“No que é que isso tudo vai dar?”, perguntei na tarde de quarta-feira (6) a um amigo. Me referia, obviamente, à decisão do ministro Dias Toffoli, que não só anulou as provas obtidas por meio do acordo de delação da Odebrecht como também disse que a prisão de Lula foi uma “armação”. A pergunta, a princípio retórica, escondia um pedido de ajuda. Queria ouvir do amigo que tudo vai dar certo. Que tudo vai ficar bem.
Mas o amigo não tinha esperanças de sobra para me emprestar e eu fiquei ali, ensimesmado, remoendo a história toda numa indignação assustada e impotente. Uma indignação parecida com essa daí que você está sentindo. Que muita gente à nossa volta está sentindo. E foi então que, por milagre, ouvi sair da minha boca o primeiro “obrigado” ao excelentíssimo ministro José Antonio Dias Toffoli.
Não estamos sozinhos
Porque percebi que não estou sozinho. Não estamos. Olhe em volta! Ainda somos alguns muitos milhões capazes de nos indignar. Ainda somos centenas de milhares que lemos o editorial da Gazeta do Povo e nos perguntamos como é possível que um homúnculo desses atropele a lógica jurídica e as noções mais básicas de certo e errado apenas para bajular Lula. Por sinal, outro homúnculo. E como é possível que atos de homúnculos encontrem eco em tantas almas deformadas pela ambição ideológica?!
Nossa indignação é impotente? Sim, é. Nos altos escalões do poder, não há ninguém do nosso lado e a covardia de quem poderia fazer alguma coisa, mas prefere se omitir, só faz aumentar nossa indignação. Mas não tem problema. Porque não estamos sozinhos. E, para melhorar, com algum esforço ainda somos capazes de rir do ar de vitória dos cínicos e maquiavélicos. Ou não somos? Bom, eu sou. Hahahahahahhaaha.
Mefistófeles de Garanhuns
Foi, aliás, rindo deles que deixei escapar um segundo agradecimento. Porque graças ao ministro Dias Toffoli pude ver como rastejam os militantes esquerdistas, no STF e fora dele. Pude ver toda indecência a que essa gente tem de se sujeitar em troca de um poderzinho transitório e mundano. Em troca de rapapés, banquetes e a ilusão da imortalidade. Quantos reis já não viraram pó depois de se afogarem nesse delírio?
Indiretamente, a decisão e as palavras de Toffoli me fizeram perceber que, ao longo de 45 anos de muitas tentações e alguns deslizes, fui poupado desse pacto. Não vendi nem vendo minha alma ao Mefistófeles de Garanhuns ou a qualquer idolozinho político em troca de aceitação ou da promessa enganadora de que serei como Deus. Dessa tentação fui protegido, ao contrário dos Toffolis da vida, que infelizmente são muitos. São legião. Mas não são todos.
Falsas ambiguidades
Um terceiro obrigado eu o sussurrei de madrugada, ao pensar neste texto. Um agradecimento pela oportunidade que Toffoli me deu, está me dando, de falar com você (e você e você). De tentar apaziguar a sua raiva. De sugerir que você se distraia da indignação política por um instante e se concentre no que está aí ao seu lado. Na esposa e nos filhos. Nos colegas de trabalho. Nos amigos que a cada rodada fazem um brinde à amizade. Na Catota que está aqui no meu colo, ronronando como se não houvesse amanhã e ouvindo o martelar do teclado como se fosse uma sinfonia.
Sei que tudo parece tenebroso agora. Assustador. Eles estão por cima da carne seca, como se diz. Ou se dizia, sei lá. O espírito do tempo é um espírito ressentido e vingativo. Mas lembre-se de que nada o obriga a aceitar essa inversão de valores. Nada o obriga a ir contra a sua consciência. Agradeça, pois, ao ministro Dias Toffoli, por escancarar o mal e, de certa forma, tornar nossas escolhas mais claras e fáceis. Obrigado por mais isso, ministro: por dar um basta nessa era de imposturas e falsas ambiguidades.
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