ao ver Gilmar Mendes se aproximar com os lábios curvados para baixo.

“Palhaçada”, sussurrou Gilmar Mendes ao pegar o presente tabajara de Fachin e, sem delongas, continuar com a brincadeira. “Meu amigo secreto não gosta muito de mim”, disse. “Mas eu gosto muito dele”, mentiu. Para Luís Roberto Barroso, ele comprou a recém-lançada biografia de Barack Obama. “Para você aprender progressismo com quem entende do negócio”, disse, não sem uma pontinha de maldade.

A tensão se abateu sobre a festa. Mas, como sempre, Mendes e Barroso trocaram apenas rosnados inofensivos. Continuando, porque o texto já está longo demais, Barroso contou a todos que tinha comprado para seu amigo secreto um quimono de jiu-jitsu costurado à mão pelo próprio Hélio Gracie, mas que, à luz dos acontecimentos recentes, achou melhor dar a Luiz Fux um exemplar das obras completas de Carlos Drummond de Andrade.

“Na condição de presidente, vou me abster de delongas”, disse Fux, já se delongando, para surpreender a todos dizendo que seu amigo secreto era “o amigo do amigo de meu pai”. Dias Toffoli não gostou muito da brincadeira, mas tampouco recusou o presente: xxx xxxxxxxxxx xx xxxxxxxx xxxxxx (trecho censurado). Aproveitando o embalo desses meus últimos parágrafos escritos apressadamente, Toffoli revelou que seu amigo secreto era ninguém menos do que Alexandre de Moraes. Que ganhou um inquérito secreto novinho em folha para usar contra os “inimigos da honra” em 2021.

Novamente a brincadeira chegou a um beco sem saída. “Minha vez, minha vez!”, gritou Rosa Weber, já se levantando e chamando Cármen Lúcia para perto de si. As duas dançariam ao som de Alcione, se houvesse música no recinto. “Que bom pegar você". O cronista agradece também. "E é só uma lembrancinha, viu?”, disse ela, entregando à colega um embrulho daquela loja cujo slogan é “De mulher para mulher”.

Sem se afastar, Cármen Lúcia percebeu que, coincidentemente, só restava a ela presentear Rosa Weber. Numa coincidência maior ainda, ela também presenteou a colega com um embrulho daquela loja cujo slogan é “De mulher para mulher”. Ao abraçar Rosa Weber, contudo, Carminha lhe confidenciou no ouvido: “Não foi coincidência coisa nenhuma. É que o cronista não quer ser cancelado. Muito menos preso”.

[FIM]

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